São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2000


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REINO UNIDO
Recusa do IRA em entregar armas é principal causa do retrocesso no processo de paz da região
Assembléia norte-irlandesa é suspensa

FÁBIO ZANINI
de Londres

Durou exatos 72 dias a experiência de uma Assembléia (Parlamento) regional na Irlanda do Norte. Ontem, após o fracasso de tensas negociações dos governos do Reino Unido e da República da Irlanda com lideranças protestantes e católicas da Irlanda do Norte, o secretário de Estado britânico para a região, Peter Mandelson, suspendeu, por tempo indeterminado, a Assembléia em Belfast.
Isso significa que todas as áreas que, desde 2 de dezembro, eram controladas pela Assembléia -como educação, saúde e turismo- voltam a ser responsabilidade do governo britânico.
A razão principal da crise no processo de paz é a inexistência de sinais concretos do IRA (Exército Republicano Irlandês, grupo terrorista católico) de que pretende entregar seu arsenal.
A falta de progresso no desarmamento foi constatada na semana passada por uma comissão internacional. Uma nova fase de negociações deve ocorrer, ainda sem data marcada.
Há o temor de que, agora, conflitos que deixaram 3.600 mortos nos últimos 30 anos voltem a fazer parte do dia-a-dia da região.
A instalação da Assembléia, bem como o desarmamento de grupos paramilitares, faz parte do Acordo de Sexta-Feira Santa, de 1998.
O acordo foi firmado por protestantes unionistas (defensores da manutenção da Irlanda do Norte integrada ao Reino Unido) e católicos (republicanos, favoráveis à união da Irlanda do Norte à República da Irlanda).
A Assembléia era dirigida por um Executivo com igual representação de católicos e protestantes. Ela fica "congelada" enquanto não houver novo acordo.
"Tomo a decisão de suspender a Assembléia com pesar, mas não havia alternativa. Espero que novas negociações levem a uma solução para o desarmamento de uma vez por todas", disse Mandelson.
Se a Assembléia não tivesse sido suspensa, o primeiro-ministro da Irlanda do Norte, o unionista David Trimble, ameaçava renunciar ao cargo, em encontro hoje de seu partido, o maior da região.
"Estamos tristes pelo fato de a suspensão ter ocorrido, mas os republicanos forçaram essa situação, ao não cumprirem com sua palavra", afirmou Trimble.
Já os republicanos acusaram o governo britânico de ceder a uma "chantagem".
"O desarmamento está caminhando. O governo, em vez de levar isso em conta, capitulou aos unionistas", disse Gerry Adams, presidente do Sinn Fein, o braço político do IRA.


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