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"Mártir das expropriações" irrita Chávez
Produtor rural radicaliza greve de fome, e governo promove entrevista coletiva para expor sua versão do caso
Governo sustenta que
já atendeu os pedidos
do ativista e afirma que os opositores querem manipular o episódio
FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS
Em greve de fome há mais
de cem dias e sem beber líquidos há pelo menos 15, o
produtor rural Franklin Brito
diz que só deixará o protesto
quando o governo Hugo Chávez revogar a expropriação
de suas terras no Estado de
Bolívar (sul).
Caracas diz que já atendeu
o pedido de Brito e acusa a
oposição de manipulá-lo.
O caso de Brito se arrasta
desde 2005, mas com sua decisão de radicalizar o jejum e
a piora de sua saúde, o governo resolveu, ontem, convocar jornalistas e órgãos como
a ONU e a OEA (Organização
dos Estados Americanos) para falar do tema.
"Estamos respeitando o direito de greve de fome, mas,
ao mesmo tempo, e por ordem judicial, estamos preservando sua vida", disse Earle
Siso, diretor do hospital militar onde Brito está internado
desde janeiro.
O chanceler Nicolás Maduro e o vice-presidente Elías
Jaua também participaram
da entrevista coletiva e acusaram a oposição de orquestrar "uma campanha internacional" contra Chávez.
O temor é que a oposição
faça de Brito "o primeiro
mártir das expropriações".
Sua filha, Angela, 20, disse
que é vedada a entrada de
membros da Cruz Vermelha
Internacional no hospital,
como solicitado pelo pai.
"Ele não quer ser tratado
pelos médicos daqui", disse
à Folha, na segunda, quando os advogados de Brito foram à Justiça exigir a permissão. "Não nos falam nada sobre a saúde dele."
Ontem, o governo afirmou
que a Cruz Vermelha está autorizada a visitá-lo.
Brito já fez ao menos cinco
greves de fome e, em 2005,
cortou um dedo ante às câmeras de TV também para
protestar.
Angela diz que o pai recebeu o equivalente a US$ 186
mil do governo, mas que
quer devolver porque exige
que Caracas reconheça que
se trata de uma indenização
pelos danos causados.
"Ele está sequestrado",
afirmou a líder do oposicionista Um Novo Tempo, Delsa
Solórzano.
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