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Mediador veterano ganha Nobel da Paz
Atuação de Martti Ahtisaari, ex-presidente de Finlândia, é marcada por sucessos na África, Ásia e Europa e pela controvérsia de Kosovo
Belgrado e Moscou vêem na premiação uma tentativa de legitimar a independência da Província sérvia, mas evitam ataque a laureado
Markku Ulander/France Press/Lehtikuva
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Ex-presidente finlandês Martti Ahtisaari dá entrevista coletiva após decisão do Comitê do Nobel
DA REDAÇÃO
O ex-presidente finlandês
Martti Ahtisaari, diplomata e
mediador da ONU, receberá o
Prêmio Nobel da Paz deste ano.
A escolha reconhece seus "importantes esforços, em vários
continentes e por mais de três
décadas para resolver conflitos
internacionais", afirmou ontem o comitê norueguês responsável ao anunciar a decisão.
Como representante da
ONU, Ahtisaari mediou os diálogos que culminaram, em
1990, na independência da Namíbia, ex-protetorado sul-africano. O finlandês, que fundou
em 2000 uma ONG dedicada à
mediação de conflitos, supervisionou o desarmamento do
IRA (Exército Republicano Irlandês) e, na Ásia, teve papel
crucial no fim do conflito separatista de Aceh, na Indonésia.
Mas a carreira do diplomata,
de 71 anos, é marcada também
pela controvérsia em torno da
independência de Kosovo, Província sérvia de maioria albanesa. Em 1999, Ahtisaari levou o
então presidente sérvio, Slobodan Milosevic -que mais tarde
foi a julgamento por crimes de
guerra-, a aceitar as condições
impostas pelos EUA e aliados
da Otan, a aliança militar ocidental, para firmar a paz.
O plano esboçado pelo diplomata resultou em uma independência pacífica de Kosovo,
após as guerras que dividiram a
antiga Iugoslávia na década de
1990. Mas a viabilidade do jovem Estado, na prática um protetorado europeu cuja soberania foi reconhecida por 47 países, é questionável. Belgrado e
Moscou jamais a aceitaram.
Controvérsia
Recebida com entusiasmo na
Europa, nos Estados Unidos e
nos países africanos e asiáticos
onde Ahtisaari atuou como mediador, a decisão do comitê desagradou a sérvios e russos.
"Ele é um negociador muito
hábil. Mas, na Sérvia, será sempre lembrado como o arquiteto
da separação de Kosovo", disse
o chanceler Zivadin Jovanovic.
"Não vejo razão para que este
político respeitável tenha recebido honra tão grande. Para
mim, parece uma tentativa retrospectiva de certificar a qualidade do assim chamado Plano
Ahtisaari, que não resolveu
problemas (...) e fundamentou
o reconhecimento ilegítimo de
Kosovo como nação independente", disse Konstantin Kosachev, presidente da Comissão
de Relações Exteriores do Parlamento russo.
Já o presidente do Parlamento Europeu, Hans-Gert Pöttering, elogiou a premiação, que
considerou uma honra para a
Finlândia e a União Européia
(UE) em conjunto. "Nossa experiência de trabalhar juntos
na Europa para construir a paz
e prosperidade no continente
se converteu em modelo para o
mundo", disse. Foi durante a
Presidência de Ahtisaari que,
em 1995, os finlandeses aprovaram a entrada do país na UE.
Sem a campanha ostensiva
dos partidários da indicação de
Ingrid Betancourt e do dissidente chinês Hu Jia, Ahtisaari
foi escolhido entre 197 indicados. Citado há anos entre os
possíveis laureados, ele emocionou-se ao saber da escolha
do comitê: "É um prêmio a toda
uma vida". O finlandês se irritou com repórteres que perguntaram o que faria com o dinheiro: "Isso é da minha conta". Depois, afirmou que os recursos ajudariam seu trabalho
de mediação e se disse interessado em combater o desemprego entre os jovens no mundo.
"Construir uma sociedade
pacífica exige tanto esforço
quanto negociar a paz", disse
ele em entrevista à TV norueguesa. O prêmio de 10 milhões
do coroas suecas (cerca de US$
1,4 milhão) será entregue em
Oslo, em 10 de dezembro.
Histórico
Personalidades e instituições
de todo o mundo podem indicar nomes para o prêmio até 31
de janeiro. Depois, o Comitê do
Nobel da Paz, formado por cinco pessoas escolhidas pelo Parlamento norueguês, seleciona
candidatos mais adequados e
nomeia um vencedor.
Criado segundo as orientações do testamento do químico
sueco Alfred Nobel, que destinou a maior parte de sua fortuna à criação de cinco prêmios, o
Nobel é dado apenas a personalidades ainda vivas, como um
endosso às suas causas.
Em 1948, o prêmio não foi
entregue, pois o mahatma Gandhi, um dos nomeados, foi assassinado antes da escolha.
Quando, em 1961, o comitê o
entregou ao secretário-geral da
ONU Dag Hammarskjöld, morto em acidente aéreo antes da
reunião, o estatuto passou a vetar prêmios póstumos.
Para o presidente do Comitê
do Nobel da Paz, Ole Danbolt
Mjoes, a premiação de Ahtisaari contribui para uma resolução
pacífica do conflito no Iraque,
onde o diplomata atua na mediação entre xiitas e sunitas.
Com agências internacionais
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