|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Mãe adotiva
luta pelo fim do estigma da doença
DA REDAÇÃO
Quando a sul-africana Gail
Johnson, 53, adotou Xolani Nkosi, os médicos tinham dado ao garoto de 2 anos apenas mais nove
meses de vida. Nkosi conseguiu
chegar aos 12. "Parte dessa vida se
deve ao fato de ele estar num ambiente normal", diz Jonhson, que,
junto com o filho adotivo, transformou-se num símbolo para as
ONGs que tentam oferecer um lar
às crianças com HIV que perderam os pais ou são abandonadas.
Jonhson, que é casada e tem
dois filhos naturais, dirige o Nkosi's Haven, em Johannesburgo,
um albergue para mães infectadas
e seus filhos. Leia a seguir os trechos de sua entrevista à Folha.
Folha - O que levou a senhora a
adotar uma criança com HIV?
Gail Johnson - Um amigo do
meu irmão teve Aids e sofreu
muito por causa do estigma e do
isolamento. Depois que ele morreu, em 1991, eu achei que tinha de
fazer algo. Eu estava envolvida em
montar um centro de ajuda para
doentes, e, quando o centro fechou por falta de fundos, todos
começaram a perguntar o que
aconteceria com Nkosi. A mãe dele falou que precisava de ajuda e
eu disse que ficaria com o garoto.
Folha - Como a senhora analisa a
relutância da sociedade em adotar
crianças com HIV?
Johnson - Há dois aspectos. O
primeiro é que em países como a
África do Sul e o Brasil há um
grande número de pessoas pobres, que não têm dinheiro para
alimentar uma boca a mais, seja
um órfão da Aids ou uma criança
soropositiva. Depois há a questão
do estigma do HIV, que é bastante
intenso. Além disso, via de regra,
ninguém se coloca na posição de
adotar uma criança que ao longo
do tempo vai morrer. Eu gostaria
que a adoção de crianças soropositivas ficasse mais comum simplesmente porque elas precisam
ser aceitas, precisam de cuidados.
Nkosi fez 12 anos no domingo
passado e, com cuidado e medicamentos, ele conseguiu viver todos
esses anos. Eu acho que parte dessa vida se deve ao fato de ele estar
num ambiente normal.
Folha - Como oferecer esse ambiente normal se é tão difícil encontrar uma família para estas
crianças?
Johnson - As pessoas precisam
aceitá-las. Eu criei Nkosi de uma
forma que ele não sentisse vergonha da doença. Para ele, dizer que
era soropositivo era como dizer
que estava gripado. E eu acho que
é isso que podemos fazer pelas
pessoas e crianças infectadas. Dar
o que a gente puder pela duração
de suas vidas.
Folha - Ele nunca sentiu medo da
doença?
Johnson - Quando a mãe de
Nkosi morreu, ele disse: "Todo
mundo que tem Aids morre". Eu
falei: "Querido, no momento a
maioria das pessoas morrem.
Mas na África do Sul você morre
em acidentes de carro, de câncer,
de tiros de revólver, você pode
morrer de qualquer jeito". Na semana antes de ele entrar em coma, nós falamos bastante sobre isso. Ele estava com medo de morrer porque não queria ir sem
mim, não queria me perder. É difícil explicar o que é a morte para
um menino de 12 anos. Quando a
criança tem 6 anos, você fala de
anjos, mas quando tem 12 você
precisa falar da morte com mais
profundidade. Como lidar com
isso?
Folha - Como a senhora se sente
em relação à forma como o governo da África do Sul está lidando
com a Aids?
Johnson - É muito difícil aceitar
a atitude do governo quando pessoas estão morrendo. Eu não entendo por que o governo nacional
continua negando a Aids. Estamos perdendo tempo e isso é apavorante.
(MD)
Texto Anterior: Símbolo da luta contra Aids faz 12 anos Próximo Texto: Cai infecção de bebês no Brasil Índice
|