São Paulo, domingo, 11 de setembro de 2011

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"Bancos viraram armadilhas", diz cineasta Johnnie To

Novo longa do diretor de Hong Kong quer mostrar o comportamento humano no atual cenário financeiro

Autor famoso de filmes de ação enfoca agora cinco pessoas que tentam sobreviver na incerteza da economia

GABRIELA LONGMAN
ENVIADA ESPECIAL A VENEZA

Johnnie To está sentado com o mar Adriático ao fundo. Um grande charuto na boca, um terno bem cortado e uma gravata estampada com o logo da Louis Vuitton.
O produtor e diretor, um dos grandes nomes do cinema de Hong Kong, poderia perfeitamente ser um personagem de seu novo filme, "Life Without Principle", trama que gira em torno do universo desgovernado do mercado financeiro.
"Eu costumava pensar que os bancos eram o lugar mais seguro para colocar dinheiro", falou o cineasta à Folha, em Veneza, durante o festival de cinema terminado ontem.
"Você podia deixar suas economias lá e ganhar algo com os juros. Hoje eles se tornaram uma armadilha. Quando o banco vê que o cliente tem muito dinheiro, tenta convencê-lo a investir aqui ou lá. Ironicamente, se você não faz nada, cobram taxas por não estarem 'usando' seu dinheiro."
Exibido em competição no 68º Festival de Veneza, o longa costura a história de cinco personagens: o milionário Chung Yuen, a bancária Teresa (Denise Ho), o detetive Cheung Jin Fong (Richie Jen) e o golpista Panther (Lay Ching Wau), cada um deles tentando sobreviver à sua maneira num universo de ações flutuantes, incertezas e frustrações de todo o tipo.
Famoso por seus filmes de ação, tiros e perseguições, To brinca dizendo que desta vez fez um filme em torno de "pessoas normais". "Não estou tentando revelar nenhum segredo, todos sabem como funciona o mercado de capitais em tempos contemporâneos. Meu interesse é pelo comportamento humano."
Para evitar ser demitida, Teresa precisa cumprir metas. Passa madrugadas no escritório e é impelida pela chefe a empurrar para os clientes um novo fundo de investimento nos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China). Se sente culpada, por exemplo, de vender o fundo para uma dona de casa que não tem muito a arriscar.
Perguntado sobre a importância do cinema feito nestas "novas economias", o diretor foi enfático: "Em qualquer lugar em que há uma economia forte, as pessoas querem mais e mais entretenimento. Eu diria que agora é um momento ótimo para fazer filmes nos Brics. Grandes salas de cinema estão sendo abertas na China e que nunca houve tantas estreias simultâneas no país, imagino que nos outros países aconteça algo similar."
Um obstáculo fundamental, entretanto, impede o país de alçar voos mais ambiciosos: "O cinema da China está crescendo vertiginosamente, mas ainda depende da censura. Se a censura se tornar mais aberta, mais liberal, acredito que o cinema chinês poderá ocupar o mercado internacional de forma mais efetiva."


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