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Lula avalia que venezuelano "flerta com o autoritarismo"
Mas discurso oficial ainda é de respeito à soberania
KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o colega da
Venezuela, Hugo Chávez, comete erros político e econômico ao anunciar o plano de estatização e também ao patrocinar
emenda constitucional que
permitirá a reeleição ilimitada.
Oficialmente e por ora, o discurso de Lula e do governo brasileiro será o de respeito à soberania venezuelana. Nos bastidores, porém, Lula disse em
conversas reservadas que acha
que Chávez está ultrapassando
os limites da democracia e que
perderá apoio de setores moderados da esquerda mundial.
Para o petista, apenas alas radicais da esquerda internacional e do Brasil tenderão a idolatrar Chávez ainda mais.
Em descanso no Guarujá, o
brasileiro chegou a dizer que o
colega "flerta perigosamente
com o autoritarismo", segundo
apurou a Folha. E considerou
que, ao usar na posse do terceiro mandato o lema castrista
"socialismo ou morte", Chávez
sinaliza uma disposição de radicalizar que pode isolar a Venezuela internacionalmente.
Na visão de Lula, o plano de
estatização de empresas reduzirá os investimentos externos
na Venezuela e poderá ter efeito residual na América do Sul.
Mais: um retrocesso no crescimento econômico da Venezuela atrapalharia o objetivo lulista de maior integração entre os
países da América do Sul.
Mas é na política que Lula
acha que Chávez erra mais. O
brasileiro sempre teve uma atitude condescendente com o
venezuelano, mesmo discordando de algumas de suas posições. Para Lula, ao propor a um
Legislativo dominado por seus
partidários uma emenda constitucional para autorizar reeleição ilimitada, Chávez reforçará o argumento dos que dizem que ele planeja se perpetuar no poder como ditador.
O terceiro mandato de Chávez -o segundo sob a Constituição de 2000- vai até 2013.
Se aprovada a emenda constitucional, ele poderia ser candidato novamente à reeleição.
Em diversas reuniões reservadas, Lula pediu a Chávez moderação política. Ouvia do colega o argumento de que a oposição e a imprensa venezuelana
eram golpistas.
Em 2002, houve tentativa
frustrada de golpe contra Chávez. Dez anos antes, o próprio
Chávez participou de outra
tentativa de golpe que não obteve êxito -contra Carlos Andrés Pérez, presidente à época.
Diante das ponderações do
colega, Lula tendia a lhe dar razão. Em visita à Venezuela durante a campanha eleitoral brasileira, no ano passado, o petista disse que havia democracia
no país. Lula atacou a oposição
e a imprensa dos dois países.
Na próxima semana, Lula e
Chávez participarão da Cúpula
do Mercosul no Rio de Janeiro.
Já há preocupação no Planalto
com o tom que o presidente
brasileiro e os demais países do
bloco devem adotar em relação
aos planos de Chávez.
Manter a declaração de que
tudo é assunto interno da Venezuela poderá render internacionalmente a imagem de que o
Mercosul aprova as ações de
Chávez. Assessores internacionais do presidente estudam
forma de Lula deixar claro, sem
melindrar Chávez, que o Brasil
e a maioria dos membros do
Mercosul reprovariam eventuais abusos do venezuelano na
política e na economia.
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