São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

Próximo Texto | Índice

GUERRA SEM LIMITES

País prende americano que estaria preparando atentado com "bomba suja", feita com material radiativo

EUA dizem ter evitado ataque radiativo

Reuters - 1991
Abdullah al Mujahir, 31, cujo nome de batismo seria José Padilla, que foi preso em maio nos EUA


SÉRGIO DÁVILA
DE NOVA YORK

O secretário da Justiça dos EUA, John Ashcroft, anunciou ontem a prisão de um suposto terrorista da organização Al Qaeda que teria planos de cometer um atentado com uma "bomba suja" no país. "Nós acabamos com um plano terrorista, que estava em andamento", disse ele em transmissão de TV em Moscou, onde está em visita oficial.
O anúncio veio menos de 72 horas depois de o presidente George W. Bush ter proposto a criação de um novo gabinete para cuidar da segurança interna dos EUA, já como resposta às críticas que as duas principais agências federais de inteligência, FBI e CIA, vêm sofrendo por sua atuação antes de 11 de setembro.
"Bomba suja" é um explosivo que mistura uma base de material convencional, como dinamite, com material radiativo. Detonado numa cidade, causaria mais pânico do que destruição e mortes.

"Fontes múltiplas"
Segundo o secretário da Justiça, a hipótese de que o suspeito preso ontem planejava um atentado nessas condições teriam vindo de "fontes múltiplas e independentes".
O suspeito é o norte-americano Abdullah al Mujahir, 31, cujo nome de batismo seria José Padilla (as autoridades não deram detalhes sobre a nacionalidade dos pais dele).
Mujahir/Padilla teria sido preso em 8 de maio ao desembarcar no aeroporto de Chicago (Estado de Illinois), vindo de viagem ao Paquistão.
Funcionários do governo Bush que falaram na condição de anonimato disseram que há motivos para crer que o alvo do atentado fosse Washington.
Eles afirmaram ainda que as informações que levaram à prisão de Mujahir/ Padilla vieram de interrogatórios com Abu Zabaidah, um dos mais graduados membros da Al Qaeda que estão sob custódia do governo norte-americano.

Gangues de rua
Ashcroft afirmou que o prisioneiro nasceu em Nova York e cumpriu prisão nos Estados Unidos no começo dos anos 90 por envolvimento com gangues de rua em Chicago.
Em 2001, ele teria viajado para Afeganistão, Paquistão, Egito e Suíça, onde teria se encontrado com membros da Al Qaeda -a rede terrorista cujo líder, o saudita Osama bin Laden, assumiu, em vídeo divulgado pelos EUA, a autoria dos atentados de 11 de setembro.
"Ele treinou com o inimigo, o que incluiu estudos sobre como ativar explosivos e pesquisar a dispersão de aparatos radiológicos", disse o secretário.
Aparentemente, segundo Ashcroft, a Al Qaeda acreditava que Mujahir/ Padilla pudesse ter mais liberdade de locomoção dentro dos EUA por ser cidadão norte-americano.

"Combatente inimigo"
O suposto terrorista está numa prisão de alta segurança da Marinha na Carolina do Sul, detido como "combatente inimigo", mesma condição do chamado "americano do Taleban", John Walker Lindh.
Isso significa que seus direitos são restritos e que ele será julgado por um tribunal militar secreto. Além disso, o acesso a seu advogado, que é de Nova York mas não quer se identificar, será limitado e vigiado.
A decisão de julgá-lo como combatente inimigo foi assinada pelo presidente George W. Bush na noite de anteontem, por recomendação tanto de Ashcroft quanto do secretário da Defesa, Donald Rumsfeld.
Não ficou claro o motivo de o secretário da Justiça ter divulgado apenas ontem, durante viagem a Moscou, uma prisão realizada em maio.

Críticas e pressões
O tom das declarações de Bush dá a entender, no entanto, que o timing do anúncio de ontem tem a ver com a saraivada de críticas que o FBI (polícia federal) e a CIA (agência de inteligência) vêm sofrendo por, supostamente, terem negligenciado pistas que poderiam antecipar os atentados de 11 de setembro.
As agências de segurança e inteligência são alvo de um comitê de investigação atualmente em curso no Congresso.
Bush procurou capitalizar a prisão de Abdullah al Mujahir. "Graças à vigilância de nossas agências de inteligência e de manutenção da lei, ele está agora fora das ruas", disse o presidente ontem em Washington, depois de se encontrar com o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon.



Próximo Texto: Comentário: Justiça impedida
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.