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São Paulo, segunda-feira, 11 de agosto de 2003

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IRAQUE OCUPADO

Falta de eletricidade sob calor de 50C transforma o que era ilha de tranquilidade em palco de violência

Três morrem durante segundo dia de protesto em Basra

DA REDAÇÃO

Três pessoas foram mortas ontem durante o segundo dia de violência em Basra, a segunda maior cidade do Iraque. Os protestos são os piores contra as forças britânicas, que controlam o sul do país, desde a invasão em março.
Entre os mortos, está um nepalês que trabalhava para a Global Security e foi atingido por tiros dentro de um veículo quando entregava correspondência para a ONU. Desde a ocupação, é comum ex-gurkhas -nepaleses que fazem parte do Exército britânico- trabalharem em empresas de segurança privadas no Iraque.
Os outros dois mortos eram iraquianos. Um deles foi atingido durante um tiroteio entre moradores locais e outro caiu ao escalar um tanque de combustível.
Os protestos eclodiram na véspera devido à falta de energia elétrica e combustível frequente na cidade, onde os moradores enfrentam um calor de 50C sem poder usar geladeira e ar-condicionado. As forças britânicas culpam sabotadores e saqueadores pelos problemas de infra-estrutura.
"[Os britânicos] não nos deram o prometido. Cansamos de esperar", disse o estudante Hassan Jasim. "Não temos combustível, eletricidade nem salário", completou o motorista Fadil Salman.
Como no sábado, os protestos se concentraram em postos de gasolinas e depósitos de combustível. Centenas de manifestantes interditaram ruas, queimaram pneus e apedrejaram veículos. As tropas britânicas, auxiliadas por um pequeno contingente tcheco, dispararam tiros para o ar.

Tranquilidade abalada
Até então, apenas um incidente grave -a morte de seis policiais britânicos, em junho, por iraquianos que protestavam contra a invasão de suas casas- fora registrado no sul do Iraque.
Há dois motivos para tanto: primeiro, a região é controlada pelos britânicos -cuja relação com os iraquianos é melhor-, segundo, o sul tem maioria xiita, corrente muçulmana reprimida durante a ditadura de Saddam Hussein, um sunita. Até agora, a violência se concentrou no noroeste -controlado pelos EUA e dominado por sunitas-, onde há mais simpatizantes do regime deposto. O saldo de americanos mortos em ações hostis no pós-guerra soma 55, contra seis britânicos.
Novos ataques feriram mais dois soldados americanos e um jornalista da TV catariana Al Jazira em Bagdá e outros dois soldados em Tikrit (norte), a cidade em que Saddam foi criado.
Na capital, seis iraquianos foram mortos durante a noite quando soldados americanos atiraram aleatoriamente após confundirem a explosão acidental de um transformador com uma bomba.
O Comando Central Americano (Centcom) também anunciou a morte de um soldado em decorrência do calor, elevando para 118 as baixas dos EUA no pós-guerra.

Ameaças
Os militares atribuem os ataques a simpatizantes do regime deposto. Mas em entrevista ao "New York Times", o chefe da Autoridade Provisória da Coalizão (APC), Paul Bremer, disse haver indícios da presença no Iraque do grupo terrorista Ansar al Islam, que seria ligado à Al Qaeda (responsável pelo 11 de Setembro). O grupo é suspeito do atentado contra a Embaixada da Jordânia que matou 17 pessoas na quinta-feira.
Além disso, a Al Jazira exibiu o depoimento de membros do autodenominado "Exército de Muhammed" prometendo transformar o Iraque em "um imenso cemitério". O grupo, que diz possuir 5.000 membros e nega ter ligação com Saddam, clama a autoria dos ataques a soldados dos EUA.


Com agências internacionais

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