São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2004

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IRAQUE OCUPADO

Militar dos EUA diz que ataque tem "marcas da Al Qaeda"; bomba fomenta temor de violência sectária

Atentado em delegacia mata ao menos 50

DA REDAÇÃO

A explosão de um carro-bomba ontem em frente a uma delegacia numa cidade xiita do sul do Iraque deixou ao menos 50 mortos e 75 feridos, além de alimentar temores de que terroristas fomentem a violência sectária para desestabilizar ainda mais o país.
Nenhum grupo reivindicou a autoria do ataque, que o general americano Mark Kimmit disse ter "as marcas da Al Qaeda".
O atentado, o terceiro pior do pós-guerra e o oitavo do tipo somente neste ano, ocorreu em Iskandariya, 40 km ao sul de Bagdá, quando a delegacia recebia inscrições de candidatos a policiais.
O ataque faz voltar à tona a questão da violência sectária. Na véspera, o comando americano apresentara uma carta supostamente escrita pelo jordaniano Abu Musab al Zarqawi, que opera no Iraque e é investigado por ter laços com a Al Qaeda, na qual ele pede à rede de Osama bin Laden apoio para detonar uma onda de ataques contra os xiitas.
O intuito, diz o missivista, é voltar a maioria xiita contra a minoria sunita, privilegiada pelo ex-ditador Saddam Hussein, e provocar uma guerra civil, dificultando a entrega do poder ao governo interino iraquiano em 30 de junho.
Além dos temores de uma guerra civil, a carta interceptada pelos EUA também serviu para alimentar suspeitas de que a Al Qaeda esteja agindo no Iraque. Atentados suicidas, sobretudo os coordenados, são uma marca da rede responsável pelo 11 de Setembro e eram incomuns na laica sociedade iraquiana antes da guerra.
Horas após o ataque, quatro policiais foram mortos a tiros em uma emboscada em Bagdá.
Os iraquianos que colaboram com a ocupação se tornaram o maior alvo da insurgência -desde a captura do ex-ditador, em 13 de dezembro, operações da insurgência mataram mais de 180 iraquianos, enquanto os ataques contra soldados dos EUA nesse período diminuíram.
Todos os mortos ontem eram iraquianos, e entre eles estavam vários candidatos a policiais. Os números sobre o total de vítimas ainda eram desencontrados. Funcionários de hospitais mencionavam entre 50 e 54 mortos, enquanto a coalizão anglo-americana confirmou 35 e o Ministério do Interior iraquiano situava as baixas "entre 40 e 50".
Não há consenso se havia um terrorista suicida. Uma picape vermelha carregada com 225 quilos de explosivos foi detonada em frente às barricadas de sacos de areia e arame que protegiam a delegacia, reduzida a escombros.
Areia, destroços e pedaços dos corpos das vítimas se espalharam pela rua em frente.
Um grupo de moradores se aglomerou em frente ao local gritando palavras de protesto contra as forças americanas, a quem atribuiu a culpa pelo atentado. Eles só dispersaram quando os policiais dispararam para o ar.
Também ontem, os americanos anunciaram a morte de dez homens que armavam uma emboscada na noite de anteontem em Muqdadiyah (nordeste), e a prisão de Elia Madhi Elia, general do extinto Exército de Saddam.
A Casa Branca e a comissão federal que analisa os ataques do 11 de Setembro chegaram ontem a um acordo que dará aos investigadores um acesso mais amplo aos relatórios diários secretos de inteligência fornecidos ao presidente George W. Bush pela CIA. Entre esses relatórios consta um memorando feito um mês antes dos ataques que discute a possibilidade de seqüestro de aviões por terroristas da Al Qaeda.

Propina de Saddam
O ex-chefe do programa da ONU Petróleo por Alimentos, Benon Sevan, negou ontem ter recebido propina da ditadura de Saddam. O nome dele está na lista publicada pelo diário bagdali "Al Mada" de indivíduos, empresas e grupos iraquianos e estrangeiros subornados com petróleo. A ONU, que manteve o programa iraquiano por 12 anos, exigiu documentos provando a acusação.


Com agências internacionais

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