São Paulo, quinta-feira, 11 de julho de 2002

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SEGUNDO TURNO

Candidatura de indígena provoca receio

Indefinição eleitoral na Bolívia provoca filas em bancos de La Paz

RODRIGO UCHÔA
DA REDAÇÃO

Um dia depois da confirmação de que Evo Morales disputará o segundo turno presidencial com o liberal Gonzalo Sánchez de Lozada, correntistas fizeram filas em bancos de La Paz, temendo que a indefinição política se reflita na crise econômica da Bolívia.
Morales, que tem como plataforma a defesa dos plantadores de coca e a reestatização das empresas de gás, sofre resistências por parte dos EUA, que têm uma importante influência sobre o país.
Como nenhum candidato teve mais de metade dos votos no pleito do dia 30 de junho, a Constituição manda que o Congresso escolha, em agosto, o novo presidente.

Congratulações
A apreensão de alguns dos bolivianos, porém, não se refletiu nas entidades indígenas dos países andinos, que celebraram a ocasião."A votação de Morales é uma mensagem importante para todos os indígenas das Américas que lutam para defender suas identidades e seus territórios ante a ditadura do neoliberalismo imposta pelos EUA", disse o presidente da Onic (Organização Indígena da Colômbia), Armando Valbuena.
Há cinco parlamentares de origem indígena no Congresso colombiano e um governador, Floro Tununbalá. Cerca de 1 milhão de indígenas integram a população de 40 milhões do país.
"É um orgulho. A candidatura de Morales mostra que temos os mesmos direitos", disse o deputado indígena equatoriano Luis Talagua. Além de Talagua, há apenas mais três deputados indígenas num país de 12 milhões de habitantes, mas que tem quase 40% de indígenas em sua população.
No Peru, Miguel Clemente, presidente da Confederação Nacional Agrária, afirmou esperar que com Morales "não aconteça o que aconteceu com o presidente peruano, Alejandro Toledo". Segundo ele, Toledo "saiu de uma comunidade indígena andina, mas está se mostrando de ultradireitista, deixando-se sequestrar pelo FMI e pelo Banco Mundial".
Para o cientista político Tito Zambra, as entidades indígenas andinas têm conseguido um grande desenvolvimento organizacional nos últimos anos, o que pode se refletir numa maior participação política.
"Temos de lembrar que os indígenas conseguiram desestabilizar e derrubar o governo do ex-presidente Jamil Mahuad, no Equador, e conseguem paralisar as estradas da Bolívia com suas manifestações. Isso parece agora se canalizar para uma maior representação nos Parlamentos desses países", disse Zambra.



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