|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Senadores criticam opção do candidato pela via judicial
Disputa poderá cansar a população, afirma consultor
O IMPÉRIO VOTA
Ala democrata pressiona Gore a recuar
DE WASHINGTON
Em nome da estabilidade política dos EUA e da liderança do país
no resto do mundo, setores do
Partido Democrata apelaram ontem a seu candidato à Presidência,
Al Gore, para que coloque um limite em sua decisão de questionar o resultado das eleições na
Flórida.
Os senadores democratas Robert Torricelli (Nova Jersey) e
John Breaux (Louisiana) criticaram a opção de Gore por ações judiciais e o fato de o candidato democrata ter sugerido que manteria o questionamento dos resultados mesmo depois que eles forem
anunciados oficialmente.
Juntamente com editoriais no
mesmo sentido nos principais
jornais do país (leia texto nesta
página), as declarações de ambos
tiveram impacto brutal na campanha de Gore -seu principal assessor, William Daley, recuou ontem das ameaças de processos judiciais, embora tenha mantido
um clima de enfrentamento.
Torricelli e Breaux questionaram se Gore deveria entrar com
ações, dizendo que isso poderia
danificar a confiança no processo
eleitoral.
Em entrevista à Folha feita ontem por telefone, Torricelli, que
foi o coordenador nacional dos
candidatos democratas ao Senado, disse que, embora deseje uma
vitória democrata, quer mais ainda "que alguém vença essas eleições".
Já Breaux afirmou que ações judiciais poderão desgastar a imagem do próprio Gore.
Chris Lapetina, consultor político democrata, deu ontem motivos para que Gore limite seu questionamento à sexta-feira da semana que vem, quando todos os votos enviados pelo correio já terão
sido contados na Flórida, e não
persiga o caminho judicial.
"As pessoas estão definitivamente querendo que a apuração
caminhe até sexta-feira. Mas, se o
assunto parar nos tribunais, a
maioria da população deverá chegar à conclusão de que as coisas
foram longe demais", disse.
Segundo Lapetina, ao final da
próxima semana, se Gore não tiver vencido as eleições pelos resultados oficiais, sofrerá enormes
pressões para reconhecer sua derrota e abrir caminho para o candidato republicano, George W.
Bush, tornar-se presidente.
"Os americanos parecem entender que, em algumas situações,
regras são injustas e o candidato
errado ganha, mas essas são as regras e não podemos fazer nada a
respeito", disse.
Especialistas acreditam que Gore ainda tenha a chance de fazer a
decisão mais inteligente de sua
carreira política.
Se for pensar no futuro, dizem
eles, Gore poderia reconhecer a
derrota, parecer patriótico perante à opinião pública e "deixar" para Bush uma Presidência impatriótica.
"Há alguns democratas que já
preferem deixar a Casa Branca
para Bush e então retomá-la em
grande estilo em 2004", afirmou
Cary Covington, da Universidade
de Iowa.
"Se Gore mantiver seu questionamento depois do dia 17, vai parecer impatriótico", disse Lames
Gimpel, professor de governo da
Universidade de Maryland.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem pelo senador Robert Torricelli sobre a crise
norte-americana.
Folha - Num seminário na Universidade de Princeton feito ontem, o
sr. disse que Gore e Bush não deveriam entrar com ações na Justiça.
Obviamente, o recado foi dado a
Gore, do seu próprio partido. Gore
deveria desistir?
Robert Torricelli - O recado não
foi para Gore, mas para os dois
candidatos. Quero que Gore ganhe as eleições e apóio a recontagem minuciosa dos votos na Flórida, mas acho que o processo democrático não pode sair machucado.
Folha - O sr. defende ações legais
contra eventuais irregularidades
na Flórida?
Torricelli - Não. O processo judicial começaria na Flórida e não
acabaria nunca mais. Vai haver
argumentos jurídicos dos dois lados. O presidente dos EUA não
pode ser escolhido por um juiz.
Folha - Qual é, então, o limite?
Torricelli - Defendo a recontagem manual dos votos em Palm
Beach e em outros condados. Isso
não criaria um clima de instabilidade no país.
(MARCIO AITH)
Texto Anterior: Saiba o que pode ocorrer na Flórida Próximo Texto: Clinton e ex-presidentes só falam "daquilo" Índice
|