São Paulo, segunda-feira, 11 de novembro de 2002

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Bush já aprovou plano de ataque envolvendo até 250 mil militares

DO "THE NEW YORK TIMES"

O presidente dos EUA, George W. Bush, estabeleceu um plano para uma eventual guerra contra o Iraque que começaria com uma campanha aérea mais curta do que a da Guerra do Golfo (91), disseram altas fontes do governo.
O plano prevê ações rápidas em terra para tomar posições no país e isolar a liderança em Bagdá.
Aprovado nas últimas semanas por Bush, bem antes da resolução da ONU de sexta-feira, o plano prevê a mobilização de 200 mil a 250 mil militares para um ataque aéreo, terrestre e naval. A ofensiva começaria com um número bem menor de tropas envolvidas, disseram oficiais do Pentágono.
O território capturado no início do conflito serviria como base para a penetração de tropas americanas. A estratégia pretende aliviar a pressão diplomática que viria da concentração de tropas dos EUA nos países vizinhos.
As tropas dos EUA e aliados operariam a partir de bases no norte, no oeste e no sul do Iraque, usando lições aprendidas no Afeganistão, onde um posto desse tipo foi criado em Candahar.
Enquanto o Pentágono finaliza o plano de ataque, a Casa Branca e o Departamento de Estado discutem o que um alto funcionário chamou de "transição direta" do ataque à ocupação militar em partes do país. Ela incluiria esforços para distribuir alimentos aos iraquianos e envolvê-los rapidamente em planos de desenvolvimento econômico e democratização.
Enquanto isso, cientistas e militares iraquianos seriam estimulados a revelar depósitos secretos de armas de destruição em massa.
Bush, depois de vários encontros para planejar a guerra com o secretário da Defesa, Donald Rumsfeld, e o general Tommy R. Franks, comandante das forças dos EUA no golfo Pérsico, decidiu que a ação militar deve ocorrer com grandes contingentes, como queria Franks. Mesmo assim, Bush pode ainda manter sua posição formal de que nenhuma decisão foi tomada porque ainda não ordenou a guerra.
Mesmo enquanto os inspetores de armas da ONU se preparam para viajar ao Iraque, os EUA estão entrando numa nova fase de posicionar forças logísticas, indício significativo de um movimento em direção a uma guerra.
O Exército está enviando rebocadores e empilhadeiras a um enorme navio de carga na costa da Virgínia destinado ao Golfo para preparar portos na região para a chegada de tanques e outros equipamentos militares.
Equipamentos pesados recentemente enviados à região permanecerão no Golfo enquanto as inspeções ocorrerem. Mas tropas e navios enviados para exercícios militares ou viagens de rotina podem voltar caso as inspeções ocorram sem problemas.
O plano ainda tem partes indefinidas, mas membros do governo afirmam que serão necessários de 200 mil a 250 mil militares americanos. O único aliado que deve contribuir substancialmente com tropas terrestres é o Reino Unido.
"Há opções dentro do plano, mas há apenas um plano. Eles concordaram com o principal", disse um oficial, ressalvando que o plano de guerra mantém flexibilidade sobre o envio de tropas para responder à reação iraquiana.
Segundo o plano, a campanha aérea seria mais curta do que os 43 dias da Guerra do Golfo, durando provavelmente menos de um mês.
No início, aviões da Marinha e da Força Aérea, incluindo bombardeiros B-2, com 16 bombas guiadas de uma tonelada, e B-1, com 24 dessas bombas, atacariam alvos como defesas aéreas e centros de comando. Apenas 9% das bombas usadas na Guerra do Golfo eram guiadas. Agora, o número seria maior do que 60%, permitindo um bombardeio mais efetivo com menos aeronaves.
A campanha buscaria isolar rapidamente a liderança em Bagdá e em outros pouco importantes centros de comando na esperança de causar um rápido colapso do regime de Saddam Hussein.
Como no Afeganistão, forças especiais se infiltrariam no país no início da campanha para escolher os alvos, eliminar armas de destruição em massa e tomar instalações estratégicas para impedir que Saddam detenha o assalto dos EUA com ações como incendiar vastos campos petrolíferos.
Com o objetivo de liberar o país do regime de Saddam rapidamente, a ofensiva tentaria não repetir a vasta destruição ocorrida na guerra de 1991, evitando destruir importantes serviços urbanos e alienar a população local, e encorajaria a deserção de tropas iraquianas. Os alvos dos bombardeios seriam os pilares de poder, como sedes do governo e os enormes palácios presidenciais.
"Apesar de não desejarmos matar muitos soldados iraquianos, se eles lutarem de forma estúpida, nós o faremos", disse um militar.
O Pentágono quer evitar batalhas urbanas sangrentas, mas Saddam já se mostrou um adversário perverso, e membros da administração lançaram uma campanha para advertir os comandantes militares iraquianos de que eles serão processados por crimes de guerra se usarem armas de destruição em massa. Na semana passada, Bush sugeriu que Saddam pode deliberadamente sacrificar a população iraquiana para manchar a vitória militar dos EUA com sangue civil.
"Os generais no Iraque devem entender claramente que haverá consequências pelo seu comportamento", disse Bush. Segundo observadores do Iraque, Saddam está preparando milhares de voluntários civis para "brigadas de mártires".



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