São Paulo, sábado, 11 de abril de 1998

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Sem Clinton, acordo não sairia

RUPERT CORNWELL
do "The Independent"

Tudo começou há seis anos, quando o então candidato à Casa Branca fez uma promessa para um grupo étnico que arregimenta 40 milhões de pessoas nos EUA, os americanos de origem irlandesa. Vai atingir seu clímax em seis semanas, quando Bill Clinton visitar a Irlanda do Norte pouco antes do referendo sobre o acordo de paz. O acordo de ontem não foi firmado com base em propostas americanas. Mas sem o apoio dos EUA, sem os esforços de Clinton, ele talvez nunca tivesse sido concluído.
De volta a 1992, tornar-se um dos principais personagens de um marco histórico como esse não estava nos planos de Clinton. Suas promessas de nomear um enviado especial ao Ulster eram uma manobra para conquistar votos.
Mas que desvantagem havia em intervir no problema da Irlanda do Norte? O sucesso seria um prêmio maior que qualquer outro. E se ele falhasse -qual o problema? Clinton iria apenas se juntar aos estadistas que não conseguiram resolver a questão irlandesa.
Então, algo aconteceu. Clinton começou a levar o Ulster a sério. Talvez fosse sua ascendência irlandesa, talvez o fato de ele haver testemunhado de perto os episódios de 1969 (quando explodiu a violência na região), como aluno da Rhodes Scholar, em Oxford.
Primeiro, o viés foi nacionalista. Um membro da família Kennedy foi enviado a Dublin, Clinton ignorou a fúria do Reino Unido e as advertências de seu Departamento de Estado ao conceder um visto para Gerry Adams, do Sinn Fein.
Mas Washington percebeu que havia dois lados nas discussões.
A partir de 1995, os unionistas começaram a ser tratados de forma igual. Gradualmente, os britânicos perceberam que os EUA eram algo além de simpatizantes da causa secessionista.
Ontem, Clinton deu mostras evidentes de seu envolvimento na solução do problema do Ulster. Segundo a Casa Branca, o presidente dos EUA teria permanecido acordado a noite toda e, por diversas vezes, conversou com os negociadores. Um porta-voz do governo britânico disse mesmo que Clinton deu um empurrão final ao acordo ao conversar com o unionista David Trimble, que estava relutante em aceitar os termos do documento assinado ontem.


Com agências internacionais
Tradução de Rodrigo Castro


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