São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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CRIME

Antigo chefão era conhecido por seu jeito elegante e por escapar de condenações até 1992, quando foi sentenciado à pena perpétua

Gotti, líder mafioso de NY, morre de câncer na prisão

SELWYN RAAB
DO "THE NEW YORK TIMES"

John Gotti, 61, o chefão nos anos 1980 da mafiosa família Gambino, de Nova York, até ser condenado à prisão perpétua, morreu ontem em uma prisão hospitalar em Springfield, no Missouri. Ele sofria de câncer desde 1998, quando foi diagnosticado ao cumprir pena em uma prisão de segurança máxima.
Gotti sempre foi diferente dos tradicionais líderes mafiosos, que evitam dar publicidade a suas vidas privadas. Ele preferia aparecer em público, atraindo a atenção da imprensa como o chefão do mais influente grupo de crime organizado dos Estados Unidos. Era visto com frequência jantando com celebridades do "showbiz" em restaurantes elegantes de Nova York e em casas noturnas escoltado por guarda-costas.
No fim de 1985, quando Gotti arquitetou o assassinato de seu antecessor, Paul Castellano, em Manhatan, até 1990 -quando foi preso e, dois anos mais tarde, condenado à prisão perpétua-, a aparente imunidade dele a punições da Justiça lhe conferiu um status mítico. Ele chegou a ser inocentado em três julgamentos.
Por escapar das condenações, os tablóides nova-iorquinos o apelidaram de "Dom Teflon". Outro apelido era "Dom Garboso", por suas roupas e modos elegantes. No auge de seu poder, Gotti vestia ternos de US$ 2.000, com gravatas de US$ 400. Grande gastador, comprava garrafas raras de conhaque, pagando cerca de US$ 1.000 por cada uma delas. E nunca se preocupou em perder mais de US$ 250 mil jogando em cassinos.
Salvatore Gravano, o braço direito de Gotti antes de desertar para ajudar o governo a derrubar seu antigo chefe, disse que o líder mafioso se enxergava como um Robin Hood, admirado e respeitado por todos.
Certa vez, quando estavam em um restaurante e Gotti era o centro das atenções, Gravano lhe perguntou se ele não ficava incomodado de ficar sendo observado pelas pessoas. "Não, não", teria respondido o mafioso. "Esse é meu público. Eles me amam."
Em contraste com sua personalidade amigável que procurava demonstrar em público, fitas secretas gravadas pelo FBI (polícia federal dos EUA) e testemunhos de antigos seguidores pintam um retrato sinistro de Gotti: o de um tirano narcisista, com temperamento furioso, que traía seus aliados e ordenava sem perdão o assassinato de pessoas que ele suspeitava serem informantes ou que não lhe tivessem mostrado respeito.
As fitas do FBI e o depoimento de ex-aliados, especialmente Gravano, levaram Gotti à prisão e à sua condenação. Ele foi casado com Victoria di Giorgio, com quem teve cinco filhos.
A família Gambino, no período em que foi chefiada por Carlo Gambino e Paul Castellano, praticava várias atividades ilegais, porém sempre ficaram longe do narcotráfico. Esse tipo de crime foi adotado pelo grupo apenas após Gotti assumir o poder.


Com agências internacionais


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