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John Kerry declara apoio a Obama
Alianças começam a se formar; democrata que perdeu eleição em 2004 para Bush tem pouco peso no partido
Do lado dos republicanos, divisões internas dificultam visualização de coligações; Mitt Romney é o menos popular, segundo analista
DA REDAÇÃO
Começaram a se delinear
com mais evidência ontem as
alianças políticas da disputadíssima corrida democrata pela
indicação à eleição presidencial
de novembro nos EUA: o senador John Kerry, 64, declarou
seu apoio ao colega Barack
Obama, 46. "Mais do que qualquer um, Obama pode ajudar
nosso país a virar a página e levar a América adiante ao acabar
com as divisões que enfrentamos", disse Kerry na Carolina
do Sul, que terá a primária do
partido no próximo dia 26.
O peso político do apoio do
senador entre os democratas,
porém, é pequeno. "Kerry sempre foi um solitário dentro do
partido e não leva consigo um
grupo forte na aliança com
Obama", afirmou à Folha o
analista político Alexander
Keyssar, da Universidade Harvard. A única vantagem do
apoio seria, para ele, as décadas
de experiência de Kerry. "Ter
políticos tradicionais a seu lado
ajuda Obama a minar as críticas a sua inexperiência."
Os assistentes de Kerry afirmam ter um mailing de 3 milhões de simpatizantes, para os
quais o senador enviaria mensagens pró-Obama. Já na tarde
de ontem, os e-mails começaram a ser disparados -chegando, inclusive, à Folha.
Na carta, Kerry pede apoio e
diz que "o próximo presidente
dos EUA pode ser, deve ser e
será Barack Obama".
Dadas as relações distantes
do senador com os dois outros
principais concorrentes -Hillary Clinton e John Edwards,
que foi vice de Kerry nas presidenciais de 2004-, a declaração não surpreende.
Segundo Keyssar, é tudo
"uma questão de grupos políticos". "Kerry nunca se deu bem
com os Clinton, como aliás é o
caso de muita gente no Partido
Democrata." E Edwards, de
acordo com o "New York Times", não tinha uma relação
próxima a Kerry nem mesmo
quando eles foram derrotados
por George W. Bush e Dick
Cheney há quase quatro anos.
Vantagens
Mesmo com pouca influência, Obama poderá ser mais beneficiado por novas alianças do
que Hillary, que já é vista como
a candidata do establishment
democrata. "Essa característica
nem sempre pesa a favor da senadora, como foi o caso em Iowa", diz Keyssar. Lá, apesar de
ter a seu lado políticos tradicionais, ela perdeu o "caucus" (assembléia de eleitores) para
Obama. "A disputa se tornou
polarizada entre o establishment e os políticos novos, que
simbolizam a mudança, apesar
de Hillary e Obama terem posições muito parecidas", afirma.
Por outro lado, o relativamente curto tempo de Obama
na política pode facilitar a costura de acordos. "Ele não criou
a oposição e os inimigos que
vêm quando se está na política
há muito tempo", disse Tom
Daschle, ex-líder da maioria
democrata no Senado, citado
pelo "Times".
Para Keyssar, nenhum apoio
democrata será decisivo no cenário nacional. "Os democratas
não têm um partido, têm um
grupo fragmentado de coalizões em torno de candidatos. Al
Gore provavelmente é quem
tem o maior grupo de seguidores e de quem o apoio seria
mais significativo". E ele estima
que Gore, vice de Bill Clinton
em seus anos de Casa Branca,
não apoiaria Hillary.
Republicanos
Do lado republicano, a total
divisão do cenário torna ainda
mais difícil estimar alianças.
Segundo Keyssar, quem teria
mais dificuldades para conseguir apoios é o ex-governador
de Massachusetts Mitt Romney, "do qual simplesmente
ninguém gosta".
O analista afirma que alianças republicanas podem ser
mais importantes localmente.
Nomes como o do governador
da Flórida, Jeb Bush, irmão do
atual presidente, têm peso.
Keyssar diz que seria "um
movimento interessante se [o
ex-pastor batista] Mike Huckabee e John McCain se unissem". "McCain tem problemas
com os evangélicos, e isso poderia ajudá-lo."
Apoios à parte, no momento
atual da campanha os republicanos parecem mais ansiosos
para disputar a eleição de novembro com Hillary do que
com Obama (que tem menos
rejeição), sugere o "Times". Ao
menos nesse ponto, estão todos
do mesmo lado.
(ANDREA MURTA)
Com Associated Press
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