São Paulo, sexta-feira, 12 de janeiro de 2007

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Lula avalia que venezuelano "flerta com o autoritarismo"

Mas discurso oficial ainda é de respeito à soberania

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva avalia que o colega da Venezuela, Hugo Chávez, comete erros político e econômico ao anunciar o plano de estatização e também ao patrocinar emenda constitucional que permitirá a reeleição ilimitada.
Oficialmente e por ora, o discurso de Lula e do governo brasileiro será o de respeito à soberania venezuelana. Nos bastidores, porém, Lula disse em conversas reservadas que acha que Chávez está ultrapassando os limites da democracia e que perderá apoio de setores moderados da esquerda mundial.
Para o petista, apenas alas radicais da esquerda internacional e do Brasil tenderão a idolatrar Chávez ainda mais.
Em descanso no Guarujá, o brasileiro chegou a dizer que o colega "flerta perigosamente com o autoritarismo", segundo apurou a Folha. E considerou que, ao usar na posse do terceiro mandato o lema castrista "socialismo ou morte", Chávez sinaliza uma disposição de radicalizar que pode isolar a Venezuela internacionalmente.
Na visão de Lula, o plano de estatização de empresas reduzirá os investimentos externos na Venezuela e poderá ter efeito residual na América do Sul. Mais: um retrocesso no crescimento econômico da Venezuela atrapalharia o objetivo lulista de maior integração entre os países da América do Sul.
Mas é na política que Lula acha que Chávez erra mais. O brasileiro sempre teve uma atitude condescendente com o venezuelano, mesmo discordando de algumas de suas posições. Para Lula, ao propor a um Legislativo dominado por seus partidários uma emenda constitucional para autorizar reeleição ilimitada, Chávez reforçará o argumento dos que dizem que ele planeja se perpetuar no poder como ditador.
O terceiro mandato de Chávez -o segundo sob a Constituição de 2000- vai até 2013. Se aprovada a emenda constitucional, ele poderia ser candidato novamente à reeleição.
Em diversas reuniões reservadas, Lula pediu a Chávez moderação política. Ouvia do colega o argumento de que a oposição e a imprensa venezuelana eram golpistas.
Em 2002, houve tentativa frustrada de golpe contra Chávez. Dez anos antes, o próprio Chávez participou de outra tentativa de golpe que não obteve êxito -contra Carlos Andrés Pérez, presidente à época.
Diante das ponderações do colega, Lula tendia a lhe dar razão. Em visita à Venezuela durante a campanha eleitoral brasileira, no ano passado, o petista disse que havia democracia no país. Lula atacou a oposição e a imprensa dos dois países.
Na próxima semana, Lula e Chávez participarão da Cúpula do Mercosul no Rio de Janeiro. Já há preocupação no Planalto com o tom que o presidente brasileiro e os demais países do bloco devem adotar em relação aos planos de Chávez.
Manter a declaração de que tudo é assunto interno da Venezuela poderá render internacionalmente a imagem de que o Mercosul aprova as ações de Chávez. Assessores internacionais do presidente estudam forma de Lula deixar claro, sem melindrar Chávez, que o Brasil e a maioria dos membros do Mercosul reprovariam eventuais abusos do venezuelano na política e na economia.


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