São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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AMÉRICA LATINA

Ataques deixam ao menos 47 militares mortos em dez dias; ministro da Defesa diz que ações são "contratempo"

Uribe enfrenta a maior ofensiva das Farc

CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO

Em meio a uma meagaofensiva do governo da Colômbia para desmontar suas estruturas, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) lançaram uma onda de ataques contra alvos militares no país, colocando em questão a política de segurança do presidente Álvaro Uribe.
Nos últimos dez dias, foram ao menos 47 os militares mortos em ataques contra bases e quartéis em zonas tradicionalmente controladas pela guerrilha terrorista de esquerda.
No caso mais sangrento, na última quarta-feira, 19 soldados morreram após combate com terroristas em Mutatá (noroeste). Em conseqüência, o chefe da 17ª Brigada do Exército, general Héctor Fandiño, responsável pela região, deixou ontem o cargo.
"Sem dúvida nenhuma, esses ataques são os mais importantes no governo Uribe pelo número de mortos e por terem sido consecutivos", disse à Folha o analista militar colombiano Alfredo Rangel, ex-assessor presidencial de Segurança Nacional (1998-2002).
Segundo Rangel, as Farc realizaram, nos dois primeiros anos do governo Uribe, 900 ataques -quase o mesmo número registrado nos quatro anos de Andrés Pastrana (907). "Foram ataques pequenos, mas que mostram que as Farc não estiveram inativas."
"O novo nos ataques recentes é sua dimensão, que mostra que as Farc conservam praticamente intacta sua capacidade militar", disse Rangel, para quem começou o fim da retirada "voluntária e planejada" da guerrilha.
"As Farc devem reativar de maneira gradual outras frentes, com ataques similares, podendo culminar numa ofensiva de ações simultâneas em distintas partes do país, para lograr maior impacto psicológico e político, o que pode piorar com a aproximação da campanha eleitoral e das eleições presidenciais [em maio de 2006]", disse Rangel, que preside a Fundação Segurança e Democracia.
A questão é que os ataques ocorrem mais de um ano depois do início do Plano Patriota, apresentado como a maior ofensiva da história colombiana contra os terroristas. O objetivo do plano, que empregaria até 16 mil militares, é retomar os Departamentos (Estados) de Caquetá, Guaviare, Meta e Putumaio, no sul, alguns dos quais são controlados pelas Farc há 20 anos, além de desmontar a cúpula do grupo.
Em balanço recente sobre os últimos cinco meses do plano, o ministro da Defesa, Jorge Uribe, adotou tom otimista e disse que as Forças Armadas vinham recuperando o território nacional.
Mas, em dezembro, as Farc anteciparam que reagiriam, em nota na internet: "Os combates contra o Plano Patriota (...) passarão da resistência ao ataque".
Diante de apelos de oposicionistas para que renuncie, o ministro tentou ontem diminuir a importância dos ataques. "São um contratempo dentro de um processo", disse Uribe, em Bruxelas. "O governo colombiano continuará o processo de erosão da fortaleza desses grupos, é uma batalha que irá até o final."
Para o presidente Uribe, a contra-ofensiva acontece num momento político delicado, em que seu governo sofre intensa pressão interna e externa por outro tema espinhoso, a desmobilização de grupos paramilitares.
Com a perspectiva de uma reeleição no pleito de 2006, convém ao presidente manter a imagem de sucesso de sua política de "linha dura" no combate ao conflito armado que aflige o país há 40 anos, o que até agora lhe garantiu altas taxas de popularidade.
"As Farc fazem ataques com objetivos políticos. Que estejamos discutindo se a política de segurança está indo bem ou não é parte dos objetivos desses ataques", disse o senador uribista Rafael Pardo, ex-ministro da Defesa (1991-94).


Com agências internacionais

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