São Paulo, sexta-feira, 11 de agosto de 2000


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DIREITOS HUMANOS
Conflito terminou em 1996, após 36 anos
Governo da Guatemala admite atrocidades durante a guerra civil

JAN MCGIRK
DO "THE INDEPENDENT", NA CIDADE DA GUATEMALA

O presidente da Guatemala, Alfonso Portillo, surpreendeu organizações de direitos humanos ao admitir, ontem, o envolvimento do governo em uma série de atrocidades cometidas durante a brutal guerra civil de 36 anos que terminou em 1996 e deixou ao menos 200 mil mortos.
Anunciada logo após o julgamento de outros repressores da América Latina -especialmente o fim da imunidade parlamentar do ex-ditador chileno Augusto Pinochet-, a declaração de Portillo é vista como um gesto significativo, que inclui a promessa de investigar massacres contra aldeias guatemaltecas e processar os assassinos, além de indenizar parentes das vítimas.
"O que o presidente fez hoje (ontem) demonstra muita coragem", afirmou Claudio Grossman, presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). "O desafio é investigar os responsáveis pelas violações e castigá-los."
A confissão governamental pode trazer consequências profundas. Apenas dois dias depois da divulgação de um relatório sobre violações aos direitos humanos em abril de 1998, o bispo Juan Gerardi, que trouxe à tona a questão, foi assassinado. A polícia deteve cinco pessoas, mas o caso ainda não foi esclarecido.
O presidente Portillo disse que tropas guatemaltecas mataram mais de 300 índios em 1982, reconheceu o assassinato de dezenas de estudantes esquerdistas em 1989 e admitiu as suspeitas sobre a morte, em 1990, de Myrna Mack, antropóloga que havia acusado o Exército de violar os direitos dos maias.
Muitos ativistas guatemaltecos consideram a nova investigação uma resposta à pressão internacional e à tentativa oficial de combater a cultura da violência que atinge o país. Linchamentos e uma onda de crimes nas ruas desfiguraram a administração de Portillo, que enviou sua família para o Canadá depois que um grupo de sequestradores lhe enviou repetidas ameaças de morte.
Portillo foi eleito em janeiro com promessas de reconciliação nacional. Apesar de sua ligação com o ex-ditador militar Efrain Rios Montt, ele diz ter certeza de que as feridas de seu país começam a sarar.
Ele pediu desculpas pelos excessos cometidos pelo governo e indicou ativistas de direitos humanos para seu governo. Uma das mais graves ações admitidas foi a política de incendiar aldeias indígenas, implementada por Rios Montt, que deixou centenas de mortos em 1982.
No ano passado, em meio à campanha eleitoral, uma missão das Nações Unidas havia acusado a Guatemala de praticar genocídio durante a guerra civil e pediu o reconhecimento do governo. Diversos processos já foram abertos pela Justiça.


Tradução de Paulo Daniel Farah


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