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Conselho de Defesa do Sul prevê doutrina comum
CLAUDIO DANTAS SEQUEIRA
ENVIADO ESPECIAL A SANTIAGO
Proposto inicialmente como
simples fórum de debates, o
CDS (Conselho de Defesa Sul-Americano) pode tomar a forma de uma aliança militar defensiva regional. Os 12 ministros da Defesa sul-americanos
aprovaram ontem, em Santiago, plano de ação que prevê a
adoção de uma doutrina política comum, o inventário da
atual capacidade militar de todos e o monitoramento dos
gastos do setor, como antecipado pela Folha.
Também se destaca entre as
medidas do CDS a criação de
um mecanismo de consulta
imediata para situações de
emergência, com avaliação da
ameaça e ação de resposta.
Uma espécie de "telefone vermelho", segundo o ministro
brasileiro Nelson Jobim.
"Foi uma reunião ótima.
Além da série de ações aprovadas, viabilizou a possibilidade
de uma comunicação direta",
disse à Folha. Jobim reiterou
que o CDS não será "uma aliança clássica", nos moldes da
Otan, e distribuiu aos colegas
cópias em espanhol da Estratégia Nacional de Defesa.
Divisão
Mas a retórica antiamericanista ameaça dividir o Conselho. "É a primeira vez que nos
reunimos sem a tutela de uma
potência. Estamos decidindo
por nós mesmos qual será nosso sistema e nosso esquema de
defesa", disse o venezuelano
Ramón Carrizález. Para o boliviano Walker San Miguel, a
"doutrina hemisférica de segurança e defesa" daria mais "personalidade" à região.
Para os otimistas, como Brasil e Chile, a ênfase ideológica
acabará diluída durante os debates. Já membros da delegação colombiana disseram não
ver chances de acordo sobre
uma doutrina comum. O tema
voltará à pauta em novembro,
no Primeiro Encontro Sul-Americano de Estudos Estratégicos, no Rio.
A declaração final firmada
pelos ministros prevê ainda a
criação do Centro Sul-Americano de Estudos Estratégicos
de Defesa (CSEED), em Buenos
Aires. Um grupo de trabalho
coordenado pela Venezuela vai
elaborar o registro das academias e centros de estudo em
defesa e de seus programas e
criar uma rede sul-americana
de capacitação e formação.
Caberá ao Equador um diagnóstico da indústria de defesa
dos países-membros, com capacidades e áreas de associação
estratégicas para "promover
complementaridade, pesquisa
e transferência tecnológica".
A reunião ministerial durou
todo o dia. Às 9h, os ministros
se reuniram com a presidente
do Chile, Michelle Bachelet,
para uma foto oficial e homenagem ao herói da independência
do Chile, Bernardo O'Higgins.
O colombiano Juan Manuel
Santos não deu entrevistas por
orientação da Casa de Nariño
-o presidente Álvaro Uribe teme que declarações polêmicas
do seu ministro criem mais
atrito com os vizinhos. Na semana passada, o ministro voltou a defender o direito de defesa para atacar as Farc além
das fronteiras nacionais.
Javier Ponce, ministro do
Equador -vizinho e alvo da
Colômbia há um ano-, introduziu na declaração final do
CDS um parágrafo em que os
ministros reiteram "respeito" à
soberania, integridade e inviolabilidade territorial. "A política de extraterritorialidade da
Colômbia não cabe num Conselho como este", afirmou.
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