São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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Lula intercedeu por apoio turco na ONU

Presidente brasileiro convenceu premiê Erdogan sobre voto contra sanções ao Irã momentos antes de sessão

Apesar de ter costurado acordo nuclear com Brasil e Irã, Turquia pretendia se abster em voto na sessão do CS


SAMY ADGHIRNI
DE SÃO PAULO

O Brasil escapou por pouco de ficar totalmente isolado na posição contrária às sanções ao Irã aprovadas anteontem pelo Conselho de Segurança da ONU (CS).
Segundo a Folha apurou, a Turquia só decidiu se alinhar ao Brasil no voto contra as sanções após dois telefonemas entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o premiê turco, Recep Tayyip Erdogan.
As consultas entre os dois membros não permanentes do CS atrasaram em uma hora o início da sessão.
De acordo com fontes diplomáticas, o embaixador turco na ONU, Ertugrul Apakan, chegou à sala do Conselho de Segurança com a ordem de se abster, frustrando a expectativa do Brasil, que contava com o apoio de Turquia e Líbano na votação.
Iniciou-se então uma rodada de conversas e telefonemas entre os governos brasileiro e turco, em meio a fortes pressões dos EUA nos corredores da ONU para que a Turquia não se alinhasse ao Brasil contra sanções.
Lula, que cumpria agenda em Natal (RN), e Erdogan conversaram uma primeira vez no início da manhã. Em seguida, o premiê turco ligou para o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, e voltou a telefonar para Lula, fechando acordo para o voto.

LÍBANO
A sessão ocorreu logo após o embaixador turco ter recebido telefonema de Ancara com a nova recomendação.
O Líbano, cujo governo está dividido entre aliados dos EUA e do Irã, se absteve.
Uma fonte do Planalto negou que tenha havido pressão brasileira pelo apoio da Turquia, mas admite que Lula e Erdogan conversaram sobre "como agir juntos".
A hesitação da Turquia acerca de sanções ao Irã já havia ficado clara no último dia 17, em meio à mediação por brasileiros e turcos de um acordo para convencer Teerã a enviar parte de seus estoques de urânio para ser enriquecido no exterior.
Erdogan só decidiu ir a Teerã após ter certeza de que Lula, que chegara um dia antes ao Irã, obtivera garantias de que o governo iraniano assinaria o documento.
O governo turco, dominado por um partido de raízes islâmicas, está incomodado com a percepção de muitos europeus e americanos de que está se distanciando da órbita ocidental em favor de países vistos como radicais.
Ao mesmo tempo em que intensifica elos com Irã, Síria e o grupo radical palestino Hamas, a Turquia segue sendo o único país islâmico a integrar a Otan (aliança militar ocidental) e o que tem as melhores relações com Israel.
Mas o recente ataque israelense a uma frota humanitária que ia a Gaza (no qual morreram nove turcos) abalou a relação com Israel.


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