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EUROPA
Esquerda e direita "caçam" os que deixaram de votar
Eleitor que se absteve no primeiro turno é alvo da campanha francesa
ALCINO LEITE NETO
DE PARIS
A caça aos abstencionistas começou ontem mesmo na França, no dia seguinte às eleições legislativas. Deixaram de votar no primeiro turno 35,6% dos franceses
-cerca de 15 milhões dos quase 41 milhões de eleitores. Se eles decidirem fazê-lo na segunda fase das eleições, no próximo domingo, algumas surpresas ainda podem sair das urnas.
A direita, que ganhou o primeiro turno com 43,6% dos votos,
anunciou a mobilização. "É o segundo turno que é decisivo. É
preciso permanecer em contato
com os franceses durante toda a
semana", disse ontem o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, do
União pela Maioria Presidencial
(UMP, centro-direita), partido do
presidente Jacques Chirac, que
obteve, sozinho, 33,4% dos votos.
Para a esquerda, os que deixaram de votar são vistos como a
salvação para impedir que Chirac
tenha uma devastadora maioria
na Assembléia Nacional. A esquerda conseguiu 37,4% dos votos -23,8% para o Partido Socialista (PS).
"Para o segundo turno, a chave
está primeiro na reunião de todos
os democratas, de todas as forças
de esquerda, mas também do lado dos que não quiseram votar",
declarou o primeiro-secretário do
PS, François Hollande.
Tudo parece favorável à vitória
do bloco de centro-direita liderado por Chirac. Se confirmadas as
previsões para o segundo turno,
esse bloco, que já é majoritário no
Senado, fará entre 380 e 440 cadeiras das 577 da Assembléia Nacional. A maioria parlamentar dará a
Chirac um grande poder político,
o maior desde o governo Charles
De Gaulle, segundo analistas.
Chirac foi quem melhor soube
capitalizar a mobilização contra a
extrema direita que tomou conta
do país logo após o primeiro turno das eleições presidenciais,
quando obteve não mais do que
19,9% dos votos. No segundo turno, chegou a 82,2%, graças ao voto útil dos eleitores de esquerda
contra o líder da extrema direita
Jean-Marie Le Pen.
Entre os dois turnos, Chirac articulou um megabloco de direita,
o UMP. Ao assumir, em 5 de
maio, escolheu um premiê, Raffarin, que não estava entre os astros
do centro-direita, mas era representativo da França interiorana.
Os socialistas não tiveram a
mesma rapidez de Chirac. Ficaram praticamente sem liderança,
depois que seu principal chefe, o
ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, abandonou a política ao ser
derrotado por Le Pen nas presidenciais. Tentaram também rearticular sua antiga coalização com
outros partidos de esquerda, mas
não foram bem-sucedidos.
Mesmo assim, a coalização favoreceu o Partido Comunista
Francês, que, apesar da queda de
votos, ainda deve conservar entre
19 e 22 deputados -em 1997, o
partido elegeu 30 candidatos.
As eleições de anteontem foram
em todos os sentidos desfavoráveis à Frente Nacional (FN), de Le
Pen. O partido obteve apenas 11% dos votos e a perspectiva é que
não faça nenhum deputado.
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