São Paulo, sábado, 12 de fevereiro de 2005

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REALEZA

Ao anunciar seu casamento, príncipe vê o filho William superá-lo em pesquisa

Charles se desgasta como sucessor

ÉRICA FRAGA
DE LONDRES

O preço da aprovação dos britânicos ao casamento do príncipe Charles, 56, com Camilla Parker-Bowles, 57, pode acabar saindo alto para o primogênito da rainha Elizabeth 2ª e herdeiro natural do trono. De forma crescente -e agora majoritária- a população britânica rejeita a idéia de que ele um dia se torne rei, preferindo que Charles, se necessário, abdique em favor de William, 22, seu filho mais velho com Diana.
Uma pesquisa realizada anteontem -dia do anúncio da união de Charles e Camilla- para o jornal "Daily Telegraph" indicou claramente essa tendência. Questionados sobre quem gostariam que sucedesse à rainha, 41% dos britânicos responderam William -ligeira vitória sobre Charles, que contou com a preferência de 37% dos entrevistados.
Em novembro de 2002, uma pesquisa semelhante apontara que Charles ainda contava com a aprovação de 48% dos britânicos, contra 28% de William.
A divisão atual dos "votos" entre pai e filho pode parecer contraditória se for considerado que, entre as mesmas pessoas entrevistadas anteontem, 65% disseram apoiar o casamento de Charles com Camilla. Mas para os especialistas em monarquia britânica não há nada estranho.
Eles têm uma explicação simples para a aparente discrepância. Dizem que os britânicos aprovam a união do casal -que mantém um romance há mais de 30 anos- porque reconhecem que eles se amam, caso contrário não teriam permanecido juntos depois de tantos anos, escândalos e empecilhos. Levam em conta também razões morais, já que Charles e Camilla vivem juntos.
"Para muitos, o fato de que Camilla vivia como amante de Charles não é legítimo. Em parte, é por isso que aprovam o casamento", disse à Folha o especialista em família real Hugh Peskett.
Mas, segundo ele, nada anula o amor dos britânicos por Diana, primeira mulher de Charles. Eles não perdoam o príncipe de Gales por ter traído a mulher -de quem acabou se divorciando em 1996- com Camilla. Lady Di fazia questão de apontar Camilla como o pivô do fracasso de seu matrimônio e chegou a afirmar em uma entrevista que existiam "três pessoas no casamento", o que, segundo ela, o tornara "muito lotado".
"Diana era muito popular e muitas pessoas se ressentem com o fato de que ele [Charles] a traiu. Agora, para piorar, ele está se casando com a mulher com quem traiu Diana", afirmou Peskett.
Embora Diana também tenha sido infiel a Charles, a imagem que ficou dela foi de vítima. Sua trágica morte, em 1997, em um acidente de carro, contribuiu para aprofundar essa situação.
Nesse contexto, a idéia de William -que, além de parecido com Diana e simpático, tem fama de bom moço- como sucessor ao trono, cada vez mais agrada aos britânicos. Especialistas afirmam que é cedo para saber para que lado a balança penderá depois de consumado o casamento e de Camilla ser avaliada pela população como duquesa da Cornuália, título real que receberá.
O correspondente da BBC especializado na realeza britânica, Nicholas Witchell, afirmou que esse era um passo arriscado para a família real, que, segundo ele, olhará cuidadosamente como a opinião pública evoluirá agora.

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