São Paulo, sábado, 11 de novembro de 2000

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 Senadores criticam opção do candidato pela via judicial

 Disputa poderá cansar a população, afirma consultor

O IMPÉRIO VOTA
Ala democrata pressiona Gore a recuar

DE WASHINGTON

Em nome da estabilidade política dos EUA e da liderança do país no resto do mundo, setores do Partido Democrata apelaram ontem a seu candidato à Presidência, Al Gore, para que coloque um limite em sua decisão de questionar o resultado das eleições na Flórida.
Os senadores democratas Robert Torricelli (Nova Jersey) e John Breaux (Louisiana) criticaram a opção de Gore por ações judiciais e o fato de o candidato democrata ter sugerido que manteria o questionamento dos resultados mesmo depois que eles forem anunciados oficialmente.
Juntamente com editoriais no mesmo sentido nos principais jornais do país (leia texto nesta página), as declarações de ambos tiveram impacto brutal na campanha de Gore -seu principal assessor, William Daley, recuou ontem das ameaças de processos judiciais, embora tenha mantido um clima de enfrentamento.
Torricelli e Breaux questionaram se Gore deveria entrar com ações, dizendo que isso poderia danificar a confiança no processo eleitoral.
Em entrevista à Folha feita ontem por telefone, Torricelli, que foi o coordenador nacional dos candidatos democratas ao Senado, disse que, embora deseje uma vitória democrata, quer mais ainda "que alguém vença essas eleições".
Já Breaux afirmou que ações judiciais poderão desgastar a imagem do próprio Gore.
Chris Lapetina, consultor político democrata, deu ontem motivos para que Gore limite seu questionamento à sexta-feira da semana que vem, quando todos os votos enviados pelo correio já terão sido contados na Flórida, e não persiga o caminho judicial.
"As pessoas estão definitivamente querendo que a apuração caminhe até sexta-feira. Mas, se o assunto parar nos tribunais, a maioria da população deverá chegar à conclusão de que as coisas foram longe demais", disse.
Segundo Lapetina, ao final da próxima semana, se Gore não tiver vencido as eleições pelos resultados oficiais, sofrerá enormes pressões para reconhecer sua derrota e abrir caminho para o candidato republicano, George W. Bush, tornar-se presidente.
"Os americanos parecem entender que, em algumas situações, regras são injustas e o candidato errado ganha, mas essas são as regras e não podemos fazer nada a respeito", disse.
Especialistas acreditam que Gore ainda tenha a chance de fazer a decisão mais inteligente de sua carreira política.
Se for pensar no futuro, dizem eles, Gore poderia reconhecer a derrota, parecer patriótico perante à opinião pública e "deixar" para Bush uma Presidência impatriótica.
"Há alguns democratas que já preferem deixar a Casa Branca para Bush e então retomá-la em grande estilo em 2004", afirmou Cary Covington, da Universidade de Iowa.
"Se Gore mantiver seu questionamento depois do dia 17, vai parecer impatriótico", disse Lames Gimpel, professor de governo da Universidade de Maryland.
Leia a seguir trechos da entrevista concedida ontem pelo senador Robert Torricelli sobre a crise norte-americana.

Folha - Num seminário na Universidade de Princeton feito ontem, o sr. disse que Gore e Bush não deveriam entrar com ações na Justiça. Obviamente, o recado foi dado a Gore, do seu próprio partido. Gore deveria desistir?
Robert Torricelli -
O recado não foi para Gore, mas para os dois candidatos. Quero que Gore ganhe as eleições e apóio a recontagem minuciosa dos votos na Flórida, mas acho que o processo democrático não pode sair machucado.

Folha - O sr. defende ações legais contra eventuais irregularidades na Flórida?
Torricelli -
Não. O processo judicial começaria na Flórida e não acabaria nunca mais. Vai haver argumentos jurídicos dos dois lados. O presidente dos EUA não pode ser escolhido por um juiz.

Folha - Qual é, então, o limite?
Torricelli -
Defendo a recontagem manual dos votos em Palm Beach e em outros condados. Isso não criaria um clima de instabilidade no país. (MARCIO AITH)


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