São Paulo, terça, 11 de março de 1997.

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ORIENTE MÉDIO
Primeiro-ministro de Israel tenta diminuir oposição da direita, da esquerda, dos árabes e do Ocidente
Netanyahu atrai críticas até de sua mãe

PATRICK COCKBURN
do `The Independent', em Jerusalém

Até a manhã do domingo, parecia que o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, estava sendo criticado por todo mundo, menos sua própria mãe. Mas isso mudou.
Zila Netanyahu, 84, disse numa entrevista que os atos de seu filho a deixavam constrangida, muito mais do que orgulhosa. Ela se queixou especialmente do fato de ``Bibi'' ter libertado prisioneiros palestinos e qualificou a paz com os árabes de ``um absurdo''.
O que não falta a Netanyahu são críticos, tanto em Israel quanto no exterior. Na semana passada Ariel Sharon, ministro da Infra-Estrutura e arquiteto de sua vitória eleitoral de maio passado, teria dito a um grupo de colonos israelenses: ``Bibi Netanyahu é um perigo para o Estado de Israel. Não acredito em uma palavra que sai da boca desse homem''.
Israel se prepara para iniciar os trabalhos de levantamento topográfico em Har Homa (que os palestinos chamam de Jabal Abu Jhneim), onde será construído um assentamento exclusivamente judaico para 26 mil pessoas, desafiando a condenação internacional e correndo o risco de suscitar reações violentas na Cisjordânia.
Qualquer crédito internacional que o premiê israelense possa ter ganho com sua retirada parcial de Hebron, em janeiro, evaporou.
Ontem Arafat falou que os ``truques'' israelenses estão provocando uma crise no processo de paz.
Seu discurso pode ter sido inspirado tanto pela consciência da posição fraca em que Netanyahu se encontra e o desejo de maximizar o apoio internacional aos palestinos quanto por seu desapontamento com o fato de apenas 7% da Cisjordânia passar para o controle total da Autoridade Palestina.
Outros 2% ficarão sob controle conjunto palestino-israelense. Isso significa que mais 200 mil palestinos em 50 cidades e povoados ficarão livres da ocupação israelense, pela primeira vez desde 1967.
Ao mesmo tempo que avança lentamente demais para satisfazer os palestinos, Netanyahu já fez o suficiente para suscitar a ira da direita israelense, à qual pertence.
Essa é a segunda crise que enfrenta. A extrema direita considera que ele está entregando a Cisjordânia aos palestinos e pondo fim a seu sonho de ver Israel estendendo-se do rio Jordão até o mar Mediterrâneo.
Desconfia, também, que quando 1,1 milhão de palestinos, contando com forças de segurança próprias, deixarem de viver sob o controle diário do Exército israelense, ficará difícil, tanto em termos políticos quanto militares, para Netanyahu manter o controle de mais do que alguns poucos segmentos da Cisjordânia.
Até mesmo alguns integrantes da coalizão do premiê dizem que talvez votem contra ele numa moção de desconfiança. Não serão suficientes para provocar a queda do governo, que tem maioria de 68 no Knesset, com 120 membros.
Embora estejam irados com seu líder, os membros da coalizão governante não querem perder seus cargos no governo.
Oposição desunida
A possibilidade mais sombria para Netanyahu é um movimento para mudar a legislação, para que seja possível promover a demissão do premiê, sem dissolver o Knesset, por uma maioria simples de 61 votos. Atualmente seriam necessários 80, número que é politicamente inviável.
Essa mudança constitucional pode acontecer se a oposição oficial, composta pelos trabalhistas, o Meretz e os partidos árabes, se juntar com a direita dissidente e os adversários de Netanyahu dentro de seu próprio partido, o Likud -que são muitos.
Uma manifestação promovida em Tel Aviv no mês passado com o intuito de demonstrar a unidade partidária exerceu o efeito oposto.
Outros líderes do partido não puderam discursar. Os defensores de Netanyahu foram acusados de mobilizar grupos de agitadores que gritavam ``traidor'' quando seus adversários queriam se manifestar. Felizmente para o premiê, seus inimigos se detestam mutuamente tanto quanto odeiam a ele. São essas divisões que talvez lhe permitam sobreviver.

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