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ANÁLISE
Acerto apaga slogans
FRANÇOIS SERGENT
do "Libération", em Belfast
Pela primeira vez, a ênfase é
de crédito. "Um novo começo
para a Irlanda do Norte", afirmaram, em termos surpreendentemente parecidos, Tony
Blair e Gerry Adams.
O acordo concluído ontem é
realmente histórico. Pela primeira vez desde a Guerra da Irlanda, em 1916, um acordo inclui o conjunto das comunidades do norte, protestantes e católicas, com todos os seus
componentes.
O acordo indica, de início, o
reconhecimento da identidade
nacionalista da minoria católica, maltratada desde a partilha
de 1921. Pela primeira vez, o
Ulster não é apenas protestante e britânico, mas também irlandês e católico.
David Trimble, protestante
que representa a maioria dos
norte-irlandeses, será o primeiro premiê da Irlanda do
Norte. Segundo o acordo, porém, seu vice-premiê será um
católico, John Hume.
Finalmente, os protestantes,
pressionados, cederam. De um
lado, sofreram a pressão dos
britânicos, cansados com o alto preço do conflito, em homens, em libras esterlinas e em
imagem. Foram persuadidos
também pela idéia de que é
melhor negociar do que seguir
enfrentando os católicos.
Os nacionalistas, sobretudo
os republicanos, também adotaram um novo senso de realismo para abandonar seu slogan
"fora britânicos".
Para o IRA e o Sinn Fein,
após 30 anos de guerra e 3.200
mortos, fica a mensagem de
que a Irlanda unida só virá
através do voto, e não do fuzil.
O Sinn Fein diz que o acordo
é só uma "transição". Mas, tendo em conta a demografia local
e a forte população protestante
que deseja continuar britânica,
essa etapa será longa.
Os acordos, porém, ainda
não são totalmente aceitos.
Parte dos unionistas já chama
Trimble de "traidor". São minoritários, mas influentes e armados. Para agradá-los, Trimble pode sabotar o acordo, sob
o risco de provocar reações
violentas no campo oposto.
Há fissuras também entre os
republicanos. O IRA mantém o
cessar-fogo, mas dissidentes já
tentaram promover atentados.
Para desencorajar os que
querem matar a paz, o acordo
deve ter resultados rápidos. De
forma prudente, Londres e
Dublin marcaram eleições para o Parlamento local um mês
depois do plebiscito.
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