São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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IRAQUE SOB TUTELA

Filhos do engenheiro Vasconcellos Jr., seqüestrado há 24 dias, dizem que o pior é a falta total de informação

Silêncio angustia família de seqüestrado

ADRIANA CHAVES
DA SUCURSAL DO RIO

A falta de contato é a "maior angústia" da família do engenheiro brasileiro João José de Vasconcellos Jr., seqüestrado no Iraque há 24 dias.
"Mesmo com a demora do contato, a gente está aguardando ansiosamente a volta do meu pai, para poder até comemorar o aniversário dele, que está chegando [24/2]. A família sabe que a questão do tempo é complicada. Passa muito tempo, e a gente vê seqüestro que leva uma semana, duas semanas, mas estamos otimistas sempre, acreditando", disse Rodrigo de Vasconcellos, 24.
Ele e o irmão Gustavo, 16, apareceram ontem pela primeira vez em público desde que o pai foi capturado pelo grupo Esquadrões al Mujahidin. Eles deram entrevista em sua casa num condomínio na Barra da Tijuca (zona oeste do Rio). A mulher do engenheiro, Teresa, e a filha do meio, Tatiana, 21, não compareceram por estarem muito abaladas.
Apesar do otimismo, Rodrigo considera inevitável fazer relações entre o seqüestro do pai e o de outros estrangeiros no Iraque, que acabaram assassinados. "Cada caso é um caso, mas não tem como não associar uma coisa à outra. A gente fica com medo de ter o mesmo desfecho, mas até que tem conseguido levar isso bem."
A falta de informações também aflige o irmão Luiz Henrique. "Essa é a nossa maior angústia. O que a gente mais gostaria de ter é uma garantia. Isso é que traz agonia para a família, o fato de não ter uma imagem, não ter alguma coisa que ele possa falar e sabermos que foi ele mesmo quem falou. Mas a gente renova a esperança de que ele esteja vivo."
Luiz Henrique ressaltou que a situação do engenheiro é diferente da encontrada por brasileiros que trabalhavam na Mendes Júnior e que ficaram retidos no Iraque em 1990. "A gente não sabe qual entidade está do outro lado. Antes era uma ditadura. Hoje não se sabe quem está do outro lado e o que pode ser feito. O Iraque hoje são xeques tribais, não tem uma entidade reconhecida."
Vasconcellos foi seqüestrado perto de Beiji (250 km ao norte de Bagdá), quando trabalhava em uma obra da construtura Odebrecht, que, junto com o Itamaraty, negocia sua libertação. Desde então, a mulher e os filhos do engenheiro estavam recolhidos no interior de São Paulo e só retornaram ao Rio anteontem, devido ao início do ano letivo.
Segundo Rodrigo, a decisão de retomar as atividades normais foi compartilhada por toda a família. "Não tem muito como se preparar. Dentro do possível, todos nós lá em casa estamos levando muito bem. Já estamos conversando sobre essa volta há uma semana e a gente sabe que vai ser difícil."
Ele contou que os primeiros dias após o seqüestro foram os piores. "Nas primeiras 72 horas, dormi oito horas ao todo. Ficamos todos muito abalados. Minha mãe até hoje não consegue assistir ao telejornal."
"Meu pai é um brasileiro com muito orgulho de seu país, de sua cultura. Sua ida ao Iraque foi por motivo profissional. A gente ficou receoso no começo, pelo fato de ser um país em guerra. Logo no início, ele começou a trazer para nós um lado do Iraque que a gente não conhecia, um pouco da cultura local e como o povo lida com essa situação toda, a pressão toda. Isso acabou acalmando bastante a família", disse Rodrigo.
Ele disse que o último contato dos dois foi na véspera do seqüestro. "Eu estava na varanda com minha mãe e levei a câmara para mostrar o pôr-do-sol e ele respondeu "pôr-do-sol a gente também tem, família só de vez em quando"."

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