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Piñera assume com missão de reerguer Chile
Governo de primeiro centro-direitista a comandar país após redemocratização será dedicado à reconstrução pós-tremor
Presidente eleito em janeiro toma posse hoje tentando manter alta aprovação de sua antecessora, que deixa cargo com 84% de apoio
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A VALPARAÍSO
Primeiro representante da
centro-direita a chegar ao poder após a ditadura militar chilena (1973-1990), o político e
multimilionário empresário
Sebastián Piñera, 60, assume
hoje, em Valparaíso, a Presidência de um país diferente do
que o elegeu há dois meses.
Quando derrotou o candidato governista Eduardo Frei, no
último dia 17 de janeiro, Piñera
avistava para o Chile quatro
anos de céu de brigadeiro. Amparado na estabilidade econômica do país, projetou expressivo crescimento durante seu
governo, que sucede a gestão de
Michelle Bachelet, aprovada
por 84% dos chilenos.
O cenário mudou às 3h34 do
último dia 27, quando um terremoto de magnitude 8,8, seguido de maremoto na costa sul
do país, destruiu estradas, pontes, milhares de casas e sedes de
empresas, infraestrutura de
água, luz e comunicação. Os
custos da reconstrução são estimados em até US$ 30 bilhões,
e o prazo previsto para reerguer o país é de até quatro anos
-justamente a duração do
mandato de Piñera. Nos dias
seguintes à catástrofe, Bachelet
admitiu preocupação com o aumento do desemprego, provocado pela literal destruição de
postos de trabalho.
Piñera teve de readequar seu
programa de governo às exigências da reconstrução. Ele
anunciou que pedirá modificação do Orçamento que já estava
aprovado para 2010 e decidiu
que seu primeiro gesto como
presidente será uma visita à devastada cidade de Constitución, que registrou o maior número de vítimas fatais do desastre -até o momento foram
identificados 497 corpos de vítimas em todo o país.
Após o juramento como presidente, diante do Congresso,
em Valparaíso, Piñera segue de
helicóptero para Constitución
e assina ali o projeto de lei Bônus Março, que pretende oferecer um auxílio de 40 mil pesos
chilenos (R$ 140) a 4 milhões
de pessoas atingidas pelo desastre natural.
Oportunidade
Embora as circunstâncias sejam sombrias, analistas chilenos avaliam que elas podem se
converter numa grande oportunidade para um político cujo
perfil é tão acentuadamente
empreendedor que lhe valeu o
apelido de "a locomotiva".
"É fato que a emergência nacional impõe a Piñera uma mudança de agenda e a alteração
de muitos de seus planos, mas o
terremoto não liquida seu programa de governo, apenas provoca um giro", diz o cientista
político David Altman, professor da Pontifícia Universidade
Católica de Santiago.
Na opinião de Altman, "maquiavelicamente pensando, Piñera pode tirar vantagem da situação, já que o Chile possui
uma enorme capacidade de endividamento, o que poderá acabar resultando numa descomunal injeção de recursos no país,
com a consequente diminuição
do desemprego".
A coalizão de esquerda Concertação, que deixa o governo
após 20 anos, tentará garantir,
com a atuação de sua bancada
no Congresso (cerca de metade
dos parlamentares), a manutenção dos programas sociais.
A tendência, porém, é que,
diante da situação de catástrofe
nacional, o centro-direitista
aprofunde o que já eram diretrizes delineadas em seu programa de governo: a implementação de apenas algumas políticas sociais focalizadas e o endurecimento das políticas de segurança pública.
O espanto da maioria da população chilena com os episódios de vandalismo desencadeados após o desastre natural
tende a favorecer a aceitação da
relativa linha dura de Piñera,
que já prometeu manter os militares nas ruas das cidades
mais devastadas. "É o que na
ciência política chamamos de o
Leviatã. O opressor, às vezes, é
bem-vindo", afirma Altman.
A "locomotiva", porém, indicou que buscará associar sua
imagem de governante ao arquétipo do grande líder. "As adversidades destroem os débeis
e agigantam os que têm caráter,
alma e coração", disse Piñera.
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