São Paulo, sexta-feira, 12 de março de 2004

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SUSPEITOS

Governo do premiê fez grande ofensiva contra os bascos e apóia EUA no Iraque

Aznar era inimigo de ETA e Al Qaeda

DA REDAÇÃO

O grupo terrorista basco ETA e um grupo terrorista islâmico ligado à Al Qaeda (a responsável pelo 11 de Setembro) eram os maiores suspeitos de terem cometido os atentados de ontem em Madri.
Ambos têm motivos para o ataque. O ETA sofreu duros golpes no governo de José María Aznar, que apóia com vigor a "guerra ao terrorismo" dos EUA e a invasão e a ocupação do Iraque.
A repressão ao ETA deixou o grupo praticamente acéfalo. Suas lideranças históricas estão na prisão. Os dirigentes que as substituíram também foram presos. Para o pesquisador francês William Genieys, 40, especialista em Espanha no CNRS (Centro Nacional da Pesquisa Científica) e professor da Universidade de Montpellier, caso se comprove que ela está por trás dos atentados de ontem, a autoria deve ser atribuída a células dispersas que tentam se impor por meio da radicalização.
O modus operandi do ETA até agora não incluía a prática de atentados suicidas e raramente visava o público em geral. Os alvos mais comuns sempre foram políticos que se opõem à independência basca e as forças de segurança.
Dan Plesch, da Universidade de Londres, acredita ser bem mais verossímil uma ação do ETA do que da Al Qaeda, que procuraria renascer depois de ondas de prisão que vitimaram seus líderes.
O ETA foi fundado em 1959 como um movimento de oposição ao regime franquista. Em 1968, começou a realizar atentados terroristas que, sem contar os ataques de ontem, já deixaram mais de 800 mortos. Em 1998, o grupo decretou uma trégua, que durou 14 meses, até 2000, ano em que houve o recrudescimento da violência. A partir de 2001, as ações tornaram-se raras. No ano passado, apenas três pessoas foram mortas em ataques do grupo.
Fundamental para o sucesso da ofensiva contra o ETA foi a cooperação que o governo francês passou a dar à Espanha em anos recentes. A região basca francesa servia de abrigo a líderes do ETA devido à relutância de Paris em colaborar com Madri.

Terror islâmico
As Brigadas de Abu Hafs al Masri, que reivindicaram a autoria de grandes atentados nos últimos meses, se apresentaram como autoras dos ataques aos trens.
Em carta enviada ao jornal árabe sediado em Londres "Al Quds Al Arabi", dizem: "Conseguimos nos infiltrar no coração da Europa e atingir um dos principais pilares da aliança dos cruzados, a Espanha", uma referência ao forte apoio do premiê José María Aznar ao presidente dos EUA, George W. Bush, tanto na invasão do Iraque, em março, quanto na chamada guerra ao terror. A legitimidade da carta não foi confirmada.
No documento (leia a carta ao lado), o grupo ainda faz ameaças a outros aliados de Washington, como Reino Unido, Japão e Itália. "Onde está a América agora? Quem os protegerá de nós?". Em outro trecho, o texto diz que um grande ataque contra os EUA está no estágio final de preparação.
As Brigadas haviam assumido, anteriormente, a autoria do duplo ataque contra sinagogas em Istambul (Turquia), que matou 23 em novembro, e do atentado contra a sede da ONU em Bagdá, que em agosto passado matou 23 pessoas -entre elas o brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Em nenhuma vez, ela foi comprovada.
Na ocasião do ataque na Turquia, o grupo ameaçou promover atentados em países aliados aos EUA: "Dizemos ao criminoso Bush e a seus lacaios entre os árabes e os estrangeiros, em particular a Reino Unido, Itália, Austrália e Japão: vocês verão carros da morte com seus próprios olhos".
Na carta de ontem, ameaçam o Iêmen e o Paquistão, que colaboram com os EUA na guerra ao terror. O nome das Brigadas vem de Abu Hafs, codinome de um parente do saudita Osama bin Laden (o líder da Al Qaeda) morto em um ataque dos EUA no Afeganistão, no fim de 2001.


Com agências internacionais

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