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Presidente levou Eluana à morte, diz Berlusconi
Para premiê, Napolitano cometeu "grave erro" ao negar decreto que a deixaria viva
Pai visita corpo da filha, que morreu anteontem após 17 anos em coma vegetativo; Senado aprova lei visando proibir mortes consentidas
Christophe Simon/France Presse
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Coliseu, em Roma, é iluminado em memória de Eluana; polêmica
dividiu opinião pública da Itália
DA REDAÇÃO
Jornais italianos ligados ao
premiê Silvio Berlusconi desferiram ataques ontem contra o
presidente do país, Giorgio Napolitano, responsabilizando-o
pela morte de Eluana Englaro,
38, ocorrida na véspera.
estava em estado vegetativo
havia 17 anos, e seu caso tornou-se pivô de controvérsia
que opôs o governo e o Vaticano à Justiça e ao presidente.
Na última sexta-feira, Napolitano recusou-se a assinar um
decreto-lei apresentado por
Berlusconi que ordenava o restabelecimento da alimentação
e hidratação de Eluana -a interrupção, autorizada pela máxima corte da Justiça italiana
em decisão de novembro, havia
sido iniciada no mesmo dia. O
presidente alegou que a medida
era inconstitucional.
O "Il Giornale", que pertence
a Berlusconi, publicou comentário intitulado "Muito bem,
Napolitano" e atribuiu ao primeiro-ministro a frase "Estou
calmo porque fiz a coisa certa.
Quanto aos outros, não sei.
Porque Eluana não morreu de
morte natural. Foi assassinada.
Morreu enquanto outros discutiam a constitucionalidade
da lei do governo".
Segundo outros jornais italianos, Berlusconi disse que
Napolitano cometeu "grave erro" e justificou a decisão de ignorar a posição do presidente,
que arriscou abrir uma crise
institucional entre os Poderes
ao alegar "princípios morais".
Napolitano, um ex-comunista e
rival político do premiê conservador, pediu "reflexão" em momento de "dor nacional".
Eluana, que entrou em coma
após acidente de carro em 1992,
morreu anteontem à noite, durante apreciação no Senado de
projeto de lei apresentado às
pressas pelo gabinete do premiê, que, com texto idêntico ao
decreto rejeitado, proíbe a interrupção da alimentação de
pacientes incapazes de se expressar. A Casa aprovou ontem
o projeto, que ainda precisa de
aval da Câmara dos Deputados.
Membros da oposição acusaram Berlusconi de explorar o
caso para angariar apoio ao seu
projeto de modificar o balanço
de poderes no Executivo, fortalecendo o seu cargo em detrimento do de presidente. O premiê defende mudanças na
Constituição da Itália, de 1948.
Última visita
Ontem, Beppino Englaro, 70,
pai de Eluana, visitou o corpo
da filha, em Udine (nordeste),
onde fica a clínica que aceitou
realizar a interrupção da sua
alimentação e hidratação -ainda ontem guardada por policiais. Após a visita, seria realizada uma autópsia para determinar oficialmente a causa da
morte de Eluana. A clínica atesta insuficiência renal seguida
de parada cardíaca.
O corpo de Eluana será cremado em cerimônia privada,
em data que não será revelada
pela família. O Colégio de Médicos de Udine anunciou que
abrirá procedimento disciplinar para avaliar se a morte foi
natural, já que, pela previsão
médica, Eluana levaria cerca de
duas semanas para morrer depois da última sexta-feira.
Segundo o "Corriere della Sera", antes de morrer Eluana pesava 40 kg, tinha braços e pernas atrofiados e só podia ficar
de lado, pois se ficasse com o
ventre para cima corria o risco
de afogar-se com líquidos que
escorriam de seu estômago,
também atrofiado. A posição
causou sérias lesões em sua pele, inclusive no seu rosto.
Com "Financial Times" e agências internacionais
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