São Paulo, sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

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John Kerry declara apoio a Obama

Alianças começam a se formar; democrata que perdeu eleição em 2004 para Bush tem pouco peso no partido

Do lado dos republicanos, divisões internas dificultam visualização de coligações; Mitt Romney é o menos popular, segundo analista

DA REDAÇÃO

Começaram a se delinear com mais evidência ontem as alianças políticas da disputadíssima corrida democrata pela indicação à eleição presidencial de novembro nos EUA: o senador John Kerry, 64, declarou seu apoio ao colega Barack Obama, 46. "Mais do que qualquer um, Obama pode ajudar nosso país a virar a página e levar a América adiante ao acabar com as divisões que enfrentamos", disse Kerry na Carolina do Sul, que terá a primária do partido no próximo dia 26.
O peso político do apoio do senador entre os democratas, porém, é pequeno. "Kerry sempre foi um solitário dentro do partido e não leva consigo um grupo forte na aliança com Obama", afirmou à Folha o analista político Alexander Keyssar, da Universidade Harvard. A única vantagem do apoio seria, para ele, as décadas de experiência de Kerry. "Ter políticos tradicionais a seu lado ajuda Obama a minar as críticas a sua inexperiência."
Os assistentes de Kerry afirmam ter um mailing de 3 milhões de simpatizantes, para os quais o senador enviaria mensagens pró-Obama. Já na tarde de ontem, os e-mails começaram a ser disparados -chegando, inclusive, à Folha.
Na carta, Kerry pede apoio e diz que "o próximo presidente dos EUA pode ser, deve ser e será Barack Obama".
Dadas as relações distantes do senador com os dois outros principais concorrentes -Hillary Clinton e John Edwards, que foi vice de Kerry nas presidenciais de 2004-, a declaração não surpreende.
Segundo Keyssar, é tudo "uma questão de grupos políticos". "Kerry nunca se deu bem com os Clinton, como aliás é o caso de muita gente no Partido Democrata." E Edwards, de acordo com o "New York Times", não tinha uma relação próxima a Kerry nem mesmo quando eles foram derrotados por George W. Bush e Dick Cheney há quase quatro anos.

Vantagens
Mesmo com pouca influência, Obama poderá ser mais beneficiado por novas alianças do que Hillary, que já é vista como a candidata do establishment democrata. "Essa característica nem sempre pesa a favor da senadora, como foi o caso em Iowa", diz Keyssar. Lá, apesar de ter a seu lado políticos tradicionais, ela perdeu o "caucus" (assembléia de eleitores) para Obama. "A disputa se tornou polarizada entre o establishment e os políticos novos, que simbolizam a mudança, apesar de Hillary e Obama terem posições muito parecidas", afirma.
Por outro lado, o relativamente curto tempo de Obama na política pode facilitar a costura de acordos. "Ele não criou a oposição e os inimigos que vêm quando se está na política há muito tempo", disse Tom Daschle, ex-líder da maioria democrata no Senado, citado pelo "Times".
Para Keyssar, nenhum apoio democrata será decisivo no cenário nacional. "Os democratas não têm um partido, têm um grupo fragmentado de coalizões em torno de candidatos. Al Gore provavelmente é quem tem o maior grupo de seguidores e de quem o apoio seria mais significativo". E ele estima que Gore, vice de Bill Clinton em seus anos de Casa Branca, não apoiaria Hillary.

Republicanos
Do lado republicano, a total divisão do cenário torna ainda mais difícil estimar alianças. Segundo Keyssar, quem teria mais dificuldades para conseguir apoios é o ex-governador de Massachusetts Mitt Romney, "do qual simplesmente ninguém gosta".
O analista afirma que alianças republicanas podem ser mais importantes localmente. Nomes como o do governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do atual presidente, têm peso.
Keyssar diz que seria "um movimento interessante se [o ex-pastor batista] Mike Huckabee e John McCain se unissem". "McCain tem problemas com os evangélicos, e isso poderia ajudá-lo."
Apoios à parte, no momento atual da campanha os republicanos parecem mais ansiosos para disputar a eleição de novembro com Hillary do que com Obama (que tem menos rejeição), sugere o "Times". Ao menos nesse ponto, estão todos do mesmo lado. (ANDREA MURTA)


Com Associated Press


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