São Paulo, segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

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Em Nova Orleans, "Katrina Tour" mostra cicatrizes da catástrofe

29.ago.2005/Reuters                      24.ago.2007/Reuters
Nova Orleans após Katrina, à dir. dois anos depois

DO ENVIADO A NOVA ORLEANS

As pessoas estão paradas em frente a uma construção bege e branca de madeira. São duas casas geminadas, sem portas e com móveis destruídos dentro, e estão abandonadas desde que os diques rompidos por falhas estruturais reveladas pela força do furacão Katrina inundaram essa parte de Nova Orleans. Na fachada, há três pichações em forma de "xis".
A primeira delas foi feita em 8 de setembro de 2005, uma semana depois do furacão, como revelam os números na parte superior do xis, e a altura da pichação mostra que as águas ainda chegavam a três metros. As letras "AZ" indicam que a equipe de resgate era do Arizona e as iniciais "NE", que não foi possível entrar a casa para pegar dados ("no entry").
As outras marcas foram feitas no dia 24 daquele mês, quando as águas já haviam baixado e havia acesso ao interior. Por uma equipe da Flórida ("Fl-1"), dizem que a casa do lado esquerdo estava vazia. Na do lado direito, as iniciais "H2D". Querem dizer: "Human - 2 - Dead", "Humanos - dois - mortos". O resgate encontrou apenas os restos mortais de um casal que morreu afogado.
Trinta meses depois, estão por todo o lado os sinais da maior catástrofe a atingir a região, que matou 1.836 pessoas, a maior parte negros da cidade de Nova Orleans.
"É difícil esquecer e superar o que aconteceu", diz Michael Cumble, guia turístico local. Ele é um dos responsáveis pelo "Katrina Tour", viagens de ônibus para interessados em visitar os locais mais atingidos.
São seis por dia, em média, a US$ 35 por pessoa, e o que leva a reportagem da Folha tem mais de 25 pessoas. Em três horas, visitarão locais distantes do turístico French Quarter, no qual a devastação foi menor e os sinais já sumiram.
Em bairros de classe média, como Lake Vista, e principalmente nos de maior pobreza, como o Lower 9th Ward, o cenário ainda é de desolação. Dois terços das casas e comércio estão abandonados, destruídos ou foram simplesmente demolidos pelo governo.
O terço habitado também não é inspirador. Muitos dos que retomaram suas casas não tiveram dinheiro nem sequer para apagar as pichações das equipes de resgate na fachada. Outros vivem em trailers cedidos por Washington e estacionados em frente às casas.
Até seis meses atrás, diz o guia, não era incomum encontrar nos telhados barcos, cadeiras de armar e isopores, sinais das pessoas que esperaram semanas por um resgate no único local seco das casas. Uma delas traz a pichação "Lisa + Donnie R OK", Lisa e Donnie estão bem -o que era verdade na época, mas não hoje: endividado, o casal se divorciou. Outra pede: "Favor não demolir!"
"Muitos me perguntam se não é exploração", diz o guia. "Acho que estamos prestando um serviço público, mostrando ao mundo o que causa um desastre natural aliado a uma resposta lenta do governo". (SD)


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