São Paulo, terça-feira, 11 de outubro de 2011

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Nobel premia macroeconomia dos BCs

Vencedores Thomas Sargent e Christopher Sims teorizaram sobre influência das expectativas nas políticas de juros

Premiação é vista como recado aos governos sobre sua responsabilidade em lidar com a crise global

PAULA LEITE
EDITORA-ASSISTENTE DE MERCADO
TONI SCIARRETTA
DE SÃO PAULO

Quando os juros sobem, o crescimento da economia e a inflação caem, certo? Ninguém contesta isso; na prática, quase nunca é simples a relação entre "causa e efeito" dessas políticas nas vendas das empresas e no comportamento do consumidor.
Os economistas vencedores do Prêmio Nobel neste ano -os americanos Thomas Sargent, 68, e Christopher Sims, 68, das universidades de Nova York e Princeton- procuraram teorizar sobre a influência de fatores pouco objetivos ("expectativas", "timing", fator surpresa etc.) no sucesso dessas políticas.
Sargent e Sims, colegas de doutorado em Harvard, propuseram modelos para quantificar essas influências, que são usados pelos bancos centrais, incluindo o brasileiro (são citados no relatório de inflação), em suas políticas.
Visto como um recado aos formuladores de políticas, o Nobel deste ano joga luz para a responsabilidade dos governos em lidar com a crise em um momento que parece ter se esgotado o arsenal de armas disponíveis.
"Pânicos, crises... o que está acontecendo na Europa agora com o euro. Isso tudo tem tudo a ver com as expectativas sobre o que as outras pessoas pensam em fazer", afirmou ontem Sargent.
As pesquisas tentam resolver uma das principais limitações da macroeconomia, que é a impossibilidade de fazer experimentos.

SEM COBAIAS
Na saúde, podem-se usar cobaias para receber ou não um remédio. Na macroeconomia, não é possível dividir os países e aumentar os juros de alguns, mantendo o de outros, para ver o que acontece.
Também é difícil prever o impacto de um aumento dos juros no PIB (Produto Interno Bruto) diferenciando o que é efeito do PIB nos juros, o que é efeito de outras variáveis e o que teria acontecido se os juros tivessem se mantido iguais.
Para resolver esse impasse, Sargent criou um modelo pelo qual se estima uma série de parâmetros que simulam o que ocorreria se houvesse um choque, como mudança nos juros.
Já Sims usou uma ferramenta estatística, que tenta resumir como diferentes variáveis da economia se relacionam entre si. Esses modelos permitiram aos bancos centrais, por exemplo, prever quanto tempo demora para uma mudança na taxa de juros ter efeito na inflação ou no PIB.
"A maior parte dos BCs modernos faz política com essa ideia na cabeça. São ideias vindas da academia, mas que estão sendo postas em prática diariamente", diz Ricardo Brito, do Insper.
"Os dois fundamentaram a matemática do comportamento micro para pensar temas macroeconômicos", disse Bruno Giovammetti, professor de economia da USP.


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