São Paulo, sexta-feira, 11 de fevereiro de 2000


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JUSTIÇA
Engenheiro é acusado de manter empregada como escrava nos Estados Unidos; pena será definida em maio
Júri condena brasileiro por escravidão

MALU GASPAR
enviada especial a Greenbelt

O engenheiro eletrônico brasileiro Renê Bonetti foi considerado culpado pela corte de Greenbelt, nos arredores de Washington, de ter mantido sua empregada doméstica como escrava por 20 anos nos Estados Unidos.
Bonetti também era acusado de ter "conspirado" com a mulher, Margarida, para manter a doméstica Hilda dos Santos, 65, como imigrante ilegal no país, e de tê-la submetido a maus-tratos e colocado sua vida em risco.
Os 12 jurados consideraram, por unanimidade, que Bonetti é culpado de todas as acusações, mas a sentença só será expedida pela juíza em 15 de maio. Sua pena pode chegar a 20 anos.
Até lá, Bonetti ficará preso. A juíza considerou que seus laços com o Brasil são "suficientemente próximos" para que ele tivesse condições de fugir até que sua sentença seja determinada. Algemado, o engenheiro saiu do julgamento direto para a cadeia.
Margarida Bonetti foi para o Brasil no ano passado e está foragida da Justiça norte-americana. Há uma ordem de prisão contra ela, mas o Brasil não expatria seus cidadãos. Seu processo ainda não foi a julgamento, mas ela poderá ser julgada à revelia.
O advogado do casal, John Maginnis, afirmou que recorrerá da condenação. Ele afirmou que deve levar no mínimo um ano até que o recurso seja julgado. Segundo Maginnis, Hilda foi influenciada "por pessoas que queriam se aproveitar dela" a mentir no tribunal. A defesa afirma que ela tem a idade mental de uma criança de 5 anos (leia texto abaixo).
O processo contra os Bonetti começou no final de 1998, quando Hilda foi encontrada por uma entidade católica brasileira num hospital da capital dos EUA. O casal estava viajando quando ela sofreu uma crise provocada por um tumor no estômago e foi levada por vizinhos ao hospital. Desde então, Hilda estava sob proteção de uma igreja de Washington.
Ela foi trazida pelo casal aos Estados Unidos em 1979, quando Bonetti veio trabalhar para a empresa Intelsat. O engenheiro, que afirma que Hilda não era formalmente uma empregada, disse ter dado essa informação ao Serviço de Imigração para conseguir o visto. Em 1984, quando ele foi transferido da Intelsat para a Comsat, o visto não foi renovado. A partir daí, o casal teria parado de pagar salário à Hilda. A família afirma que os salários são depositados numa conta no Brasil.
Além da condenação de ontem, os Bonetti ainda enfrentam uma ação civil movida por Hilda, que pede uma indenização de US$ 1 milhão por danos morais, psicológicos e financeiros causados a ela durante os 20 anos que passou com a família.


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