São Paulo, quinta-feira, 11 de março de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Piñera assume com missão de reerguer Chile

Governo de primeiro centro-direitista a comandar país após redemocratização será dedicado à reconstrução pós-tremor

Presidente eleito em janeiro toma posse hoje tentando manter alta aprovação de sua antecessora, que deixa cargo com 84% de apoio


SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VALPARAÍSO

Primeiro representante da centro-direita a chegar ao poder após a ditadura militar chilena (1973-1990), o político e multimilionário empresário Sebastián Piñera, 60, assume hoje, em Valparaíso, a Presidência de um país diferente do que o elegeu há dois meses.
Quando derrotou o candidato governista Eduardo Frei, no último dia 17 de janeiro, Piñera avistava para o Chile quatro anos de céu de brigadeiro. Amparado na estabilidade econômica do país, projetou expressivo crescimento durante seu governo, que sucede a gestão de Michelle Bachelet, aprovada por 84% dos chilenos.
O cenário mudou às 3h34 do último dia 27, quando um terremoto de magnitude 8,8, seguido de maremoto na costa sul do país, destruiu estradas, pontes, milhares de casas e sedes de empresas, infraestrutura de água, luz e comunicação. Os custos da reconstrução são estimados em até US$ 30 bilhões, e o prazo previsto para reerguer o país é de até quatro anos -justamente a duração do mandato de Piñera. Nos dias seguintes à catástrofe, Bachelet admitiu preocupação com o aumento do desemprego, provocado pela literal destruição de postos de trabalho.
Piñera teve de readequar seu programa de governo às exigências da reconstrução. Ele anunciou que pedirá modificação do Orçamento que já estava aprovado para 2010 e decidiu que seu primeiro gesto como presidente será uma visita à devastada cidade de Constitución, que registrou o maior número de vítimas fatais do desastre -até o momento foram identificados 497 corpos de vítimas em todo o país.
Após o juramento como presidente, diante do Congresso, em Valparaíso, Piñera segue de helicóptero para Constitución e assina ali o projeto de lei Bônus Março, que pretende oferecer um auxílio de 40 mil pesos chilenos (R$ 140) a 4 milhões de pessoas atingidas pelo desastre natural.

Oportunidade
Embora as circunstâncias sejam sombrias, analistas chilenos avaliam que elas podem se converter numa grande oportunidade para um político cujo perfil é tão acentuadamente empreendedor que lhe valeu o apelido de "a locomotiva".
"É fato que a emergência nacional impõe a Piñera uma mudança de agenda e a alteração de muitos de seus planos, mas o terremoto não liquida seu programa de governo, apenas provoca um giro", diz o cientista político David Altman, professor da Pontifícia Universidade Católica de Santiago.
Na opinião de Altman, "maquiavelicamente pensando, Piñera pode tirar vantagem da situação, já que o Chile possui uma enorme capacidade de endividamento, o que poderá acabar resultando numa descomunal injeção de recursos no país, com a consequente diminuição do desemprego".
A coalizão de esquerda Concertação, que deixa o governo após 20 anos, tentará garantir, com a atuação de sua bancada no Congresso (cerca de metade dos parlamentares), a manutenção dos programas sociais. A tendência, porém, é que, diante da situação de catástrofe nacional, o centro-direitista aprofunde o que já eram diretrizes delineadas em seu programa de governo: a implementação de apenas algumas políticas sociais focalizadas e o endurecimento das políticas de segurança pública.
O espanto da maioria da população chilena com os episódios de vandalismo desencadeados após o desastre natural tende a favorecer a aceitação da relativa linha dura de Piñera, que já prometeu manter os militares nas ruas das cidades mais devastadas. "É o que na ciência política chamamos de o Leviatã. O opressor, às vezes, é bem-vindo", afirma Altman.
A "locomotiva", porém, indicou que buscará associar sua imagem de governante ao arquétipo do grande líder. "As adversidades destroem os débeis e agigantam os que têm caráter, alma e coração", disse Piñera.


Texto Anterior: Venezuela: Em meio a escassez, Chávez aumenta preço de alimentos
Próximo Texto: Eleito faz jogo amistoso com Evo Morales
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.