|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMENTÁRIO
Justiça impedida
DO "THE NEW YORK TIMES"
A agressão às liberdades civis
lançada pela administração Bush
desde os ataques de 11 de setembro alcançou um novo limite,
quando o Departamento da Justiça (DJ) argumentou recentemente ante um tribunal que um detido
nascido nos EUA, que pode ser cidadão americano, não deve ser
autorizado a conversar com um
advogado. É o mesmo DJ que se
recusou a divulgar os nomes e os
locais onde se encontram estimadas 1.200 pessoas detidas desde 11
de setembro e que insistiu em ouvir os depoimentos delas a portas
fechadas. São políticas que ferem
frontalmente a Constituição, o
que alguns tribunais começaram
a dizer em decisões recentes.
O governo quer retratar suas
políticas duras em relação aos detidos como sendo aplicadas só a
estrangeiros. Mas o caso de Iasser
Esam Hamdi mostra que cidadãos americanos podem ser
igualmente vulneráveis à perda de
seus direitos. Prisioneiro da guerra do Afeganistão, Hamdi nasceu
nos EUA, e, embora sua família o
tenha levado de volta à Arábia
Saudita, é possível que nunca tenha desistido da cidadania com a
qual nasceu. Hamdi foi mantido
preso em Guantánamo até ser levantada a questão de sua cidadania e ser transferido para prisão
nos EUA. Parece que, de acordo
com o previsto na Sexta Emenda
constitucional, ele tem o direito
de ser representado por advogado. Mas o DJ vem bloqueando as
tentativas feitas pela defesa pública federal da Virgínia de reunir-se
com ele. Isso é indefensável. Uma
corte federal em Norfolk decidiu
que o defensor público deve ter
acesso a Hamdi. O DJ apelou.
O DJ também foi alvo de repreensão judicial devido à sua política de negar-se a divulgar os nomes dos detidos. O encarceramento secreto de pessoas traz à
mente os livros de Kafka e histórias reais sobre a vida num Estado
policial. O governo alega que as
informações podem ajudar a Al
Qaeda a saber quais de seus agentes estão presos. Em março, um
tribunal de Nova Jersey decidiu
que o público deve ter acesso a informações sobre os detidos.
Outro direito que vem sendo
desrespeitado pelo DJ é a tradição
de manter julgamentos abertos,
da qual o país muito se orgulha. O
governo proibiu, por motivos de
segurança nacional, que a imprensa e o público tenham acesso
às audiências dos imigrantes detidos após 11 de setembro. Em casos delicados, o governo pode
buscar proteger provas específicas. Mas não existe justificativa
para sua abordagem abrangente.
O número de detidos pós-11 de
setembro caiu para cerca de cem,
com boa parte sendo deportada
ou, em alguns casos, libertada.
Mas a guerra contra o terrorismo
continua, e parece inevitável que
as fileiras de detidos voltem a
crescer. Divulgar publicamente
seus nomes, realizar procedimentos imigratórios abertos e fornecer acesso a advogados não são gestos humanitários, mas parte fundamental de nossa Justiça.
Texto Anterior: Guerra sem limites: EUA dizem ter evitado ataque radiativo Próximo Texto: Multimídia: Bush proporá doutrina de "primeiro golpe' Índice
|