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"Terror espetacular"
fracassa, diz analista
OCTAVI MARTÍ
DO "EL PAÍS"
O francês Gilles Kepel é catedrático em ciências políticas e especialista em assuntos do Oriente
Médio. Para ele, as ações terroristas espetaculares como a do 11 de
Setembro são um fracasso porque
não resultaram em mobilização
das "massas populares" para "dotar o movimento extremista islâmico de uma base real".
Pergunta - Três anos depois do 11
de Setembro, como se pode descrever a situação?
Gilles Kepel - Os supostos dois
grupos ou civilizações monolíticos imaginados por Samuel Huntington apresentam muitas rachaduras, e elas são muito mais
graves e profundas no mundo islâmico do que no Ocidente.
Europa e EUA estão hoje muito
mais distantes do que em 11 de setembro de 2001. Pode ser, além
disso, que estejamos assistindo ao
nascimento de uma opinião pública européia, que saiu às ruas
contra a Guerra do Iraque.
E, quando pensamos no mundo
islâmico, é preciso constatar que
os projetos de Ayman al Zawahiri,
o grande ideólogo da Al Qaeda,
estão muito distantes da realização. As operações de terrorismo
espetacular não serviram para
mobilizar as massas populares,
para dotar o movimento islâmico
de uma base real.
O lema -a declaração de uma
jihad contra Israel- só serviu para arrebatar ao presidente palestino, Iasser Arafat, a bandeira do
nacionalismo árabe, dando-lhe
uma dimensão islamizante e religiosa, mas a realidade é que o único país que eles controlavam, o
emirado afegão, escapou-lhes das
mãos, e a Al Qaeda, como estrutura centralizada, está inoperante.
É certo, evidentemente, que os
atentados se multiplicaram, em
Bali, na Ossétia do Norte e em
Madri, mas tudo isso é contraproducente para o islã e semeou a divisão em seu interior: Iraque ocupado, Arafat em situação precária, sunitas divididos, como os xiitas, Hamas neutralizado, Ariel
Sharon construindo seu muro...
Pergunta - Seria quase possível
afirmar que a chamada guerra contra o terror atingiu seus objetivos.
Kepel - Veja, as intervenções no
Afeganistão e no Iraque se assemelham ao trabalho de um cirurgião que remove um tumor sem
se preocupar com a metástase.
Hoje não há ninguém controlando a jihad, e os terroristas são como franqueados da Al Qaeda.
Os EUA se mostraram incapazes de pensar sobre o terrorismo
fora dos velhos esquemas de oposição entre blocos, entre Estados.
Aplicaram suas armas de destruição em massa à galáxia da Al Qaeda. Na Rússia, Putin resolveu o seqüestro como se fosse a revolução
húngara de 1956.
Pergunta - O sr. acha que a Europa seja berço do islã "moderno"?
Kepel - A batalha que será travada em nosso continente será crucial, e não se pode permitir que os
muçulmanos que vivem na Europa fiquem excluídos, sob pretexto
da defesa do multiculturalismo. É
preciso facilitar a participação social desses setores, propiciar a inserção democrática.
Os franceses de origem judaica
não são eleitos à Assembléia Nacional como representantes da
comunidade judaica, mas como
deputados de um determinado
distrito.
A escola, a vida social, a participação nas instituições como cidadãos iguais, esse é o caminho a seguir em uma sociedade democrática, a qual não aceita que os indivíduos se organizem pelo que são,
mas pelo que fazem ou querem
ser e fazer.
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