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Defensores e detratores vão às ruas de Santiago
Confronto entre os que celebravam e a polícia termina com quatro presos e seis feridos
Reações foram apaixonadas diante da sede presidencial e do hospital onde Pinochet morreu, mas maioria na capital mostrou indiferença
RODRIGO RÖTZSCH
EM SANTIAGO
Entre os admiradores de Augusto Pinochet, luto, tranqüilidade e alguma indignação. Entre os detratores, comemoração que descambou em conflito
com a policia. Entre os demais
chilenos, indiferença. Foi esse
o clima em Santiago ontem, dia
em que o homem que comandou uma ditadura no país por
17 anos morreu, aos 91 anos.
Diante da notícia, o Partido
Comunista convocou uma
marcha rumo ao palácio presidencial de La Moneda.
No caminho, cerca de 3.000
manifestantes celebravam com
bandeiras do partido e do país e
cartazes de "assassino". Já na
praça da Cidadania, em frente
ao palácio, alguns tentaram forçar a entrada em La Moneda.
Os policiais fecharam as portas
da sede do governo, e os manifestantes arremessaram pedras. A polícia reagiu com gás
lacrimogêneo e jatos d'água.
A confusão durou 45 minutos, e como saldo ficaram placas caídas, vitrines quebradas e
sinais de trânsito pifados. Quatro pessoas foram detidas, e
seis policiais acabaram feridos.
Antes, o tom era de entusiasmo. "Vou aonde a marcha for
para celebrar a morte de Pinochet. Foi um homem muito
mal", disse Ana Pérez, 37, que
levava os dois filhos. "É o dia
mais feliz da minha vida."
No único choque entre defensores e detratores, os primeiros saíram à janela de suas
casas na avenida Libertador
Bernardo O'Higgins, por onde
passou a marcha, para jogar
água nos opositores.
Os pinochetistas escolheram
como pontos de concentração o
Hospital Militar, onde o general morreu às 14h15 locais, e a
Escola Militar, onde seu corpo
seria velado (durante o dia de
hoje) e cremado (amanhã).
Diante do hospital, o clima
era de calma. Centenas de pessoas, entre elas adolescentes
sem idade para lembrar do regime de Pinochet, empunhavam bandeiras, cartazes e fotos.
A paz não se quebrou nem
quando foi anunciado que Pinochet não teria um funeral de
chefe de Estado. "É inconcebível que Pinochet, que nos livrou do comunismo, não receba as honras que merece", protestou Juan Veras, 43. Na Escola Militar, manifestantes esperavam com velas pelo corpo.
Apesar do conflito no centro
e do luto na frente do hospital, o
resto da capital chilena parecia
ignorar que ontem morreu o ditador. Em outros bairros da cidade, as ruas vazias faziam parecer que o domingo era mais
um dia comum, a não ser pelo
fim de um feriado prolongado
iniciado na última sexta.
A reação de grande parte dos
chilenos poderia se refletir nas
palavras do guia turístico Javier Lobos, 38. "No Chile, 20%
das pessoas amam Pinochet.
Outros 20% o odeiam". Os demais 60%, sinalizou num gesto,
eram indiferentes ao ditador.
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