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Equador adota tom conciliatório
Chanceler equatoriana telefona a Amorim um dia depois de o Brasil cancelar missão comercial ao país
Governo brasileiro espera nota de Correa para reduzir tensão; funcionários da Odebrecht já deixaram
a embaixada em Quito
ELIANE CANTANHÊDE
COLUNISTA DA FOLHA
A chanceler do Equador, María Isabel Salvador, telefonou
ontem para o ministro Celso
Amorim (Relações Exteriores)
num "tom conciliador", conforme descrito à Folha pela assessoria do ministro.
O telefonema foi um dia depois de o Brasil ter suspendido
a ida de uma missão técnica a
Quito no próximo dia 15, como
retaliação às ameaças equatorianas de expulsar do país a
construtora privada Norberto
Odebrecht e a estatal Petrobras. Um dos objetivos da missão seria discutir o projeto de
integração viária Manta-Manaus, que une os dois países e é
especialmente estratégico para
o Equador.
Na conversa com Amorim,
Salvador disse que o presidente
Rafael Correa deveria divulgar
entre ontem e hoje uma nota
oficial para tentar amenizar o
clima tenso entre os dois países, depois que o Equador iniciou uma seqüência de ataques
à construtora Norberto Odebrecht e à Petrobras.
Num primeiro decreto, o governo equatoriano suspendeu
quatro contratos com a Odebrecht e proibiu quatro de seus
funcionários de deixarem o
país. Dois deles já estavam de
volta ao Brasil.
Os outros dois, Fernando
Bessa e Eduardo Gedeon, abrigaram-se na residência oficial
do Brasil até a quarta-feira passada, quando o Itamaraty recebeu um informe da embaixada
em Quito avisando que eles se
disseram cansados da situação
e saíram, contra a orientação
dos diplomatas.
Na última quarta-feira, o governo Correa anunciou que um
segundo decreto cancelaria todos os negócios da Odebrecht
com o Estado equatoriano -o
que equivaleria à expulsão da
empresa do país-, mas até o fechamento da edição não havia
cumprido a ameaça (veja texto
nesta página).
Quito também acenara com
a possibilidade de não pagar
uma dívida de US$ 243 milhões
com o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico e Social), que financiou a
construção da hidrelétrica de
San Francisco, pivô da crise
com a Odebrechet.
San Francisco apresentou
problemas de estrutura e de
desgaste prematuro de turbinas 14 meses depois de ser
inaugurada. O governo equatoriano apontou problemas na
execução da obras, enquanto a
empresa alegou que a paralisação se deveu à erupção de um
vulcão que aumentou o nível
de sedimentos na água.
O outro ponto de discórdia é
a mudança do contrato com a
Petrobras para a exploração do
bloco 18. Como fez com as demais petroleiras estrangeiras,
Correa insiste em mudar o
atual acordo de sociedade por
um contrato de prestação de
serviços, para que toda a produção seja do país. A Petrobras
não aceita e exige indenização
pelos investimentos já feitos.
O que mais irritou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
que se esforçava para manter
um clima de entendimento, foi
o fato de Rafael Correa não ter
cumprido o acordo selado com
ele em Manaus, em 30 de setembro. Pelo acordo, Correa
recuaria no decreto contra a
Odebrecht, cancelaria a punição aos quatro brasileiros e
reabriria negociações.
Contrariado, e por sugestão
de Celso Amorim, Lula abortou
a ida da missão técnica a Quito.
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