São Paulo, sábado, 11 de outubro de 2008

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Equador adota tom conciliatório

Chanceler equatoriana telefona a Amorim um dia depois de o Brasil cancelar missão comercial ao país

Governo brasileiro espera nota de Correa para reduzir tensão; funcionários da Odebrecht já deixaram a embaixada em Quito

ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA

A chanceler do Equador, María Isabel Salvador, telefonou ontem para o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) num "tom conciliador", conforme descrito à Folha pela assessoria do ministro.
O telefonema foi um dia depois de o Brasil ter suspendido a ida de uma missão técnica a Quito no próximo dia 15, como retaliação às ameaças equatorianas de expulsar do país a construtora privada Norberto Odebrecht e a estatal Petrobras. Um dos objetivos da missão seria discutir o projeto de integração viária Manta-Manaus, que une os dois países e é especialmente estratégico para o Equador.
Na conversa com Amorim, Salvador disse que o presidente Rafael Correa deveria divulgar entre ontem e hoje uma nota oficial para tentar amenizar o clima tenso entre os dois países, depois que o Equador iniciou uma seqüência de ataques à construtora Norberto Odebrecht e à Petrobras.
Num primeiro decreto, o governo equatoriano suspendeu quatro contratos com a Odebrecht e proibiu quatro de seus funcionários de deixarem o país. Dois deles já estavam de volta ao Brasil.
Os outros dois, Fernando Bessa e Eduardo Gedeon, abrigaram-se na residência oficial do Brasil até a quarta-feira passada, quando o Itamaraty recebeu um informe da embaixada em Quito avisando que eles se disseram cansados da situação e saíram, contra a orientação dos diplomatas.
Na última quarta-feira, o governo Correa anunciou que um segundo decreto cancelaria todos os negócios da Odebrecht com o Estado equatoriano -o que equivaleria à expulsão da empresa do país-, mas até o fechamento da edição não havia cumprido a ameaça (veja texto nesta página).
Quito também acenara com a possibilidade de não pagar uma dívida de US$ 243 milhões com o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiou a construção da hidrelétrica de San Francisco, pivô da crise com a Odebrechet.
San Francisco apresentou problemas de estrutura e de desgaste prematuro de turbinas 14 meses depois de ser inaugurada. O governo equatoriano apontou problemas na execução da obras, enquanto a empresa alegou que a paralisação se deveu à erupção de um vulcão que aumentou o nível de sedimentos na água.
O outro ponto de discórdia é a mudança do contrato com a Petrobras para a exploração do bloco 18. Como fez com as demais petroleiras estrangeiras, Correa insiste em mudar o atual acordo de sociedade por um contrato de prestação de serviços, para que toda a produção seja do país. A Petrobras não aceita e exige indenização pelos investimentos já feitos.
O que mais irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que se esforçava para manter um clima de entendimento, foi o fato de Rafael Correa não ter cumprido o acordo selado com ele em Manaus, em 30 de setembro. Pelo acordo, Correa recuaria no decreto contra a Odebrecht, cancelaria a punição aos quatro brasileiros e reabriria negociações.
Contrariado, e por sugestão de Celso Amorim, Lula abortou a ida da missão técnica a Quito.


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