São Paulo, sexta-feira, 11 de junho de 2010

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"Mártir das expropriações" irrita Chávez

Produtor rural radicaliza greve de fome, e governo promove entrevista coletiva para expor sua versão do caso

Governo sustenta que já atendeu os pedidos do ativista e afirma que os opositores querem manipular o episódio


FLÁVIA MARREIRO
DE CARACAS

Em greve de fome há mais de cem dias e sem beber líquidos há pelo menos 15, o produtor rural Franklin Brito diz que só deixará o protesto quando o governo Hugo Chávez revogar a expropriação de suas terras no Estado de Bolívar (sul).
Caracas diz que já atendeu o pedido de Brito e acusa a oposição de manipulá-lo.
O caso de Brito se arrasta desde 2005, mas com sua decisão de radicalizar o jejum e a piora de sua saúde, o governo resolveu, ontem, convocar jornalistas e órgãos como a ONU e a OEA (Organização dos Estados Americanos) para falar do tema.
"Estamos respeitando o direito de greve de fome, mas, ao mesmo tempo, e por ordem judicial, estamos preservando sua vida", disse Earle Siso, diretor do hospital militar onde Brito está internado desde janeiro.
O chanceler Nicolás Maduro e o vice-presidente Elías Jaua também participaram da entrevista coletiva e acusaram a oposição de orquestrar "uma campanha internacional" contra Chávez.
O temor é que a oposição faça de Brito "o primeiro mártir das expropriações".
Sua filha, Angela, 20, disse que é vedada a entrada de membros da Cruz Vermelha Internacional no hospital, como solicitado pelo pai.
"Ele não quer ser tratado pelos médicos daqui", disse à Folha, na segunda, quando os advogados de Brito foram à Justiça exigir a permissão. "Não nos falam nada sobre a saúde dele."
Ontem, o governo afirmou que a Cruz Vermelha está autorizada a visitá-lo.
Brito já fez ao menos cinco greves de fome e, em 2005, cortou um dedo ante às câmeras de TV também para protestar.
Angela diz que o pai recebeu o equivalente a US$ 186 mil do governo, mas que quer devolver porque exige que Caracas reconheça que se trata de uma indenização pelos danos causados.
"Ele está sequestrado", afirmou a líder do oposicionista Um Novo Tempo, Delsa Solórzano.


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