São Paulo, terça-feira, 11 de junho de 2002

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EUROPA

Esquerda e direita "caçam" os que deixaram de votar

Eleitor que se absteve no primeiro turno é alvo da campanha francesa

ALCINO LEITE NETO
DE PARIS

A caça aos abstencionistas começou ontem mesmo na França, no dia seguinte às eleições legislativas. Deixaram de votar no primeiro turno 35,6% dos franceses -cerca de 15 milhões dos quase 41 milhões de eleitores. Se eles decidirem fazê-lo na segunda fase das eleições, no próximo domingo, algumas surpresas ainda podem sair das urnas.
A direita, que ganhou o primeiro turno com 43,6% dos votos, anunciou a mobilização. "É o segundo turno que é decisivo. É preciso permanecer em contato com os franceses durante toda a semana", disse ontem o primeiro-ministro Jean-Pierre Raffarin, do União pela Maioria Presidencial (UMP, centro-direita), partido do presidente Jacques Chirac, que obteve, sozinho, 33,4% dos votos.
Para a esquerda, os que deixaram de votar são vistos como a salvação para impedir que Chirac tenha uma devastadora maioria na Assembléia Nacional. A esquerda conseguiu 37,4% dos votos -23,8% para o Partido Socialista (PS).
"Para o segundo turno, a chave está primeiro na reunião de todos os democratas, de todas as forças de esquerda, mas também do lado dos que não quiseram votar", declarou o primeiro-secretário do PS, François Hollande.
Tudo parece favorável à vitória do bloco de centro-direita liderado por Chirac. Se confirmadas as previsões para o segundo turno, esse bloco, que já é majoritário no Senado, fará entre 380 e 440 cadeiras das 577 da Assembléia Nacional. A maioria parlamentar dará a Chirac um grande poder político, o maior desde o governo Charles De Gaulle, segundo analistas.
Chirac foi quem melhor soube capitalizar a mobilização contra a extrema direita que tomou conta do país logo após o primeiro turno das eleições presidenciais, quando obteve não mais do que 19,9% dos votos. No segundo turno, chegou a 82,2%, graças ao voto útil dos eleitores de esquerda contra o líder da extrema direita Jean-Marie Le Pen.
Entre os dois turnos, Chirac articulou um megabloco de direita, o UMP. Ao assumir, em 5 de maio, escolheu um premiê, Raffarin, que não estava entre os astros do centro-direita, mas era representativo da França interiorana.
Os socialistas não tiveram a mesma rapidez de Chirac. Ficaram praticamente sem liderança, depois que seu principal chefe, o ex-primeiro-ministro Lionel Jospin, abandonou a política ao ser derrotado por Le Pen nas presidenciais. Tentaram também rearticular sua antiga coalização com outros partidos de esquerda, mas não foram bem-sucedidos.
Mesmo assim, a coalização favoreceu o Partido Comunista Francês, que, apesar da queda de votos, ainda deve conservar entre 19 e 22 deputados -em 1997, o partido elegeu 30 candidatos.
As eleições de anteontem foram em todos os sentidos desfavoráveis à Frente Nacional (FN), de Le Pen. O partido obteve apenas 11% dos votos e a perspectiva é que não faça nenhum deputado.



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