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HOLOCAUSTO
Tecnologia da empresa foi utilizada em campos de concentração
IBM é acusada de auxiliar nazistas
BARNABY J. FEDER
DO "THE NEW YORK TIMES"
Advogados que representaram
vítimas do nazismo em ações
contra bancos, companhias de seguro e fábricas européias nos últimos cinco anos agora voltaram
suas baterias contra executivos da
empresa norte-americana IBM.
Em uma ação protocolada anteontem numa corte federal do
Brooklyn, em Nova York, advogados sustentam que a IBM, a
maior companhia de computadores do mundo, tem responsabilidade no modo como o Terceiro
Reich usou sua tecnologia de processamento de dados.
A ação afirma que a IBM forneceu aos nazistas tecnologia que
sabia poder "facilitar a perseguição e o genocídio".
A ação foi proposta de modo a
coincidir com o lançamento, hoje,
de um livro que explora as ligações da IBM com os nazistas. Nos
últimos anos, advogados de vítimas do Holocausto já conseguiram obter cerca de US$ 7 bilhões
de reparações de empresas que tiveram ligações com o nazismo.
A IBM se recusou a comentar
tanto o livro como a ação judicial,
mas enfatizou que o uso pelos nazistas de máquinas de tabular fornecidas pela Dehomag, a subsidiária alemã da IBM, é conhecido
há décadas e faz até parte do Museu Memorial do Holocausto, em
Washington.
"Como centenas de empresas
estrangeiras que faziam negócios
com a Alemanha naqueles tempos, a Dehomag caiu sob o controle de autoridades nazistas antes e durante a Segunda Guerra
Mundial", disse Carol Makovich,
porta-voz da IBM.
A ação judicial, feita em nome
de sobreviventes de campos de
concentração, pede reparações da
IBM com base nos "lucros obtidos por suas violações à lei internacional". Também pede que a
empresa torne públicos seus registros sobre o período. A IBM diz
que já doou os arquivos às universidades de Nova York e de Hohenheim, em Stuttgart (Alemanha).
Os advogados argumentam que
Thomas Watson, presidente da
IBM de 1915 a 1956, e outros altos
executivos da empresa em Nova
York nada fizeram para impedir
os nazistas de usar tecnologia da
IBM, porque queriam proteger
seus lucros.
A ação afirma que os executivos
sabiam ou deveriam saber onde a
tecnologia estava sendo usada,
pois a companhia utilizava mais o
sistema de leasing do que o de
vendas. A IBM também fazia a
manutenção das máquinas.
As máquinas foram usadas nos
censos alemães de 1933 e 1939, na
organização de operações civis e
militares e, segundo documentos
anexados na ação, na administração de campos de concentração.
Como outras ações de violações
a direitos humanos, contenciosos
relativos ao Holocausto frequentemente enfrentam o problema
de falta de provas. Mas a sensibilidade das multinacionais à propaganda negativa e, em alguns casos, a vergonha por atividades do
passado podem levar a um acordo de indenização.
A Deutsche Hollerith Maschinen Gesellschaft, como a Dehomag era conhecida, foi fundada
por Willy Heidinger em 1910 para
explorar a tecnologia inventada
pelo norte-americano Hermann
Hollerith.
A Primeira Guerra deixou a Dehomag afundada em dívidas,
dando à IBM -então chamada
de Computing Tabulating Recording Company- a oportunidade
de comprar 90% de suas ações.
Depois disso, a tecnologia de
Hollerith foi controlada pela IBM
norte-americana. Não há provas
de que os executivos em Nova
York ordenaram que a tecnologia
fosse fornecida aos alemães sabendo que seria usada em campos de concentração nazistas.
Quando a Dehomag inaugurou
uma fábrica em Berlim, em 1934,
porém, Heidinger fez um discurso em que disse orgulhar-se de ter
dado a Hitler informações úteis
para realizar "intervenções corretivas" e prometeu "seguir suas ordens cegamente".
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