São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2004

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Republicano explora vacilações de Kerry

CÍNTIA CARDOSO
RAFAEL CARIELLO
DE NOVA YORK

O presidente dos EUA, George W. Bush, e os estrategistas da campanha republicana elegeram na última semana o que para eles é o calcanhar-de-aquiles do virtual candidato democrata, John F. Kerry: suas oscilações políticas.
Bush e os republicanos vêm divulgando posições contraditórias manifestadas por Kerry para praticamente todos os principais temas da campanha eleitoral: Guerra do Iraque, combate ao terrorismo, casamento gay, conflito palestino-israelense e reforma do sistema educacional dos EUA.
"Meu oponente tem fortes convicções; elas apenas não duram muito tempo", disse Bush, na segunda-feira, sobre o democrata. No site do Partido Republicano, Kerry é retratado como um lutador de boxe em duelo contra si mesmo. A cada "round" -são 30-, opiniões opostas sobre um mesmo tema são apresentadas.
O exemplo mais claro do que é visto pelos republicanos como uma incapacidade de Kerry para se manter fiel às próprias opiniões está no debate sobre a Guerra do Iraque. Kerry, senador por Massachusetts, deu voto favorável à ação militar americana contra Saddam Hussein -como, aliás, outros líderes democratas.
Ao longo da campanha, Kerry passou a criticar duramente a atuação do governo Bush naquele país. Em defesa de sua mudança de posição, o democrata tem dito que, à época da votação, as evidências apresentadas pelo governo foram enganosas.
Na mais recente polêmica do país, sobre a legalidade do casamento gay, Kerry também vacilou. No início de fevereiro, o democrata criticou a decisão da Suprema Corte de Massachusetts, que havia determinado, em novembro de 2003, não haver embasamento constitucional contra o casamento entre gays. "Pessoalmente acredito que a corte esteja totalmente equivocada", afirmou. Questionado mais tarde, ainda em fevereiro, declarou: "Nunca disse que foi errada".
Para Maureen Steinbrunner, do Centro para a Política Nacional, as supostas mudanças de opinião de Kerry na verdade refletem uma "sofisticação de pensamento" do democrata. "Para Kerry", ela diz, "a vida não é preta ou branca."
"É a primeira vez que [o democrata] participa de uma campanha nacional. Ele sente o terreno, avalia, mas, após chegar a uma decisão final, ele a defende com unhas e dentes", afirma.
Na segunda-feira, o vice-presidente, Dick Cheney, e Kerry bateram boca pela imprensa. Cheney disse que "a indecisão mata", afirmando: "Não é tempo para líderes que mudam com os ventos políticos". Ao que o senador rebateu: "Decisões precipitadas e ruins também matam".
As críticas dos republicanos coincidem com pesquisas que mostram Kerry à frente de Bush na eleição presidencial. Segundo o Gallup, o democrata tem 52% das intenções de voto, contra 44% para o republicano. Para o jornal "The Washington Post", Kerry tem 48%, e Bush, 44%.


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