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ORIENTE MÉDIO
Vestígios do cotidiano durante o cerco estavam por todos os lados; gruta de Jesus foi um dos lugares mais preservados
Igreja ficou suja, mas não foi destruída
DA REDAÇÃO
Um forte cheio de urina. Pratos
sujos empilhados. Cobertores
imundos recobrindo o chão. O
complexo da igreja da Natividade
estava ontem repleto de sujeira ao
final de 38 dias do cerco militar israelense.
Apesar da sujeira, o interior do
local que é um dos mais sagrados
do cristianismo -foi numa gruta
situada sob a edificação que Jesus
nasceu, segundo a tradição cristã- não foi destruído.
Jornalistas que visitaram a igreja após o desfecho da crise ontem
disseram que a gruta foi um dos
lugares que permaneceram mais
limpos e intocados.
"Até onde consegui ver, a gruta
estava absolutamente intocada",
contou Anne Garrels, da National
Public Radio dos EUA, uma das
primeiras a entrar.
Segundo alguns padres, por ser
o local mais quente da igreja, militantes palestinos inicialmente
dormiam em seu interior. A pedidos dos religiosos, que desejavam
continuar a fazer os ritos cristãos
na gruta, eles improvisaram suas
"camas" em outro lugar.
Em vista da gravidade do enfrentamento -Israel trocou tiros
e diversas ocasiões com palestinos refugiados na igreja-, os danos materiais não foram grandes.
Algumas vidraças foram quebradas. Um mosaico no teto, feito no
século 12, que teria sido atingido
por balas, continua em boas condições, assim como uma estátua
da Virgem Maria (no complexo
da igreja) também baleada. Um
ambiente reservado para estudos
religiosos apresentava algumas
marcas de um incêndio -provocado por tentativas de entrada no
complexo da igreja, segundo religiosos.
Um padre, que pediu que seu
nome não fosse revelado, reclamou dos hábitos de ativistas estrangeiros, acusando-os de desrespeitar a igreja fumando e tomando álcool.
Um religioso mexicano, padre
Nicholas, disse ainda que, nos primeiros dias do cerco, militantes
palestinos recolheram candelabros e "qualquer coisa que parecesse ouro". Os itens foram posteriormente devolvidos.
Nicholas disse que ele e outros
padres deram aos palestinos pão,
chá, açúcar e macarrão. Quando
acabou a comida, alguns invadiram a cozinha em busca de alimento, segundo ele.
Vestígios da vida tensa e tumultuada na basílica estavam por toda a parte. Entre cobertores sujos
e colchões havia pontas de cigarros, isqueiros, um tubo de pasta
de dentes, uma loção pós barba,
um pente e sacos de plástico.
A palestina cristã Sandy Shaheen, 18, que mora em Belém,
chorava ao caminhar dentro da
igreja ontem.
"Espero que isso não aconteça
novamente. Não deveria acontecer. A igreja deveria ser sempre
um local de oração, não de hostilidades", disse o arcebispo Aristarchos, da Igreja Ortodoxa Grega.
Também foram encontradas
panelas e um fogãozinho a gás,
usado para as poucas refeições
quentes.
A alimentação do grupo, aliás, é
motivo de controvérsias. Durante
todo o período, os palestinos relatavam grande sofrimento por fome das pessoas na igreja.
Ontem, porém, os jornalistas
encontraram um armário cheio
de comida -mais de 20 sacos de
lentilhas e arroz, latas de feijão e
óleo de cozinha.
Ainda não se sabe ao certo se os
palestinos exageravam em suas
descrições ou se o fornecimento
de comida aumentou nos últimos
dias.
Poucas horas após a transferência dos militantes palestinos para
a faixa de Gaza ou para o exílio na
Europa, Belém já recuperava a
sua dinâmica, com centenas de
pessoas reunidas na praça da
Manjedoura para reencontrar parentes e amigos. A cidade permaneceu grande parte das últimas
cinco semanas sob toque de recolher. Suas ruas, por onde circulavam tanques e blindados israelenses, estavam desérticas.
A entrada do público na igreja,
porém, foi retardada por cerca de
dez ativistas estrangeiros do chamado Movimento Internacional
de Solidariedade. Alegando que
Belém não está sob jurisdição israelense, eles se negavam a sair da
igreja e tiveram de ser retirados a
força por policiais de Israel.
Satisfeitos por retomar o controle da igreja da Natividade, padres gregos e franciscanos tocaram os sinos por vários minutos
seguidos e realizaram um serviço
religioso.
Com agências internacionais
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