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IRAQUE SOB TUTELA
Filhos do engenheiro Vasconcellos Jr., seqüestrado há 24 dias, dizem que o pior é a falta total de informação
Silêncio angustia família de seqüestrado
ADRIANA CHAVES
DA SUCURSAL DO RIO
A falta de contato é a "maior angústia" da família do engenheiro
brasileiro João José de Vasconcellos Jr., seqüestrado no Iraque há
24 dias.
"Mesmo com a demora do contato, a gente está aguardando ansiosamente a volta do meu pai,
para poder até comemorar o aniversário dele, que está chegando
[24/2]. A família sabe que a questão do tempo é complicada. Passa
muito tempo, e a gente vê seqüestro que leva uma semana, duas semanas, mas estamos otimistas
sempre, acreditando", disse Rodrigo de Vasconcellos, 24.
Ele e o irmão Gustavo, 16, apareceram ontem pela primeira vez
em público desde que o pai foi
capturado pelo grupo Esquadrões
al Mujahidin. Eles deram entrevista em sua casa num condomínio na Barra da Tijuca (zona oeste
do Rio). A mulher do engenheiro,
Teresa, e a filha do meio, Tatiana,
21, não compareceram por estarem muito abaladas.
Apesar do otimismo, Rodrigo
considera inevitável fazer relações
entre o seqüestro do pai e o de outros estrangeiros no Iraque, que
acabaram assassinados. "Cada caso é um caso, mas não tem como
não associar uma coisa à outra. A
gente fica com medo de ter o mesmo desfecho, mas até que tem
conseguido levar isso bem."
A falta de informações também
aflige o irmão Luiz Henrique. "Essa é a nossa maior angústia. O que
a gente mais gostaria de ter é uma
garantia. Isso é que traz agonia
para a família, o fato de não ter
uma imagem, não ter alguma coisa que ele possa falar e sabermos
que foi ele mesmo quem falou.
Mas a gente renova a esperança
de que ele esteja vivo."
Luiz Henrique ressaltou que a
situação do engenheiro é diferente da encontrada por brasileiros
que trabalhavam na Mendes Júnior e que ficaram retidos no Iraque em 1990. "A gente não sabe
qual entidade está do outro lado.
Antes era uma ditadura. Hoje não
se sabe quem está do outro lado e
o que pode ser feito. O Iraque hoje
são xeques tribais, não tem uma
entidade reconhecida."
Vasconcellos foi seqüestrado
perto de Beiji (250 km ao norte de
Bagdá), quando trabalhava em
uma obra da construtura Odebrecht, que, junto com o Itamaraty, negocia sua libertação. Desde então, a mulher e os filhos do
engenheiro estavam recolhidos
no interior de São Paulo e só retornaram ao Rio anteontem, devido ao início do ano letivo.
Segundo Rodrigo, a decisão de
retomar as atividades normais foi
compartilhada por toda a família.
"Não tem muito como se preparar. Dentro do possível, todos nós
lá em casa estamos levando muito
bem. Já estamos conversando sobre essa volta há uma semana e a
gente sabe que vai ser difícil."
Ele contou que os primeiros
dias após o seqüestro foram os
piores. "Nas primeiras 72 horas,
dormi oito horas ao todo. Ficamos todos muito abalados. Minha mãe até hoje não consegue
assistir ao telejornal."
"Meu pai é um brasileiro com
muito orgulho de seu país, de sua
cultura. Sua ida ao Iraque foi por
motivo profissional. A gente ficou
receoso no começo, pelo fato de
ser um país em guerra. Logo no
início, ele começou a trazer para
nós um lado do Iraque que a gente
não conhecia, um pouco da cultura local e como o povo lida com
essa situação toda, a pressão toda.
Isso acabou acalmando bastante a
família", disse Rodrigo.
Ele disse que o último contato
dos dois foi na véspera do seqüestro. "Eu estava na varanda com
minha mãe e levei a câmara para
mostrar o pôr-do-sol e ele respondeu "pôr-do-sol a gente também
tem, família só de vez em quando"."
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