São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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GUERRA SEM LIMITES

Muito menos poderoso que as armas nucleares, o artefato tem como função disseminar material radiativo

"Bomba suja" causa mais pânico que vítimas

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

A "bomba suja" que os americanos estão agora temendo está mais próxima de um acidente radiativo como os de Goiânia ou de Tchernobil do que das bombas nucleares lançadas sobre Hiroshima e Nagasaki em 1945.
Esse tipo de bomba é apenas uma maneira de espalhar material radiativo e contaminar seja um prédio, seja um quarteirão ou mesmo um bairro de uma cidade. Mais do que uma arma de destruição de massa, ela provoca pânico em massa.
Ao contrário de uma bomba nuclear, na qual o que de fato explode é o material radiativo, na "suja" o explosivo é convencional, cuja função é apenas disseminar o material radiativo colocado em torno dele.
Por isso essas bombas são muito menos poderosas que as armas nucleares, mas são uma arma ideal para terroristas: relativamente fáceis de construir e capazes de provocar um pânico desproporcional aos seus efeitos.
Basta ver o que aconteceu na capital de Goiás em setembro de 1987. Catadores de papel e ferro-velho acharam uma cápsula de césio-137 e a destruíram com marretadas. O material radiativo se espalhou pelo local, ou foi carregado por eles a outros pontos da cidade.
Quatro pessoas morreram então, mas muitas outras foram contaminadas -55 vítimas receberam altas doses de radiação, e centenas ficaram expostas a doses menores. Largas áreas ficaram interditadas e foram produzidas milhares de toneladas de lixo tóxico. As pessoas tinham medo até de viajar a Goiânia.
Um grupo terrorista pode optar por explodir um caminhão com uma grande bomba, ou usar artefatos menores espalhados por uma cidade. Não há consenso entre especialistas quanto ao número de mortos de um ataque destes.

Invisível
O material radiativo assusta porque é invisível. Não há como sentir sua presença. Só detectores permitem descobrir uma contaminação. Logo, o potencial para pânico é enorme.
Depois do acidente na usina nuclear de Tchernobil, na Ucrânia, em abril de 1986, mais de 100 mil pessoas foram retiradas de uma área de cerca de 30 km em torno do local.
Como consequência direta do acidente morreram 31 pessoas; outras centenas tiveram graus variados de doença. Os ventos e a força da explosão espalharam partículas radiativas por boa parte do hemisfério Norte.

Facilidade
A "bomba suja" pode ser facilmente feita com uma ou mais cápsulas como a de Goiânia, ou com combustível de usinas nucleares, como o urânio ou o plutônio.
Mesmo em países como os EUA eventualmente uma cápsula dessas pode parar em um ferro-velho, ou, mais simplesmente, ser roubada de um hospital.
Já combustível nuclear usado abunda nos países que faziam parte da antiga União Soviética. Muito combustível está disponível não em grandes usinas -onde a vigilância é maior-, mas em pequenos e automáticos geradores de energia utilizando estrôncio-90 ou césio-137 espalhados em regiões remotas.



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