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AMÉRICA LATINA
Juízes dizem sofrer intimidação política; decisão agrava crise provocada por greve geral contra Chávez
Supremo da Venezuela alega assédio e pára
DA REDAÇÃO
A Suprema Corte da Venezuela
anunciou ontem a suspensão de
seus trabalhos. O tribunal alegou
"assédio político" contra seus
membros e condenando a violência que deixou três mortos durante a greve geral iniciada no dia 2
para forçar o presidente Hugo
Chávez a aceitar um referendo sobre seu mandato.
A decisão foi tomada apenas
uma semana após a Assembléia
Nacional (Congresso) ter aprovado o afastamento do vice-presidente do TSJ (Tribunal Supremo
de Justiça), Franklin Arrieche, alegando que ele não estava qualificado para o trabalho. Antes de
anunciar a suspensão, a corte
anulou a decisão do Legislativo.
O governo não se manifestou
imediatamente sobre a questão.
Segundo o presidente do tribunal, Alberto Martínez, o TSJ só
funcionará para os casos de urgência. "Até que terminem as práticas de ataque e intimidação e
existam as condições necessárias,
vamos nos abster de participar de
atividades que não tenham a ver
com o mínimo necessário para
garantir o acesso à Justiça", disse.
Martínez citou, entre os casos
de amedrontamento, uma suposta investigação sobre juízes que
estaria sendo feita pela polícia política (Disip), denunciada por deputados de oposição.
A decisão indica que Chávez
perdeu o controle do TSJ, cujos
membros foram indicados por ele
após a reforma da Constituição,
em 1999. As primeiras mostras de
perda do controle do presidente
sobre o Judiciário haviam sido dadas em agosto, quando o TSJ anulou um processo contra quatro
militares acusados de participar
do golpe frustrado que o tirou do
poder por dois dias, em abril.
Na ocasião, Chávez chamou a
decisão de "absurda" e acusou os
juízes do TSJ de corrupção.
A decisão tomada ontem pela
corte acirra as tensões no país,
após nove dias de greve geral, que
praticamente paralisou a produção e a exportação de petróleo,
produto que responde por 80%
das vendas externas do país.
O agravamento da crise havia
levado o governo a oferecer, anteontem, segundo o secretário-geral da OEA (Organização dos
Estados Americanos), César Gaviria, a possibilidade de negociar
um cronograma para "uma saída
eleitoral".
Em uma entrevista a jornais espanhóis, Gaviria disse que "a saída eleitoral é a única solução não-traumática que tem o país".
Segundo Gaviria, a organização
opositora Coordenação Democrática disse que consideraria a
proposta, mas advertiu que ela somente seria viável se o governo
aceitasse um cronograma de antecipação das eleições para o primeiro trimestre do ano que vem.
O presidente alega que a Constituição, aprovada por ele em 1999,
só permite a realização de uma
consulta popular a partir de agosto do ano que vem, quando seu
mandato chega à metade. Segundo as pesquisas, cerca de 65% dos
venezuelanos votariam contra
Chávez em um referendo.
Após a morte de três pessoas em
um tiroteio durante uma manifestação contra Chávez na sexta-feira, em Caracas, alguns líderes
opositores passaram a exigir a renúncia imediata do presidente.
Até agora, ninguém foi acusado
formalmente pelas mortes.
O ministro do Interior, Diosdado Cabello, refutou anteontem a
possibilidade de renúncia de Chávez e disse que o governo adotará
"medidas legais" para defendê-lo,
o que poderia indicar a possibilidade de um estado de exceção.
Com agências internacionais
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