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AMÉRICAS
Diplomatas temem escalada provocada por frases a favor de direitos humanos expostas na missão americana em Havana
Slogans acirram rancor entre EUA e Cuba
MARC FRANK
DO "FINANCIAL TIMES"
As relações já frágeis entre EUA
e Cuba estão se tornando ainda
mais tensas em razão de uma disputa bizarra que começou com
uma placa eletrônica sendo instalada na fachada lateral da missão
dos EUA em Havana.
O display eletrônico, que tem 1,5
metro de altura e se espalha por
25 janelas do quinto andar do prédio da missão, vem divulgando
um fluxo constante de frases de líderes anticomunistas e defensores dos direitos humanos. Sua primeira mensagem apareceu em 16
de janeiro, em letras vermelhas:
"Tenho um sonho de que algum
dia esta nação vai se erguer", de
um célebre discurso de Martin
Luther King Jr. em 1963.
Os cubanos reagiram erguendo
outdoors em torno do edifício da
missão, que, segundo Cuba, tem
vínculos com terroristas anticubanos em várias regiões.
O tráfego em torno da missão,
que faz frente com a pitoresca
avenida de beira-mar de Havana,
vem sendo desviado há várias semanas, e, a 150 metros de distância da entrada do prédio, o chamado "tribunal antiimperialista",
um enorme palco ao ar livre, passou a centralizar vários eventos
políticos e culturais cubanos.
Enquanto isso, o display eletrônico continua a difundir na noite
de Havana mensagens de direitos
humanos e chamados pela democracia feitos por personalidades
diversas, incluindo líderes de revoltas contra o comunismo em
países do Leste Europeu, como o
ex-presidente polonês Lech Walesa e o líder tcheco Vaclav Havel.
O ditador cubano, Fidel Castro,
não está contente com a situação.
"O único objetivo desse lixo é provocar a destruição de nossas tênues relações -como se nós precisássemos delas", declarou Fidel.
No final de janeiro, o presidente
liderou uma passeata de mais de 1
milhão de pessoas que passou em
frente à missão.
Fidel afirma que os EUA protegem os ex-agentes da CIA exilados Orlando Bosch e Luis Posada
Carriles, a quem Havana acusa de
ter cometido vários atos terroristas, incluindo o atentado a bomba
contra um avião cubano ao largo
da costa de Barbados, em 1976,
que matou as 73 pessoas a bordo.
Bosch hoje vive em Miami, tendo
sido perdoado por outros crimes.
Carriles entrou nos EUA ilegalmente no ano passado e, desde
então, está detido por uma acusação menor de imigração ilegal.
"Quem abriga um terrorista é terrorista", diz um dos outdoors de
Havana, citando o presidente
americano, George W. Bush.
Declarando que a missão americana tornou-se "o quartel-general da contra-revolução", Fidel
restringiu os movimentos dos diplomatas americanos e reprimiu
a dissidência interna. Nesta semana, o governo bloqueou a visão do
display eletrônico, que descreveu
como "pérfida provocação", com
dezenas de bandeiras negras.
"Seria realmente hilário, se as
consequências não fossem potencialmente tão sérias", comentou
um diplomata americano. "A impressão é que nenhum dos lados
está pensando seriamente em onde tudo isso pode terminar."
Cuba diz que as bandeiras representam mais de 3.400 pessoas
que teriam sido mortas ao longo
dos anos em incidentes de violência patrocinados pelos EUA.
Enquanto isso, os EUA insistem
que democracia e direitos humanos são as questões em jogo em
suas relações contenciosas com
"o regime totalitário de Fidel".
"Estamos apenas tentando nos
comunicar com a população cubana, e vamos continuar a fazê-lo", disse o diplomata americano
de mais alto escalão na ilha, Michael Parmly, falando do display
eletrônico.
A administração Bush vem tratando a ilha de governo comunista com especial agressividade,
tendo expulsado 14 diplomatas
cubanos, intensificado as sanções,
limitado os contatos em todos os
níveis e ordenado a seus diplomatas que tratem Fidel Castro com
escárnio público e dêem apoio a
seus adversários.
Wayne Smith, que abriu a missão americana durante o governo
do presidente Jimmy Carter, diz
que a administração Bush quer
provocar o fechamento das Seções de Interesses abertas em 1977
para tratar de questões referentes
a vistos e outros trâmites administrativos.
Tradução de Clara Allain
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