São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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SEGREDOS DO ITAMARATY FOLHA TRANSPARÊNCIA

Documento mostra Taleban descontrolado

Em papéis diplomáticos obtidos pela Folha, Paquistão relata a diplomata brasileiro perda de influência sobre grupo

Movimento radical do Afeganistão protegia Bin Laden até 2001, quando EUA atacaram país após o 11/09

Osamu Semba - 26.mar.2001/Associated Press
Soldado Taleban em frente a local onde ficavam estátuas de Buda destruídas pelo grupo

FERNANDA ODILLA
RUBENS VALENTE

DE BRASÍLIA

Um mês após os atentados de 11 de setembro de 2001, um alto membro do governo paquistanês narrou ao Brasil que seu país fracassou na tentativa de persuadir o Taleban a evitar a guerra com os EUA e a entregar Osama bin Laden -à época mantido como "hóspede" do movimento radical no Afeganistão.
O relato é parte das novas mensagens confidenciais do Itamaraty que a partir de hoje estão na Folha Transparência, da Folha.com. A revelação de que o Taleban estava sem controle foi feita em jantar em 10 de outubro de 2001, três dias após o primeiro bombardeio dos EUA contra o Afeganistão.
O ministro do Interior, Moinuddin Haider, afirmou ao embaixador brasileiro Abelardo Arantes Jr. que a direção do Taleban "carece de sofisticação política", "é politicamente primitiva e ignora realidades internacionais". Segundo relato do embaixador ao Itamaraty, na conversa o paquistanês admite que o país não conseguiu convencer o Taleban a "evitar o desastre que se preparava".
Também citou a fracassada tentativa de dissuadir a destruição de estátuas colossais de Buda em março de 2001, após a aprovação de sanções contra o Taleban.
A destruição das imagens pré-islâmicas foi tratada diretamente pelo ministro Haider com o líder do regime, o mulá Mohammed Omar. "Em seus três encontros, antes da atual crise, teria percebido a cegueira do Taleban", diz o texto, que assinala o caráter primitivo e inflexível do movimento que comandou o Afeganistão entre 1996 e 2001, na visão do ministro paquistanês.
Para o embaixador brasileiro, ficou claro que o Paquistão abandonara o Taleban, aliado de outrora que ajudou a treinar e se armar.

INTELIGÊNCIA
As relações entre paquistaneses e Taleban é citada pelo Brasil em telegrama analisando a troca dos comandantes militares do Paquistão como forma de afastar lideranças ligadas ao grupo.
Entre os que perderam o cargo estava o general do serviço de inteligência paquistanês, o ISI, que teria ajudado a formar as primeiras tropas do movimento islâmico.
Não era apenas o Paquistão que criticava publicamente o Taleban. Em outro telegrama confidencial, o embaixador do Brasil destacou que representantes ocidentais, como um adido militar da União Europeia, diziam-se surpreendidos com a falta de técnica do movimento.


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