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DIREITOS HUMANOS
Conflito terminou em 1996, após 36 anos
Governo da Guatemala admite atrocidades durante a guerra civil
JAN MCGIRK
DO "THE INDEPENDENT", NA CIDADE DA GUATEMALA
O presidente da Guatemala, Alfonso Portillo, surpreendeu organizações de direitos humanos ao
admitir, ontem, o envolvimento
do governo em uma série de atrocidades cometidas durante a brutal guerra civil de 36 anos que terminou em 1996 e deixou ao menos 200 mil mortos.
Anunciada logo após o julgamento de outros repressores da
América Latina -especialmente
o fim da imunidade parlamentar
do ex-ditador chileno Augusto Pinochet-, a declaração de Portillo
é vista como um gesto significativo, que inclui a promessa de investigar massacres contra aldeias
guatemaltecas e processar os assassinos, além de indenizar parentes das vítimas.
"O que o presidente fez hoje
(ontem) demonstra muita coragem", afirmou Claudio Grossman, presidente da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). "O desafio é investigar os responsáveis pelas violações e castigá-los."
A confissão governamental pode trazer consequências profundas. Apenas dois dias depois da
divulgação de um relatório sobre
violações aos direitos humanos
em abril de 1998, o bispo Juan Gerardi, que trouxe à tona a questão,
foi assassinado. A polícia deteve
cinco pessoas, mas o caso ainda
não foi esclarecido.
O presidente Portillo disse que
tropas guatemaltecas mataram
mais de 300 índios em 1982, reconheceu o assassinato de dezenas
de estudantes esquerdistas em
1989 e admitiu as suspeitas sobre
a morte, em 1990, de Myrna
Mack, antropóloga que havia acusado o Exército de violar os direitos dos maias.
Muitos ativistas guatemaltecos
consideram a nova investigação
uma resposta à pressão internacional e à tentativa oficial de combater a cultura da violência que
atinge o país. Linchamentos e
uma onda de crimes nas ruas desfiguraram a administração de
Portillo, que enviou sua família
para o Canadá depois que um
grupo de sequestradores lhe enviou repetidas ameaças de morte.
Portillo foi eleito em janeiro
com promessas de reconciliação
nacional. Apesar de sua ligação
com o ex-ditador militar Efrain
Rios Montt, ele diz ter certeza de
que as feridas de seu país começam a sarar.
Ele pediu desculpas pelos excessos cometidos pelo governo e indicou ativistas de direitos humanos para seu governo. Uma das
mais graves ações admitidas foi a
política de incendiar aldeias indígenas, implementada por Rios
Montt, que deixou centenas de
mortos em 1982.
No ano passado, em meio à
campanha eleitoral, uma missão
das Nações Unidas havia acusado
a Guatemala de praticar genocídio durante a guerra civil e pediu
o reconhecimento do governo.
Diversos processos já foram abertos pela Justiça.
Tradução de Paulo Daniel Farah
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