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INTERNET
Justiça abre precedente ao permitir que australiano processe, em seu país, um site americano que o atacou em artigo
Austrália autoriza ação contra site dos EUA
OTÁVIO DIAS
DA REDAÇÃO
A Alta Corte da Austrália concedeu a um empresário australiano
o direito de mover um processo
de indenização na Austrália contra um site de internet baseado
nos Estados Unidos responsável
pela publicação de um artigo supostamente difamatório envolvendo o autor da ação judicial.
O máximo tribunal rejeitou um
apelo do grupo internacional de
mídia Dow Jones & Co. -que
publica, entre outros, o "Wall
Street Journal", um dos mais influentes dos EUA- cujo objetivo
era impedir o prosseguimento do
processo na Justiça australiana.
O autor da ação é o empresário
de mineração Joseph Gutnick,
que considera ter sido difamado
ao ser incluído em um esquema
fraudulento de ações e lavagem de
dinheiro em artigo publicado no
site da revista "Barron's".
A decisão dá a Gutnick o direito
de processar em seu Estado natal,
Vitória, na Austrália, o grupo
Dow Jones, sediado em Nova Jersey (EUA), responsável pelo site.
A questão central é se o tribunal
adequado para analisar o processo deveria ser o de Nova Jersey,
onde o site da "Barron's" está sediado, ou o de Vitória (Austrália),
onde reside o empresário e onde o
texto foi lido por diversas pessoas
que o conheciam.
Gutnick elogiou a decisão do
máximo tribunal australiano:
"Agora, eles terão de ser muito
cuidadosos com o que publicam
na Internet, que não é diferente de
um jornal normal".
Em nota, o grupo Dow Jones
criticou a decisão: "O resultado
significa que o grupo terá de se
defender numa jurisdição que é
muito distante do país onde o artigo surgiu e onde se encontra a
grande maioria dos leitores de
"Barron's'". O grupo preferia se
defender do processo nos EUA,
onde a Constituição é bastante liberal em relação a processos que
envolvem liberdade de expressão.
Segundo o promotor Rodrigo
Canellas Dias, 38, do Grupo de
Repressão ao Crime Organizado
da Promotoria de Justiça de São
Paulo, a decisão é um alerta para a
necessidade de se estabelecer uma
legislação internacional para crimes de informática. "É a forma
mais globalizada de crime, e não
há regras internacionais para coibi-la. A Alta Corte de um país importante como a Austrália estabeleceu um precedente", disse.
Os advogados do Dow Jones argumentaram que, ao permitir o
processo, a Alta Corte abriria uma
jurisprudência que poderia fazer
com que qualquer notícia publicada na internet se tornasse sujeita a sofrer ações legais em países
com legislações tão distintas como Afeganistão e Zimbábue. E
que isso teria um impacto negativo na liberdade de expressão.
Mas os juízes rejeitaram a tese:
"Em todos os casos, exceto nos
muito inusuais, identificar a pessoa sobre a qual o material se refere será suficiente para determinar
qual legislação será a adequada
para basear um processo". A decisão não entrou no mérito da ação
indenizatória propriamente dita.
Diante da importância da decisão, o tribunal convidou 18 organizações de peso do setor de internet a se manifestarem, entre elas
os grupos AOL Time Warner,
Amazon.com, Associated Press,
Bloomberg LP, Reuters e Yahoo.
"É uma decisão que mexe numa
questão crucial para os crimes da
área de informática, que é a de
quem tem competência para julgá-los", disse Canellas Dias, que
tem trabalhado em inquéritos criminais relacionados à internet.
"O crime de informática muitas
vezes tem um efeito à distância,
ou seja, é praticado em um lugar,
mas tem efeito em outro. No caso
em questão, o artigo foi publicado
nos EUA, mas repercutiu na Austrália. Parece-me correta a argumentação de que a reputação do
empresário teria sido atingida na
cidade onde ele mora e atua", disse o promotor.
Com agências internacionais
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