São Paulo, domingo, 11 de julho de 2004

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JAPÃO

Derrota de seu partido nas disputas de hoje podem levar Koizumi à renúncia

Eleições ameaçam premiê japonês

JAMES BROOKE
DO ""NEW YORK TIMES", EM TÓQUIO

Depois de três anos no poder, o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, está perdendo sua positiva aura inicial de ""outsider" político e, segundo analistas, será obrigado a lutar por sua vida política nas eleições de hoje da Câmara Alta do Parlamento.
Koizumi espera apenas conquistar 50 das 51 cadeiras atualmente ocupadas por seu Partido Liberal-Democrático (PLD). Mas sua aprovação popular caiu para cerca de 40%, percentual baixo se comparado com os 80% de 2001.
Na realidade, governando em grande medida com base em sua popularidade pessoal e passando por cima dos líderes de seu partido, Koizumi conseguiu tornar-se o premiê japonês a ocupar o poder por mais tempo desde Yasuhiro Nakasone, na década de 1980. Mas essa popularidade foi prejudicada por mudanças no sistema de aposentadoria -incluindo o aumento das contribuições e a redução dos benefícios- e pelo envio de 550 soldados ao Iraque.
Uma sondagem recente constatou que 70% dos entrevistados desaprovam as mudanças na Previdência adotadas no mês passado. As modificações foram aprovadas depois de vir à tona que vários parlamentares, incluindo o próprio Koizumi, deixaram de contribuir para o sistema previdenciário por anos a fio.
Alguns dias depois da aprovação, o governo divulgou novas estatísticas demográficas mostrando que o índice de natalidade caiu para um nível ainda mais baixo do que aquele utilizado para calcular os aumentos das contribuições. Muitos trabalhadores jovens não pagam os prêmios da aposentadoria por achar que, dentro de 30 ou 40 anos, não haverá trabalhadores suficientes no país para financiar suas próprias pensões. ""Nunca vou ver a cor dessa aposentadoria", disse a estudante de sociologia Tomoko Koyama, de 21 anos.
No final de maio, os jornalistas começaram a chamar a atenção para os pagamentos de aposentadoria que Koizumi deixou de fazer. O premiê então mudou de assunto, anunciando repentinamente uma viagem de um dia à Coréia do Norte.
A Câmara Alta do Parlamento possui principalmente o poder de veto, nada mais, e apenas metade de suas 242 cadeiras estão em jogo na eleição. Mas uma performance fraca na eleição poderia solapar a posição de Koizumi em seu próprio partido e, possivelmente, obrigá-lo a renunciar.
""Koizumi vai permanecer no poder", previu na terça-feira o editor do boletim político ""Tokyo Insideline", Takao Toshikawa. ""Mas vai perder força e não vai poder continuar atuando com seu estilo próprio."
Parte dessa idéia se deve à percepção de que, apesar da retomada econômica, Koizumi não realizou grande coisa no governo a não ser proezas de fachada, próprias para chamar a atenção do público na televisão.
Muitos eleitores já disseram que pretendem votar no Partido Democrático do Japão, criado para apoiar o livre comércio. ""O Japão de hoje perdeu seu rumo", disse o líder do partido, Katsuya Okada, em sua plataforma eleitoral. ""O país está girando em círculos e não está sabendo aproveitar a característica fantástica do povo japonês que é o fato de ele ser tão trabalhador."


Tradução de Clara Allain


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