São Paulo, sábado, 11 de outubro de 1997.



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Sou uma 'boa menina' diz vencedora

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
de Washington

Uma "clássica boa menina", como ela própria se define, e uma das entidades que ela ajudou a estabelecer em sua vida de ativismo político, a Campanha Internacional pela Proibição de Minas Antipessoais, ganharam o Prêmio Nobel da Paz ontem.
Jody Williams, a coordenadora do grupo, lançou um desafio ao presidente dos EUA, Bill Clinton, para que o país adira, como outros 93, a um tratado mundial, negociado em Oslo para banir as minas.
"Os EUA não podem continuar tentando manter a ficção de que eles são os líderes no tema da eliminação das minas", disse Williams, 37, em Putney, Vermont, Costa Leste do país, onde vive.
A Campanha foi iniciada em 1992 por Williams e um grupo de militantes, entre os quais Rober Muller, presidente da Fundação dos Veteranos do Vietnã na América.
A principal adesão que a entidade recebeu foi a da princesa Diana, que se envolveu na luta contra as minas nos últimos meses de sua vida. Sua visita a Angola, um dos dois países do mundo mais afetados por minas teve grande cobertura dos meios de comunicação.
Mas Francis Sejerstedt, presidente do comitê que escolhe o vencedor do Prêmio Nobel da Paz, disse ontem que seu grupo havia "notado que a princesa Diana foi uma dos que se engajaram na causa (contra as minas)", mas que
"há outras pessoas envolvidas".
O comitê, de cinco pessoas, se reúne em Oslo, Noruega, em absoluto segredo, e nunca anuncia quais foram as outras pessoas ou entidades consideradas para ganhar o prêmio. No entanto, especulava-se que entre os finalistas deste ano estavam os dissidentes chineses Wei Jingsheng e Wang Dan, Richard Holbrooke, o diplomata norte-americano que negociou o acordo de paz para a ex-Iugoslávia, e a organização humanitaria Médicos Sem Fronteiras.
Cerca de 26 mil pessoas morrem ou são mutiladas a cada ano por minas. Os EUA se recusam a assinar o acordo de Oslo por acharem que elas ainda são necessárias na península da Coréia para defender as suas tropas ali estacionadas.
Williams, que vai dividir com a Campanha o prêmio em dinheiro que a Fundação Nobel concede aos vencedores, discorda da argumentação do governo Clinton. "Desculpem-me, mas não há nada de único na situação da Coréia que justifique a utilização de minas terrestres".
A carreira de militância política de Williams começou nos anos 80, quando ela se envolveu com grupos que protestavam contra a política dos EUA para a América Central. Depois, ela participou da Fundação dos Veteranos do Vietnã na América, onde surgiu a idéia da campanha contra as minas.
O prêmio será entregue em Oslo, no dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred Nobel, o inventor da dinamite, que estabeleceu o financiou com o seu testamento.



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