São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 2001

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HOLOCAUSTO

Tecnologia da empresa foi utilizada em campos de concentração

IBM é acusada de auxiliar nazistas

BARNABY J. FEDER
DO "THE NEW YORK TIMES"

Advogados que representaram vítimas do nazismo em ações contra bancos, companhias de seguro e fábricas européias nos últimos cinco anos agora voltaram suas baterias contra executivos da empresa norte-americana IBM.
Em uma ação protocolada anteontem numa corte federal do Brooklyn, em Nova York, advogados sustentam que a IBM, a maior companhia de computadores do mundo, tem responsabilidade no modo como o Terceiro Reich usou sua tecnologia de processamento de dados.
A ação afirma que a IBM forneceu aos nazistas tecnologia que sabia poder "facilitar a perseguição e o genocídio".
A ação foi proposta de modo a coincidir com o lançamento, hoje, de um livro que explora as ligações da IBM com os nazistas. Nos últimos anos, advogados de vítimas do Holocausto já conseguiram obter cerca de US$ 7 bilhões de reparações de empresas que tiveram ligações com o nazismo.
A IBM se recusou a comentar tanto o livro como a ação judicial, mas enfatizou que o uso pelos nazistas de máquinas de tabular fornecidas pela Dehomag, a subsidiária alemã da IBM, é conhecido há décadas e faz até parte do Museu Memorial do Holocausto, em Washington.
"Como centenas de empresas estrangeiras que faziam negócios com a Alemanha naqueles tempos, a Dehomag caiu sob o controle de autoridades nazistas antes e durante a Segunda Guerra Mundial", disse Carol Makovich, porta-voz da IBM.
A ação judicial, feita em nome de sobreviventes de campos de concentração, pede reparações da IBM com base nos "lucros obtidos por suas violações à lei internacional". Também pede que a empresa torne públicos seus registros sobre o período. A IBM diz que já doou os arquivos às universidades de Nova York e de Hohenheim, em Stuttgart (Alemanha).
Os advogados argumentam que Thomas Watson, presidente da IBM de 1915 a 1956, e outros altos executivos da empresa em Nova York nada fizeram para impedir os nazistas de usar tecnologia da IBM, porque queriam proteger seus lucros.
A ação afirma que os executivos sabiam ou deveriam saber onde a tecnologia estava sendo usada, pois a companhia utilizava mais o sistema de leasing do que o de vendas. A IBM também fazia a manutenção das máquinas.
As máquinas foram usadas nos censos alemães de 1933 e 1939, na organização de operações civis e militares e, segundo documentos anexados na ação, na administração de campos de concentração.
Como outras ações de violações a direitos humanos, contenciosos relativos ao Holocausto frequentemente enfrentam o problema de falta de provas. Mas a sensibilidade das multinacionais à propaganda negativa e, em alguns casos, a vergonha por atividades do passado podem levar a um acordo de indenização.
A Deutsche Hollerith Maschinen Gesellschaft, como a Dehomag era conhecida, foi fundada por Willy Heidinger em 1910 para explorar a tecnologia inventada pelo norte-americano Hermann Hollerith.
A Primeira Guerra deixou a Dehomag afundada em dívidas, dando à IBM -então chamada de Computing Tabulating Recording Company- a oportunidade de comprar 90% de suas ações.
Depois disso, a tecnologia de Hollerith foi controlada pela IBM norte-americana. Não há provas de que os executivos em Nova York ordenaram que a tecnologia fosse fornecida aos alemães sabendo que seria usada em campos de concentração nazistas.
Quando a Dehomag inaugurou uma fábrica em Berlim, em 1934, porém, Heidinger fez um discurso em que disse orgulhar-se de ter dado a Hitler informações úteis para realizar "intervenções corretivas" e prometeu "seguir suas ordens cegamente".


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