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Obama indica uma ex-professora sua à Suprema Corte
Elena Kagan, 50, que atualmente advoga para o governo ante o tribunal, seria a quarta mulher da história a assumir o cargo
Indicada não tem nenhuma experiência como juíza; Casa Branca aposta em seu poder de persuasão para fazer corte
pender a favor do governo
ANDREA MURTA
DE WASHINGTON
O presidente dos EUA, Barack Obama, indicou ontem
Elena Kagan, 50, para substituir na Suprema Corte do país o
juiz John Paul Stevens, 90, que
irá se aposentar.
Kagan (pronuncia-se "Quêigan") foi professora de Obama
na Universidade Harvard e é
considerada uma escolha segura, com estilo e visão legal parecidos com os do presidente.
Se confirmada pelo Senado, a
judia de Nova York será a quarta mulher a chegar ao cargo na
história e a terceira a compor o
corpo atual de juízes do órgão,
do qual também será a integrante mais jovem.
"Elena é respeitada e admirada não só por seu intelecto, mas
também por seu temperamento -sua abertura para diferentes pontos de vista, seu hábito
de entender antes de discordar,
seu senso de justiça e sua habilidade em construir consenso",
disse Obama ao indicá-la.
Kagan, a seu lado, tentou demonstrar moderação. Ela disse
que ficaria honrada em servir
em um tribunal que "dá a todos
os americanos, independente
de histórico ou crença, a chance
de audiências justas".
Kagan nunca foi juíza e passou a maior parte da carreira na
vida acadêmica, principalmente em Harvard, onde dirigiu a
Escola de Direito de 2003 a
2009. No último ano, trabalhou
advogando pelo governo na Suprema Corte, função desempenhada no Brasil pelo advogado-geral da União.
Ela foi ainda assistente do
juiz do supremo Thurgood
Marshall (1908-1993), conselheira da Casa Branca no governo Bill Clinton (1993-2001) e
consultora entre 2005 e 2008
do banco Goldman Sachs.
Criada em Manhattan, é filha
de uma professora e um advogado e estudou em Princeton,
Oxford e Harvard.
Apesar do bom currículo, incomoda a falta de conhecimento público sobre as posições de
Kagan em temas polêmicos como aborto ou porte de armas.
Essa falta de experiência, porém, pode trabalhar a seu favor.
Sem histórico de decisões, é
mais difícil encontrar motivos
para barrar a indicação.
Um dos poucos fatos concretos que vêm sendo levantados
contra ela remonta a seu período como diretora da Escola de
Direito em Harvard: à época,
Kagan impediu o acesso de
agentes de recrutamento das
Forças Armadas ao campus por
considerar os militares discriminatórios contra gays.
Para a função de advogada-geral, Kagan foi aprovada pelo
Senado no ano passado com sete votos republicanos a favor e
31 contra. O governo espera
manter pelo menos os votos favoráveis anteriores, apesar de
uma sabatina para a Suprema
Corte ser bem mais minuciosa.
Persuasão
A substituição não deverá alterar o equilíbrio da corte, já
que tanto Kagan quanto Stevens são de tendência progressista. O órgão tem, a grosso modo, quatro conservadores, quatro progressistas e um conservador moderado, Anthony
Kennedy, a quem muitas vezes
cabe o desempate.
Para analistas, a intenção de
Obama com a escolha não foi a
de levar alguém profundamente progressista ao órgão, e sim
uma pessoa persuasiva, que
possa conquistar o apoio de
Kennedy em casos difíceis.
O governo teme a chegada à
corte de alguns de seus mais
importantes projetos, como a
reforma do sistema de saúde.
"O presidente provavelmente vê Kagan como reflexo das
coisas que valoriza em si mesmo -pragmatismo, desejo de
unificar as pessoas, experiência
acadêmica", disse Tom Goldstein, advogado e analista especializado em Suprema Corte.
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