São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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ÁSIA

Um dia após anunciar que tem armas atômicas, Pyongyang repete que só aceita negociar diretamente com Washington

EUA rejeitam exigência norte-coreana

DA REDAÇÃO

Um dia após anunciar ao mundo que possui armas atômicas, a Coréia do Norte exigiu ontem negociações diretas com os Estados Unidos para discutir seu programa nuclear, fora das conversações mantidas desde 2003, que envolvem, além dos dois países, Coréia do Sul, Japão, China e Rússia. A exigência norte-coreana, já repetida no passado, foi prontamente rejeitada por Washington.
"Há muitas oportunidades para a Coréia do Norte falar diretamente conosco no contexto das conversações dos seis lados", disse Scott McClellan, porta-voz da Casa Branca. "Não é um assunto entre a Coréia do Norte e os Estados Unidos. É um assunto regional, um assunto que tem impacto sobre seus vizinhos."
A demanda por contatos cara a cara com os americanos foi feita nesta sexta-feira em entrevista a um jornal de Seul, capital da Coréia do Sul, pelo embaixador norte-coreano nas Nações Unidas, Han Sang Ryol. "Se os Estados Unidos se moverem na direção de um diálogo direto conosco, poderemos entender [o gesto] como um sinal de que estão mudando sua política hostil", disse Han ao jornal "Hankyoreh". "Nós voltaremos às conversações dos seis países quando virmos um motivo para fazê-lo e as condições estiverem maduras".
O anúncio feito por Pyongyang anteontem, que confirmou uma desconfiança que prevalecia havia anos entre os especialistas, causou preocupação mundial e deu origem a uma série de condenações e apelos de moderação, sobretudo dos outros cinco participantes das conversações. O Japão, que está ao alcance dos mísseis norte-coreanos, voltou a pedir ontem que o vizinho voltasse às negociações, mas não deu mostras de que mudará uma lei que cria barreiras comerciais a embarcações norte-coreanas em seus portos, prevista para vigorar a partir de março.
"Entendo que o clamor para que sejam impostas sanções esteja crescendo, disse o primeiro-ministro japonês, Junichiro Koizumi, "mas primeiro temos de exortá-los a voltar às negociações." Parte da opinião pública do Japão ainda guarda ressentimentos em relação à Coréia do Norte por causa do seqüestro de japoneses feito pelo país nos anos 70 e 80, para treinar espiões.
A Coréia do Norte, um dos países mais fechados do mundo, justificou a decisão de deixar as negociações multilaterais alegando que a política do governo de George W. Bush tem o objetivo de derrubar o regime comunista de King Jong-il. Bush, que em 2002 incluiu o país no que chamou de "eixo do mal", ao lado de Irã e Iraque, disse em seu último Discurso sobre o Estado da União, dia 20 de janeiro, estar comprometido com o fim da tirania no mundo, sem citar os norte-coreanos.
O porta-voz da Casa Branca repetiu ontem o que a secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, dissera no dia anterior: Washington não tem intenção de atacar o país. "A Coréia do Norte não tem motivos para acreditar que qualquer país queira atacá-la", disse Scott McClellan. "Há uma proposta que abre caminho para que a Coréia do Norte elimine seu programa de armas nucleares e melhore suas relações com a comunidade internacional."
Há dois anos a Coréia do Norte busca o diálogo direto com os EUA, numa tentativa de elevar seu status internacional e para não ter de lidar com vizinhos cada vez mais tensos com seu programa nuclear. Mas a Casa Branca rejeita um contato bilateral como o feito pelo governo de Bill Clinton, que levou, em 1994, a um acordo em que Pyongyang se comprometeu a congelar suas ambições nucleares em troca de concessões econômicas. A crise atual começou no fim de 2002, quando os norte-coreanos admitiram ter um programa de enriquecimento de urânio, em clara violação ao acordo de 1994.


Com agências internacionais

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