São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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Irã ameaça reduzir cooperação com a agência atômica da ONU

Parlamento vai realizar sessão para aprovar legislação restringindo atuação da AIEA no país

Anúncio é reação à aprovação de sanções pela ONU; europeus discutirão agora ação unilateral contra Teerã


Hans Punz/Associated Press
Secretário-geral da AIEA, o japonês Yukiya Amano, aguarda início de sessão da agência de energia atômica ligada à ONU

DAS AGÊNCIAS DE NOTÍCIAS

Um dia após o Conselho de Segurança da ONU aprovar nova rodada de sanções contra o Irã, autoridades do país ameaçaram rever sua relação com a AIEA (agência atômica ligada à ONU), em indício de endurecimento de posições.
Qualificando a decisão do conselho como "política, ilegal e ilógica", o presidente da Comissão de Relações Exteriores e Segurança Nacional do Parlamento do Irã, Alaeddin Boroujerdi, convocou para domingo sessão com objetivo de "aprovar leis" reavaliando laços com a agência.
O parlamentar -cuja posição não reflete necessariamente a de Teerã-, não detalhou quais medidas podem ser adotadas. Mas a expectativa é a de que se resumam a novas restrições às visitas a suas instalações nucleares.
O chefe da agência atômica iraniana, Ali Akbar Salehi, disse que a eventual diminuição de relações "deverá ser examinada em detalhe, após revisão e análise", de acordo com a agência oficial Ilna.
Para Salehi, o Irã é paciente e, apesar da "provocação do Ocidente" na ONU, "não vai reagir apressadamente".
Desde a revelação, por dissidentes, de que o país tinha programa nuclear, em 2002, o Irã nunca proibiu a AIEA de realizar as inspeções, mas a agência acusou seguidas vezes o governo de restringir as suas missões de verificação.
Críticos apontam também uma piora nas relações desde a saída, em 2009, do egípcio Mohammed El Baradei da Secretaria-Geral da AIEA, sucedido por Yukia Amano, japonês tido como pró-Ocidente.

MÍSSEIS
O embaixador iraniano na agência, Ali Soltanieh, disse que "nada mudará [com a resolução da ONU]". "A República Islâmica do Irã vai continuar com suas atividades de enriquecimento", disse.
A AIEA não comentou as ameaças vindas de Teerã.
Soltanieh disparou ainda duras críticas à China, aliada iraniana que cedeu aos EUA -bem como a Rússia- para aplicar as sanções. Ele se disse perplexo com o seu "comportamento de duas faces", que "prejudicará as relações com o mundo muçulmano".
Já a Rússia, que também recebeu críticas nos últimos dias, disse ontem que as punições não impedem a venda de mísseis ao Irã -embora fonte anônima tenha indicado o contrário horas antes- e a cooperação nuclear civil.
Os líderes de Pequim e Moscou, Hu Jintao e Dmitri Medvedev, tiveram encontro ontem numa cúpula regional boicotada pelo colega iraniano, Mahmoud Ahmadinejad.
Em sua cobertura das sanções, a televisão estatal centrou o papel de Brasil e Turquia -dois únicos membros que votaram contra o texto.
A posição dos dois países, que haviam mediado acordo com Teerã em maio -rejeitado pelo Ocidente-, foi retratada como uma derrota dos EUA em alcançar consenso.
Em outra frente na reação à adoção das sanções contra o Irã, países árabes manobraram para que a AIEA realizasse ontem, pela primeira vez em 20 anos, debate sobre o programa nuclear israelense -o qual o país não confirma, mas tampouco nega possuir.
Contrariando EUA e União Europeia, o grupo de 18 países árabes colocou o tema na pauta de discussão e fez dura crítica, afirmando que Israel "desafia a comunidade internacional ao resistir continuamente" a referendar o TNP.
Israel -que tem estimadas 80 a 200 ogivas nucleares- vê o Irã como risco existencial e usou ameaça de atacá-lo caso as sanções não fossem aprovadas para ajudar a convencer países resistentes, sobretudo a China, a votar a favor da nova resolução.

SANÇÕES DA UE
Também ontem, diplomatas europeus indicaram que já na próxima semana os líderes da União Europeia devem acordar a aplicação de novas restrições, desta vez unilaterais, contra Teerã.
A estratégia de apertar o cerco ao Irã na esteira da ONU já vinha sendo delineada pelos EUA, cujo Congresso discute punições unilaterais consideradas muito mais duras que as internacionais.


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