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Saiba o que pode ocorrer na Flórida
DA REDAÇÃO
Uma eventual decisão do Partido Democrata e de seu candidato
à Presidência, Al Gore, de entrar
com ação judicial visando alterar
o resultado oficial da votação no
Estado da Flórida seria inédita na
história dos EUA, pois nunca uma
eleição presidencial no país foi decidida por um tribunal.
Cabe, porém, a lembrança de
que a Justiça da Flórida não impede um processo do gênero. Um
texto legal, de 1998, afirma que
uma eleição pode ser anulada se
houver "dúvidas razoáveis" sobre
o resultado oficial, pois ele deve
refletir "a vontade dos eleitores".
Ou seja, não é nem mesmo necessário que haja provas de fraude
eleitoral para que um processo seja aberto. Mas o texto não prevê
quais medidas devam ser tomadas caso existam "dúvidas razoáveis" de que o resultado oficial
não reflita a vontade popular.
Várias possíveis batalhas judiciais podem ter início nos próximos dias, mas a principal delas
diz respeito à legalidade da cédula
eleitoral utilizada somente no
condado de Palm Beach, que gerou dúvidas nos eleitores e pode
ter mudado o resultado do pleito,
não refletindo a vontade de muitos dos votantes.
Advogados de eleitores de Gore
alegam que a cédula, desenhada
por Theresa LePore -fiscal do
Partido Democrata-, não respeitava as leis da Flórida.
Uma lei exige que a chapa democrata apareça após a republicana na cédula. Em Palm Beach, a
chapa Al Gore/Joseph Lieberman
estava abaixo dos candidatos do
Partido da Reforma -Pat Buchanan/Ezola Foster.
De acordo com os argumentos
dos democratas, irregularidades
fizeram com que a cédula fosse
tão confusa que cerca de 20 mil
eleitores votaram em candidato
errado ou em mais de um candidato, o que causou a anulação de
muitos votos.
"Cremos que haja irregularidades sérias e substanciais em razão
da cédula usada apenas num condado (Palm Beach)", disse Warren Christopher, ex-secretário de
Estado e conselheiro de Gore.
Já os republicanos argumentam
que diversas cópias da cédula foram distribuídas antes da eleição
em Palm Beach e que ninguém
criticou seu desenho, nem mesmo os fiscais dos dois principais
partidos. Além disso, a grande
maioria dos eleitores da Flórida
conseguiu votar em quem desejava, o que enfraquece o argumento
dos democratas.
A lei federal prevê que as eleições devam ser organizadas pelos
Estados. Com isso, qualquer ação
judicial deve ser arbitrada pela
Justiça do Estado, não chegando à
instância federal.
Há, porém, uma outra possibilidade. Se os advogados de Gore
conseguirem reunir provas de
que houve violação aos direitos
constitucionais dos eleitores, como discriminação racial, eles podem levar o caso para a Justiça federal. Mas isso é pouco provável.
Os juízes estaduais são apontados pelos governadores de cada
Estado, que seguem recomendações de uma comissão de especialistas. Todos os sete juízes da Suprema Corte da Flórida foram
apontados por ex-governadores
do Partido Democrata.
Caso os advogados de Gore ou
de seus eleitores decidam levar
adiante ações legais, ainda não se
sabe que tipo de veredicto poderia
ser pronunciado pela Justiça.
Muitos eleitores de Palm Beach
gostariam que uma nova eleição
fosse realizada, o que também desejam alguns assessores de Gore.
Mas quem teria o direito de votar
novamente? Todos os eleitores de
Palm Beach ou apenas aqueles
que votaram em 7 de novembro?
Samuel Issacharoff, professor
de direito na Universidade Columbia (Nova York), afirmou ontem que a realização de nova eleição no condado poderia ser contrária a leis federais.
"Há uma determinação federal
muito importante, que prevê que
a eleição deve ocorrer num só
dia", disse Issacharoff, que acrescentou que uma nova eleição em
Palm Beach seria "muito problemática", pois os dois partidos tentariam influenciar os poucos eleitores que decidiriam o pleito presidencial norte-americano.
Além disso, o calendário eleitoral não permite que a Justiça da
Flórida demore para tomar uma
decisão. Os delegados devem votar no Colégio Eleitoral em 18 de
dezembro, o que deixaria muito
pouco tempo para que a disputa
judiciária fosse resolvida.
Junta-se a isso o fato de que a
contagem manual dos votos de alguns condados, pedida pelos democratas, e o escrutínio dos votos
de pessoas em trânsito não terminariam antes do dia 17 de novembro.
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