São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2000


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INTERNET SOB ATAQUE
Para especialistas, achar piratas da rede de computadores é mais difícil que prender traficantes
FBI tem dificuldade de rastrear hacker

ÁLVARO PEREIRA JÚNIOR
especial para a Folha, de San Francisco

Especialistas em segurança na Internet são céticos sobre as chances de o FBI (polícia federal dos EUA) elucidar os maiores ataques já sofridos pela Internet, de segunda-feira a anteontem.
"Existe uma possibilidade muito grande de o FBI nunca ficar sabendo quem produziu alguns dos ataques", disse Avi Rubin, dos laboratórios AT&T, ao site especializado em computação Cnet.com.
Segundo os editores da Cnet, os policiais vão perceber que "é muito mais difícil investigar o ciberespaço do que sair correndo atrás de um bando de traficantes do sul da Flórida".
"Neste momento, não posso dizer honestamente que tenhamos noção de qual é o motivo (do ataque)", disse ontem Eric Holder, subsecretário de Justiça dos EUA.
As sabotagens começaram na segunda-feira, quando o site mais popular da Internet, o Yahoo (que recebe 465 milhões de consultas diárias), foi repentinamente inundado por uma quantidade gigantesca de informações e ficou três horas fora do ar.
O vandalismo chegou depois a alguns dos endereços mais importantes da rede, como as lojas Amazon e Buy.com, a casa de leilões virtuais eBay, a página da rede de TV norte-americana CNN, especializada em notícias, a de informações sobre tecnologia ZDNet, e as financeiras E-Trade e Datek (de compra e venda de ações pelo computador).
Nesse tipo de ataque, os piratas (ou hackers) não entram nos computadores das vítimas para roubar informações.
Eles simplesmente as bombardeiam com uma quantidade tão monstruosa de dados que o acesso a elas fica bloqueado. A técnica se chama recusa de serviço, ou "denial of service".
"É preciso deixar claro à população americana que estamos fazendo tudo o que podemos para descobrir exatamente quem está por trás disso", disse Holder.
Anteontem, a superior hierárquica de Holder, a secretária de Justiça dos EUA, Janet Reno, anunciou um pedido de US$ 37 milhões (R$ 67 milhões) para reforçar o programa federal de combate ao que ela chamou de "cibercrime".

Zumbis eletrônicos
Chegar aos vândalos eletrônicos que fizeram os ataques mais recentes na rede mundial de computadores é especialmente difícil porque eles usam milhares de máquinas espalhadas pelo mundo, sem que os donos se dêem conta. Esses computadores funcionam como zumbis eletrônicos sob o comando de um mestre à distância.
Computadores pessoais, ligados à Internet por linha telefônica, estão a salvo, porque os hackers precisam de máquinas com conexões super-rápidas para atuarem.
As declarações do subsecretário Holder deixam claro que o FBI está diante de um labirinto sobre o qual sabe muito pouco.

Ataque externo
"Uma das possibilidades é que os ataques tenham vindo de fora dos Estados Unidos, porque isso já aconteceu no passado. Mas, no momento, não temos nenhuma indicação de que seja esse o caso", disse Holder.
Nenhum grupo se responsabilizou pelo vandalismo. Uma lei de 96 prevê multa de US$ 250 mil (R$ 450 mil) e até dez anos de prisão a quem "transmitir intencionalmente programa, informação, código ou comando com a finalidade de causar danos".


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