São Paulo, quarta-feira, 12 de janeiro de 2005

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Prisioneiro de Abu Ghraib diz que americano se divertia ao torturar

DA REDAÇÃO

Em depoimento gravado em vídeo, um homem sírio detido na prisão iraquiana de Abu Ghraib diz que Charles Graner, 36, ex-carcereiro da prisão, era o líder das sessões de tortura ali ocorridas e se divertia ao humilhar e espancar prisioneiros.
A fita foi exibida ontem em um tribunal militar no Texas, durante sessão do julgamento de Graner por diversas acusações de maus-tratos na prisão iraquiana.
A tortura de prisioneiros foi revelada no ano passado, após a divulgação de fotografias das sessões feitas pelos próprios torturadores. Graner é o primeiro dos envolvidos a ser julgado.
No depoimento gravado, Amin al-Sheikh diz que Graner o agrediu fisicamente e o obrigou a comer carne de porco e beber álcool -condutas proibidas pela religião islâmica-, além de ameaçá-lo de morte várias vezes.
Questionado pelo interrogador se Graner parecia estar gostando de feri-lo, Al Sheikh disse, via intérprete: "Ele ria. Ele assobiava. Ele cantava".
Al Sheikh afirmou que estava no Iraque para lutar contra as forças da coalizão que invadiram o país, e que foi preso com um rifle AK-47, granadas e material para fabricação de bombas.
Ao ser levado para Abu Ghraib, ele diz que Graner pulou sobre sua perna, que havia sido ferida a bala, e bateu nela com um bastão. Diz ainda que por várias vezes Graner trazia um soldado que urinava sobre ele. Para Al Sheikh, Graner em várias ocasiões teria atuado em conjunto com os interrogadores americanos da prisão.
A estratégia da defesa de Graner é sustentar a tese de que os acusados agiam sob ordens e incentivo de oficiais superiores e agentes de inteligência, que lhes pediam para "amaciar" os prisioneiros para as sessões de interrogatório.
Segundo Guy Womack, advogado de defesa, Graner e seus colegas eram recompensados por maltratar os prisioneiros. "Quanto mais agressivos eles se tornavam, mais informações eles conseguiam, e mais elogios recebiam", afirmou.
O julgamento de Graner começou anteontem, quando foram ouvidos depoimentos de testemunhas militares e de alguns colegas de tortura do ex-carcereiro, que já se confessaram culpados.
O primeiro a testemunhar foi o soldado Matthew Wisdom, que afirma ter visto Graner ter dado um soco na cara de um dos prisioneiros. Segundo Wisdom, o soco foi dado imediatamente após Graner ter sido fotografado com o braço pronto para dar o soco.
A foto em questão, feita pelos soldados, é uma das que foram divulgadas pela imprensa e deram início ao processo dos envolvidos.
Ao ser questionado com que força Graner teria batido no prisioneiro, Wisdon disse: "Se eu fosse aquele preso, estou certo de que teria sido muito doloroso".
Outros dois soldados que participaram das sessões de tortura testemunharam ontem contra Graner. Eles já se confessaram culpados e fizeram acordos com a acusação para testemunhar contra Graner. Ambos confirmaram ter presenciado Graner espancando e humilhando prisioneiros.
Se condenado em todas as acusações, Graner pegará 17 anos e meio de prisão. O julgamento deve acabar ainda nesta semana.
Outros três militares envolvidos aguardam julgamento, entre eles a soldado Lynndie England, que em outubro deu a luz um a filho que, segundo os procuradores, é resultado de seu relacionamento com Graner.


Com agências internacionais


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