São Paulo, sábado, 11 de abril de 1998

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ANÁLISE
Acerto apaga slogans

FRANÇOIS SERGENT
do "Libération", em Belfast

Pela primeira vez, a ênfase é de crédito. "Um novo começo para a Irlanda do Norte", afirmaram, em termos surpreendentemente parecidos, Tony Blair e Gerry Adams.
O acordo concluído ontem é realmente histórico. Pela primeira vez desde a Guerra da Irlanda, em 1916, um acordo inclui o conjunto das comunidades do norte, protestantes e católicas, com todos os seus componentes.
O acordo indica, de início, o reconhecimento da identidade nacionalista da minoria católica, maltratada desde a partilha de 1921. Pela primeira vez, o Ulster não é apenas protestante e britânico, mas também irlandês e católico.
David Trimble, protestante que representa a maioria dos norte-irlandeses, será o primeiro premiê da Irlanda do Norte. Segundo o acordo, porém, seu vice-premiê será um católico, John Hume.
Finalmente, os protestantes, pressionados, cederam. De um lado, sofreram a pressão dos britânicos, cansados com o alto preço do conflito, em homens, em libras esterlinas e em imagem. Foram persuadidos também pela idéia de que é melhor negociar do que seguir enfrentando os católicos.
Os nacionalistas, sobretudo os republicanos, também adotaram um novo senso de realismo para abandonar seu slogan "fora britânicos".
Para o IRA e o Sinn Fein, após 30 anos de guerra e 3.200 mortos, fica a mensagem de que a Irlanda unida só virá através do voto, e não do fuzil.
O Sinn Fein diz que o acordo é só uma "transição". Mas, tendo em conta a demografia local e a forte população protestante que deseja continuar britânica, essa etapa será longa.
Os acordos, porém, ainda não são totalmente aceitos. Parte dos unionistas já chama Trimble de "traidor". São minoritários, mas influentes e armados. Para agradá-los, Trimble pode sabotar o acordo, sob o risco de provocar reações violentas no campo oposto.
Há fissuras também entre os republicanos. O IRA mantém o cessar-fogo, mas dissidentes já tentaram promover atentados.
Para desencorajar os que querem matar a paz, o acordo deve ter resultados rápidos. De forma prudente, Londres e Dublin marcaram eleições para o Parlamento local um mês depois do plebiscito.




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