|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Em Nova Orleans, "Katrina Tour" mostra cicatrizes da catástrofe
29.ago.2005/Reuters 24.ago.2007/Reuters
|
|
Nova Orleans após Katrina, à dir. dois anos depois
DO ENVIADO A NOVA ORLEANS
As pessoas estão paradas em
frente a uma construção bege e
branca de madeira. São duas
casas geminadas, sem portas e
com móveis destruídos dentro,
e estão abandonadas desde que
os diques rompidos por falhas
estruturais reveladas pela força
do furacão Katrina inundaram
essa parte de Nova Orleans. Na
fachada, há três pichações em
forma de "xis".
A primeira delas foi feita em
8 de setembro de 2005, uma semana depois do furacão, como
revelam os números na parte
superior do xis, e a altura da pichação mostra que as águas
ainda chegavam a três metros.
As letras "AZ" indicam que a
equipe de resgate era do Arizona e as iniciais "NE", que não
foi possível entrar a casa para
pegar dados ("no entry").
As outras marcas foram feitas no dia 24 daquele mês,
quando as águas já haviam baixado e havia acesso ao interior.
Por uma equipe da Flórida
("Fl-1"), dizem que a casa do lado esquerdo estava vazia. Na do
lado direito, as iniciais "H2D".
Querem dizer: "Human - 2 -
Dead", "Humanos - dois -
mortos". O resgate encontrou
apenas os restos mortais de um
casal que morreu afogado.
Trinta meses depois, estão
por todo o lado os sinais da
maior catástrofe a atingir a região, que matou 1.836 pessoas,
a maior parte negros da cidade
de Nova Orleans.
"É difícil esquecer e superar
o que aconteceu", diz Michael
Cumble, guia turístico local.
Ele é um dos responsáveis pelo
"Katrina Tour", viagens de ônibus para interessados em visitar os locais mais atingidos.
São seis por dia, em média, a
US$ 35 por pessoa, e o que leva
a reportagem da Folha tem
mais de 25 pessoas. Em três
horas, visitarão locais distantes
do turístico French Quarter, no
qual a devastação foi menor e
os sinais já sumiram.
Em bairros de classe média,
como Lake Vista, e principalmente nos de maior pobreza,
como o Lower 9th Ward, o cenário ainda é de desolação.
Dois terços das casas e comércio estão abandonados, destruídos ou foram simplesmente demolidos pelo governo.
O terço habitado também
não é inspirador. Muitos dos
que retomaram suas casas não
tiveram dinheiro nem sequer
para apagar as pichações das
equipes de resgate na fachada.
Outros vivem em trailers cedidos por Washington e estacionados em frente às casas.
Até seis meses atrás, diz o
guia, não era incomum encontrar nos telhados barcos, cadeiras de armar e isopores, sinais
das pessoas que esperaram semanas por um resgate no único
local seco das casas. Uma delas
traz a pichação "Lisa + Donnie
R OK", Lisa e Donnie estão
bem -o que era verdade na
época, mas não hoje: endividado, o casal se divorciou. Outra
pede: "Favor não demolir!"
"Muitos me perguntam se
não é exploração", diz o guia.
"Acho que estamos prestando
um serviço público, mostrando
ao mundo o que causa um desastre natural aliado a uma resposta lenta do governo".
(SD)
Texto Anterior: Sucessão nos EUA / contrastres: Obama ganha força nos "EUA profundos" Próximo Texto: Presidente de Timor Leste é ferido a tiros em ataque Índice
|