|
Texto Anterior | Índice
REINO UNIDO
Recusa do IRA em entregar armas é principal causa do retrocesso no processo de paz da região
Assembléia norte-irlandesa é suspensa
FÁBIO ZANINI
de Londres
Durou exatos 72 dias a experiência de uma Assembléia (Parlamento) regional na Irlanda do
Norte. Ontem, após o fracasso de
tensas negociações dos governos
do Reino Unido e da República da
Irlanda com lideranças protestantes e católicas da Irlanda do Norte,
o secretário de Estado britânico
para a região, Peter Mandelson,
suspendeu, por tempo indeterminado, a Assembléia em Belfast.
Isso significa que todas as áreas
que, desde 2 de dezembro, eram
controladas pela Assembléia
-como educação, saúde e turismo- voltam a ser responsabilidade do governo britânico.
A razão principal da crise no
processo de paz é a inexistência
de sinais concretos do IRA (Exército Republicano Irlandês, grupo
terrorista católico) de que pretende entregar seu arsenal.
A falta de progresso no desarmamento foi constatada na semana passada por uma comissão internacional. Uma nova fase de negociações deve ocorrer, ainda
sem data marcada.
Há o temor de que, agora, conflitos que deixaram 3.600 mortos
nos últimos 30 anos voltem a fazer parte do dia-a-dia da região.
A instalação da Assembléia,
bem como o desarmamento de
grupos paramilitares, faz parte do
Acordo de Sexta-Feira Santa, de
1998.
O acordo foi firmado por protestantes unionistas (defensores
da manutenção da Irlanda do
Norte integrada ao Reino Unido)
e católicos (republicanos, favoráveis à união da Irlanda do Norte à
República da Irlanda).
A Assembléia era dirigida por
um Executivo com igual representação de católicos e protestantes. Ela fica "congelada" enquanto
não houver novo acordo.
"Tomo a decisão de suspender a
Assembléia com pesar, mas não
havia alternativa. Espero que novas negociações levem a uma solução para o desarmamento de
uma vez por todas", disse Mandelson.
Se a Assembléia não tivesse sido
suspensa, o primeiro-ministro da
Irlanda do Norte, o unionista David Trimble, ameaçava renunciar
ao cargo, em encontro hoje de seu
partido, o maior da região.
"Estamos tristes pelo fato de a
suspensão ter ocorrido, mas os
republicanos forçaram essa situação, ao não cumprirem com sua
palavra", afirmou Trimble.
Já os republicanos acusaram o
governo britânico de ceder a uma
"chantagem".
"O desarmamento está caminhando. O governo, em vez de levar isso em conta, capitulou aos
unionistas", disse Gerry Adams,
presidente do Sinn Fein, o braço
político do IRA.
Texto Anterior: África: Ataque a escola mata 14 crianças no Sudão Índice
|