São Paulo, quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

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Presidente levou Eluana à morte, diz Berlusconi

Para premiê, Napolitano cometeu "grave erro" ao negar decreto que a deixaria viva

Pai visita corpo da filha, que morreu anteontem após 17 anos em coma vegetativo; Senado aprova lei visando proibir mortes consentidas

Christophe Simon/France Presse
Coliseu, em Roma, é iluminado em memória de Eluana; polêmica
dividiu opinião pública da Itália


DA REDAÇÃO

Jornais italianos ligados ao premiê Silvio Berlusconi desferiram ataques ontem contra o presidente do país, Giorgio Napolitano, responsabilizando-o pela morte de Eluana Englaro, 38, ocorrida na véspera.
estava em estado vegetativo havia 17 anos, e seu caso tornou-se pivô de controvérsia que opôs o governo e o Vaticano à Justiça e ao presidente.
Na última sexta-feira, Napolitano recusou-se a assinar um decreto-lei apresentado por Berlusconi que ordenava o restabelecimento da alimentação e hidratação de Eluana -a interrupção, autorizada pela máxima corte da Justiça italiana em decisão de novembro, havia sido iniciada no mesmo dia. O presidente alegou que a medida era inconstitucional.
O "Il Giornale", que pertence a Berlusconi, publicou comentário intitulado "Muito bem, Napolitano" e atribuiu ao primeiro-ministro a frase "Estou calmo porque fiz a coisa certa. Quanto aos outros, não sei. Porque Eluana não morreu de morte natural. Foi assassinada. Morreu enquanto outros discutiam a constitucionalidade da lei do governo".
Segundo outros jornais italianos, Berlusconi disse que Napolitano cometeu "grave erro" e justificou a decisão de ignorar a posição do presidente, que arriscou abrir uma crise institucional entre os Poderes ao alegar "princípios morais". Napolitano, um ex-comunista e rival político do premiê conservador, pediu "reflexão" em momento de "dor nacional".
Eluana, que entrou em coma após acidente de carro em 1992, morreu anteontem à noite, durante apreciação no Senado de projeto de lei apresentado às pressas pelo gabinete do premiê, que, com texto idêntico ao decreto rejeitado, proíbe a interrupção da alimentação de pacientes incapazes de se expressar. A Casa aprovou ontem o projeto, que ainda precisa de aval da Câmara dos Deputados.
Membros da oposição acusaram Berlusconi de explorar o caso para angariar apoio ao seu projeto de modificar o balanço de poderes no Executivo, fortalecendo o seu cargo em detrimento do de presidente. O premiê defende mudanças na Constituição da Itália, de 1948.

Última visita
Ontem, Beppino Englaro, 70, pai de Eluana, visitou o corpo da filha, em Udine (nordeste), onde fica a clínica que aceitou realizar a interrupção da sua alimentação e hidratação -ainda ontem guardada por policiais. Após a visita, seria realizada uma autópsia para determinar oficialmente a causa da morte de Eluana. A clínica atesta insuficiência renal seguida de parada cardíaca.
O corpo de Eluana será cremado em cerimônia privada, em data que não será revelada pela família. O Colégio de Médicos de Udine anunciou que abrirá procedimento disciplinar para avaliar se a morte foi natural, já que, pela previsão médica, Eluana levaria cerca de duas semanas para morrer depois da última sexta-feira.
Segundo o "Corriere della Sera", antes de morrer Eluana pesava 40 kg, tinha braços e pernas atrofiados e só podia ficar de lado, pois se ficasse com o ventre para cima corria o risco de afogar-se com líquidos que escorriam de seu estômago, também atrofiado. A posição causou sérias lesões em sua pele, inclusive no seu rosto.


Com "Financial Times" e agências internacionais

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