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AMÉRICA LATINA
Ataques deixam ao menos 47 militares mortos em dez dias; ministro da Defesa diz que ações são "contratempo"
Uribe enfrenta a maior ofensiva das Farc
CAROLINA VILA-NOVA
DA REDAÇÃO
Em meio a uma meagaofensiva
do governo da Colômbia para
desmontar suas estruturas, as
Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) lançaram
uma onda de ataques contra alvos
militares no país, colocando em
questão a política de segurança do
presidente Álvaro Uribe.
Nos últimos dez dias, foram ao
menos 47 os militares mortos em
ataques contra bases e quartéis
em zonas tradicionalmente controladas pela guerrilha terrorista
de esquerda.
No caso mais sangrento, na última quarta-feira, 19 soldados morreram após combate com terroristas em Mutatá (noroeste). Em
conseqüência, o chefe da 17ª Brigada do Exército, general Héctor
Fandiño, responsável pela região,
deixou ontem o cargo.
"Sem dúvida nenhuma, esses
ataques são os mais importantes
no governo Uribe pelo número de
mortos e por terem sido consecutivos", disse à Folha o analista militar colombiano Alfredo Rangel,
ex-assessor presidencial de Segurança Nacional (1998-2002).
Segundo Rangel, as Farc realizaram, nos dois primeiros anos do
governo Uribe, 900 ataques
-quase o mesmo número registrado nos quatro anos de Andrés
Pastrana (907). "Foram ataques
pequenos, mas que mostram que
as Farc não estiveram inativas."
"O novo nos ataques recentes é
sua dimensão, que mostra que as
Farc conservam praticamente intacta sua capacidade militar", disse Rangel, para quem começou o
fim da retirada "voluntária e planejada" da guerrilha.
"As Farc devem reativar de maneira gradual outras frentes, com
ataques similares, podendo culminar numa ofensiva de ações simultâneas em distintas partes do
país, para lograr maior impacto
psicológico e político, o que pode
piorar com a aproximação da
campanha eleitoral e das eleições
presidenciais [em maio de 2006]",
disse Rangel, que preside a Fundação Segurança e Democracia.
A questão é que os ataques
ocorrem mais de um ano depois
do início do Plano Patriota, apresentado como a maior ofensiva da
história colombiana contra os terroristas. O objetivo do plano, que
empregaria até 16 mil militares, é
retomar os Departamentos (Estados) de Caquetá, Guaviare, Meta e
Putumaio, no sul, alguns dos
quais são controlados pelas Farc
há 20 anos, além de desmontar a
cúpula do grupo.
Em balanço recente sobre os últimos cinco meses do plano, o ministro da Defesa, Jorge Uribe,
adotou tom otimista e disse que as
Forças Armadas vinham recuperando o território nacional.
Mas, em dezembro, as Farc anteciparam que reagiriam, em nota
na internet: "Os combates contra
o Plano Patriota (...) passarão da
resistência ao ataque".
Diante de apelos de oposicionistas para que renuncie, o ministro
tentou ontem diminuir a importância dos ataques. "São um contratempo dentro de um processo", disse Uribe, em Bruxelas. "O
governo colombiano continuará
o processo de erosão da fortaleza
desses grupos, é uma batalha que
irá até o final."
Para o presidente Uribe, a contra-ofensiva acontece num momento político delicado, em que
seu governo sofre intensa pressão
interna e externa por outro tema
espinhoso, a desmobilização de
grupos paramilitares.
Com a perspectiva de uma reeleição no pleito de 2006, convém
ao presidente manter a imagem
de sucesso de sua política de "linha dura" no combate ao conflito
armado que aflige o país há 40
anos, o que até agora lhe garantiu
altas taxas de popularidade.
"As Farc fazem ataques com objetivos políticos. Que estejamos
discutindo se a política de segurança está indo bem ou não é parte dos objetivos desses ataques",
disse o senador uribista Rafael
Pardo, ex-ministro da Defesa
(1991-94).
Com agências internacionais
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