São Paulo, segunda-feira, 11 de dezembro de 2006

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Defensores e detratores vão às ruas de Santiago

Confronto entre os que celebravam e a polícia termina com quatro presos e seis feridos

Reações foram apaixonadas diante da sede presidencial e do hospital onde Pinochet morreu, mas maioria na capital mostrou indiferença

RODRIGO RÖTZSCH
EM SANTIAGO

Entre os admiradores de Augusto Pinochet, luto, tranqüilidade e alguma indignação. Entre os detratores, comemoração que descambou em conflito com a policia. Entre os demais chilenos, indiferença. Foi esse o clima em Santiago ontem, dia em que o homem que comandou uma ditadura no país por 17 anos morreu, aos 91 anos.
Diante da notícia, o Partido Comunista convocou uma marcha rumo ao palácio presidencial de La Moneda.
No caminho, cerca de 3.000 manifestantes celebravam com bandeiras do partido e do país e cartazes de "assassino". Já na praça da Cidadania, em frente ao palácio, alguns tentaram forçar a entrada em La Moneda. Os policiais fecharam as portas da sede do governo, e os manifestantes arremessaram pedras. A polícia reagiu com gás lacrimogêneo e jatos d'água.
A confusão durou 45 minutos, e como saldo ficaram placas caídas, vitrines quebradas e sinais de trânsito pifados. Quatro pessoas foram detidas, e seis policiais acabaram feridos.
Antes, o tom era de entusiasmo. "Vou aonde a marcha for para celebrar a morte de Pinochet. Foi um homem muito mal", disse Ana Pérez, 37, que levava os dois filhos. "É o dia mais feliz da minha vida."
No único choque entre defensores e detratores, os primeiros saíram à janela de suas casas na avenida Libertador Bernardo O'Higgins, por onde passou a marcha, para jogar água nos opositores.
Os pinochetistas escolheram como pontos de concentração o Hospital Militar, onde o general morreu às 14h15 locais, e a Escola Militar, onde seu corpo seria velado (durante o dia de hoje) e cremado (amanhã).
Diante do hospital, o clima era de calma. Centenas de pessoas, entre elas adolescentes sem idade para lembrar do regime de Pinochet, empunhavam bandeiras, cartazes e fotos.
A paz não se quebrou nem quando foi anunciado que Pinochet não teria um funeral de chefe de Estado. "É inconcebível que Pinochet, que nos livrou do comunismo, não receba as honras que merece", protestou Juan Veras, 43. Na Escola Militar, manifestantes esperavam com velas pelo corpo.
Apesar do conflito no centro e do luto na frente do hospital, o resto da capital chilena parecia ignorar que ontem morreu o ditador. Em outros bairros da cidade, as ruas vazias faziam parecer que o domingo era mais um dia comum, a não ser pelo fim de um feriado prolongado iniciado na última sexta.
A reação de grande parte dos chilenos poderia se refletir nas palavras do guia turístico Javier Lobos, 38. "No Chile, 20% das pessoas amam Pinochet. Outros 20% o odeiam". Os demais 60%, sinalizou num gesto, eram indiferentes ao ditador.


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